Artigos - Globalismo
Eclesiastes 2, 9.
Na edição de inverno da revista "Azure Magazine" (2009, No. 35), Yigal Liverant faz uma análise penetrante da Rússia contemporânea ao mesmo tempo que traça a vida intelectual e a ascensão política Aleksandr Dugin - influente populista russo, autor de 16 livros de filosofia e política, proponente do autoritarismo, imperialismo russo, suspeição em torno da democracia liberal, e guerra ao Ocidente.
A escolha de Liverant por Dugin como a imagem coletiva das tendências intelectuais e políticas da Rússia não foi acidental. Como afirma Liverant, Dugin e a sua filosofia não são "um episódio insignificante da história intelectual russa; pelo contrário, ela reflete a tendência dominante da cultura e política russa atual. Se nós queremos entender o zeitgeist que prevalece na Rússia de hoje, é essencial nós nos familiarizarmos com este pensador que expressa os sentimentos mais íntimos de muitos dos seus conterrâneos e dos líderes do país."
Liverant explica o aparecimento de Dugin na vida política e pública da Rússia como resultado do colapso da União Soviética. A euforia que se seguiu após a queda do comunismo, diz Liverant, foi rapidamente superada pelo decepção, insegurança e desespero. Para muitos russos, o alcance global e o poder da URSS eram uma fonte de orgulho que, durante uma década, transformou-se em desespero e humilhação. A Rússia dos anos 1990 nada mais foi que uma sombra do "Império do Mal" que havia sido.
Durante os anos 1990, e início do novo século, o sentimento de tragédia nacional e decadência mantido pelos russos foi adicionalmente agravado pelas ações militares dos americanos sobre os seus aliados - Sérvia e Iraque - que demonstraram uma profunda falta de respeito pelo Kremlin.
A humilhação, diz Liverant, resultou num nacionalismo feroz, direccionado não só às antigas repúblicas da extinta URSS - Ucrânia e Estados Bálticos - mas também às minorias étnicas, aos judeus e ao Ocidente.
"Sobrepujados pela confusão, frustração e nostalgia pela sua antiga glória, a Rússia era um terreno fértil para a xenofobia e descontentamento nacionalista" escreve Liverant. Este ambiente causou o aparecimento de movimentos radicais e de ativistas, sendo o mais talentoso e mais brilhante deles, segundo Liverant, Aleksandr Dugin.
Místico, fascista, nacionalista russo e imperialista, seguidor do filósofo francês René Guénon, Trubetskoy e Gumilev, Dugin encontrou terreno fértil para as suas ideias e aspirações políticas sob o regime de Vladimir Putin.
Combinando a teoria da "ethnoses" de Gumilev, segundo a qual a Rússia é um super-ethnos, criado a partir da síntese de eslavos, mongóis, tártaros, fino-húngaros, e outros pequenos grupos étnicos, com outras teorias geopolíticas, Dugin vê a Rússia como um poder euroasiático em ascensão. Os seus sonhos em torno do seu místico "nacional-bolchevismo” (nome que ele deu à sua ideologia) receberam popularidade que coincidiram com o renovado sentido de progresso na Rússia, atingido durante a liderança autoritária de Putin.
"Aleksandr Dugin tem todos os motivos para se sentir profundamente satisfeito", termina assim o ensaio de Yigal Liverant. Perante os seus olhos, a ideologia que ele desenvolveu sob o nome de "tradicionalismo", "nacional-bolchevismo" e "euroasianismo", está a tornar-se a linha oficial do governo russo. Ele [Yigal] está perfeitamente certo em afirmar que "Putin está a tornar-se cada vez mais como Dugin."
Este outrora obscuro intelectual é, agora, o filófoso-chefe do "centro radical." E embora a glorioso nação russa esteja a marchar segundo a sua música, nós seremos prudentes em recordar as palavras de Isaiah Berlin - pensador que se encontra virtualmente no lado oposto a Dugin em practicamente todos os pontos - que nos avisou afirmando que "ideias que foram nutridas na quietude dos estudos dum professor podem destruir uma civilização."
