Ao molde do tempo em que sindicatos eram sindicatos, no PT funciona assim: mexeu com um, mexeu com a categoria. E se esse “um” é tido como o garantidor da sobrevivência, por mais razão mobilize-se a elite da tropa.
Em palavras breves, sem pretensão analítica profunda, podemos resumir assim a reação da presidente Dilma Rousseff em defesa do ex-presidente Lula contra as críticas feitas em artigo pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso.
O contra-ataque poderia ser visto como uma tentativa de interditar a liberdade de opinião. Só por aqui e numa perspectiva autoritária é que se vê a exposição de um raciocínio como ofensa pessoal.
Embora perfeitamente adequada à ocasião, essa seria uma interpretação incompleta em face do real objetivo da nota da presidente para rebater o artigo “herança pesada” em que FH diz o óbvio sobre o legado de retrocesso moral e ético deixado por Lula.
Tão óbvio que há dele provas cabais. A demissão de sete ministros no primeiro ano do governo de Dilma dá testemunho substancioso a respeito.
Fosse pouco, o Supremo Tribunal Federal há um mês conta essa história três vezes por semana em todos os detalhes com transmissão direta pela televisão, fundamentação jurídica e posicionamentos contundentes.
A essa autonomia recebida pela sociedade como um legítimo resgate da legalidade, o presidente do PT dá o nome de “golpe”.
Voltemos, porém, a Dilma e sua manifestação nesse momento de profunda consternação que se abate sobre o PT e da mais aguda desmoralização ao desmonte da farsa anunciado por Lula.
O que fez a presidente? Nada demais. Divulgou uma nota em termos absolutamente razoáveis sob a concepção dela dos fatos, para defender a “herança bendita” que recebeu de Lula.
Claro que não cita o ponto principal abordado por FH, “o estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais para o futuro da nação”.
Fala sobre o crescimento da economia ─ sem desta vez associá-lo à reconstrução da credibilidade do país consolidada pelo autor que contraditava ─, sobre justiça social e sobre o reconhecimento de seu criador no cenário internacional.
Não é a verdade toda, mas ainda assim, verdades.
A presidente não incorreu em impropriedade, não desrespeitou leis, nada fez de excepcional além de resguardar o patrimônio político do grupo hoje por ela representado.
Fez, como petista, o que os correligionários de Fernando Henrique não fizeram quando o PT vendeu ─ e a sociedade comprou ─ a tese de que recebia uma “herança maldita”.
Dilma demarcou terreno e deu uma lição aos tucanos, FH aí incluído, que viveram a ilusão de enxergar nos gestos de boa educação da presidente algo além de um movimento que agregaria novos valores ─ e por consequência novos eleitores ─ ao projeto de poder do PT.
10 de setembro de 2012
DORA KRAMER, Estadão
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