Durante os anos 1990, e início do novo século, o sentimento de tragédia nacional e decadência mantido pelos russos foi adicionalmente agravado pelas ações militares dos americanos sobre os seus aliados - Sérvia e Iraque - que demonstraram uma profunda falta de respeito pelo Kremlin.
A humilhação, diz Liverant, resultou num nacionalismo feroz, direccionado não só às antigas repúblicas da extinta URSS - Ucrânia e Estados Bálticos - mas também às minorias étnicas, aos judeus e ao Ocidente.
"Sobrepujados pela confusão, frustração e nostalgia pela sua antiga glória, a Rússia era um terreno fértil para a xenofobia e descontentamento nacionalista" escreve Liverant. Este ambiente causou o aparecimento de movimentos radicais e de ativistas, sendo o mais talentoso e mais brilhante deles, segundo Liverant, Aleksandr Dugin.
Místico, fascista, nacionalista russo e imperialista, seguidor do filósofo francês René Guénon, Trubetskoy e Gumilev, Dugin encontrou terreno fértil para as suas ideias e aspirações políticas sob o regime de Vladimir Putin.
Combinando a teoria da "ethnoses" de Gumilev, segundo a qual a Rússia é um super-ethnos, criado a partir da síntese de eslavos, mongóis, tártaros, fino-húngaros, e outros pequenos grupos étnicos, com outras teorias geopolíticas, Dugin vê a Rússia como um poder euroasiático em ascensão. Os seus sonhos em torno do seu místico "nacional-bolchevismo” (nome que ele deu à sua ideologia) receberam popularidade que coincidiram com o renovado sentido de progresso na Rússia, atingido durante a liderança autoritária de Putin.
"Aleksandr Dugin tem todos os motivos para se sentir profundamente satisfeito", termina assim o ensaio de Yigal Liverant. Perante os seus olhos, a ideologia que ele desenvolveu sob o nome de "tradicionalismo", "nacional-bolchevismo" e "euroasianismo", está a tornar-se a linha oficial do governo russo. Ele [Yigal] está perfeitamente certo em afirmar que "Putin está a tornar-se cada vez mais como Dugin."
Este outrora obscuro intelectual é, agora, o filófoso-chefe do "centro radical." E embora a glorioso nação russa esteja a marchar segundo a sua música, nós seremos prudentes em recordar as palavras de Isaiah Berlin - pensador que se encontra virtualmente no lado oposto a Dugin em practicamente todos os pontos - que nos avisou afirmando que "ideias que foram nutridas na quietude dos estudos dum professor podem destruir uma civilização."
Da The Montreal Review – Leia o artigo de Yigal Ligerant na Azure Online.
Comentário do blog O Marxismo Cultural:
Nacionalismo, socialismo, ódio às minorias, autoritarismo, crença na superioridade racial, intenções imperialistas e busca duma glória perdida.
Onde é que vimos este filme antes?
“Nós somos socialistas e inimigos do sistema econômico capitalista atual, feito para a exploração dos economicamente frágeis – com seus salários injustos, com a sua indecorosa avaliação do ser humano de acordo com a riqueza e a propriedade, em vez da responsabilidade e desempenho. Estamos determinados a destruir este sistema a todo custo.”
(Discurso de Adolf Hitler em 1º de maio de 1927, citado por Toland, 1976, página 306.)
Pois é.
Apesar da imensidão de evidências que demonstram que o nacional-socialismo e o atual nacional-bolchevismo são ideologias esquerdistas, existe ainda um considerável número de pessoas que fica chocada quando apresentamos evidências históricas que demonstram o que já foi dito pelo Padre Paulo Ricardo: o fascismo é o filho bastardo do comunismo.
O próprio fato do ex-líder da KGB - Vladimir Putin - estar a promover o nacional-bolchevismo, da mesma forma que o auto-identificado socialista Hitler promoveu o nacional-socialismo, deveria ser evidência suficiente para nos apercebermos que, longe de serem movimentos distantes do esquerdismo, os mesmos são consequência do mesmo.
A alternativa é colocar a hipótese do ex-agente da KGB (N. do E.: aqui o blogueiro se equivoca. Segundo declarou o próprio Putin, não existe um “ex-KGB”.)pura e simplesmente ter abandonado o seu esquerdismo, o que não faz sentido nenhum.
Aquilo que os esquerdistas querem é o poder e para obtê-lo estão dispostos a defender duas posições totalmente contraditórias em dois países vizinhos (ou até no mesmo país). A Internacional Socialista e a "guerra de classes" não apelavam ao povo alemão, e como tal o esquerdista Hitler usou ao nacionalismo e a raça. Semelhantemente, Putin apercebeu-se que o nacionalismo é-lhe mais útil como manobra de união nacional.
Não deixa também de ser curioso o fato da ascensão de Hitler ao poder ter algumas semelhanças com a ascensão de Putin ao poder. Do mesmo modo que a geração alemã pós-Primeira Guerra ter sofrido a humilhação do "acordo" de paz que foi celebrado após o fim do conflito, a Rússia pós-URSS era uma nação humilhada, enfraquecida e uma sombra de si.
Longe de ser o Grande Urso, temido por todo o mundo, os seus grandes inimigos - os americanos - avançaram virtualmente sem oposição com a sua agenda política nas áreas que outrora eram de influência exclusiva dos russos.
A área cultural revela também a forma como a elite russa estrategicamente rejeita as ideologias ocidentais atuais.
As recentes legislações de São Petersburgo - e de outras partes da Rússia que visam limitar a propaganda homossexualista - não se prendem assim tanto com a "santidade" dos russos (este é um país onde 60% de todas as gestações terminam com um aborto, lembre-se) mas sim com o fato da cultura homossexual estar identificada com a elite do Ocidente atual. O mesmo se passa com o feminismo.
Não é que a elite russa seja contra estas ideologias (afinal, a KGB promoveu-as por todo o mundo, especialmente nos EUA); o que se passa é que, atualmente, a elite russa não precisa delas.
Devido a isso, e como estes movimentos foram criados única e exclusivamente para desestabilização social, os russos proíbem-nas como forma de manter a ordem.
Se daqui há 10 ou 20 anos a elite esquerdista russa conseguir retirar dividendos políticos com a promoção da agenda homossexual e da agenda feminista, sem dúvida que eles adotarão o mesmo tipo de legislação pro-homossexual e pró-feminista que está a ser forçada nos países da Europa Ocidental.
Escrito por Montreal Review e blog O Marxismo Cultural
10 Setembro 2012
Da Editoria MSM:
Adquira na biblioteca do Seminário de Filosofia o novo lançamento da Vide Editorial, Os EUA e a Nova Ordem Mundial, debate histórico entre o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, fundador e editor-chefe do Mídia Sem Máscara, com o cientista político russo Aleksandr Dugin.
Descrição:
Quais são os fatores e os atores históricos, políticos, ideológicos e econômicos que definem atualmente a dinâmica e a configuração do poder no mundo e qual a posição dos Estados Unidos da América no que é conhecido como Nova Ordem Mundial?
Essa é a pergunta que o cientista político russo Alexandre Dugin e o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho procuram responder nesse debate, que atingiu momentos acalorados e polêmicos.
Partindo de posições radicalmente diversas, cada autor esclarece como vê o atual conflito de interesses no plano internacional, elucidando quem são seus principais atores e quais as forças e objetivos envolvidos.
No final, os dois debatedores não chegam a um acordo e o grande vencedor é o leitor, que sai do debate com uma visão mais abrangente da política internacional e da luta pelo poder que está sendo travada para a formação da Nova Ordem Mundial.
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