"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 13 de setembro de 2011

AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO ENVOLVENDO O 911 VÃO DO ÂNGULO DOS AVIÕES AO DESABAMENTO DAS TORRES GÊMEAS

Foto: AFP

Um avião bate em uma das torres mais altas de uma das maiores cidades do mundo. Na hora, a explicação que parece mais simples é a de um acidente aéreo - hipótese levantada na manhã do dia 11 de setembro de 2001. Entretanto, a teoria só foi cogitada durante os 17 minutos entre a colisão do voo 11 da American Airlines com a Torre Norte do World Trade Center e a colisão do voo 175 com a Torre Sul do mesmo complexo. A partir daquele momento, os Estados Unidos e o mundo sabiam que estavam diante de algo muito mais complexo do que simples desastres aéreos - algo que era difícil de combater, e principalmente difícil de explicar.

Veja as principais teorias da conspiração sobre o 11/9

Tão perplexos quanto o mundo inteiro, autoridades do governo tentaram explicar ao povo americano o que havia motivado tamanha violência. Em seu primeiro discurso após os ataques, o então presidente dos EUA, George W. Bush, falou sobre terrorismo, associou-o ao islamismo, conceituou a Al-Qaeda - "está para o terrorismo assim como a máfia está para o crime" - e identificou seu líder, "um homem chamado Osama bin Laden". Por fim, Bush declarou que os EUA empregariam "todos os recursos de que dispomos (...) para impedir as ações e derrotar a rede mundial de terror".

Aos olhos de muitas pessoas, inclusive americanos, a explicação do presidente simplesmente não fazia sentido diante da dimensão dos atentados. Assim, ao longo dos últimos dez anos, surgiram diversas teorias conspiratórias sobre o que teria motivado os ataques. Algumas foram modificadas à medida que novas provas surgiam, mas todas sugeriam que o governo dos EUA tinha algum envolvimento com a tragédia.

De simples e diretas, muitas dessas teorias se tornaram mais complexas até do que a explicação oficial para os atentados. O professor emérito de ciência política Michael Barkun, da Faculdade de Maxwell de Cidadania e Relações Públicas da Universidade de Syracuse, falou ao Terra sobre as teorias conspiratórias criadas a partir do 11/9. Para ele, "essas são situações onde o efeito é enorme, mas a causa oficial não parece grande o suficiente para produzi-lo". Segundo Barlun, está por trás das teorias conspiratórias uma necessidade de explicar o mundo. Leia abaixo a entrevista completa.

Terra
- Por que as pessoas criam teorias conspiratórias?

Michael Barkun - Existem muitas razões, mas eu acredito que a maior razão é para tentar atribuir um sentido ao mundo. Obviamente, as pessoas querem que o mundo faça sentido, elas querem ser capazes de entendê-lo, e uma das coisas que as teorias conspiratórias fazem é simplificar o mundo. Elas pegam uma realidade que pode parecer caótica e complicada, e dizem que há uma causa simples. Então elas estabelecem uma causa para eventos que as pessoas não conseguem explicar satisfatoriamente de outra forma. E isso fornece um benefício psicológico para as pessoas que acreditam nessas teorias.

Terra - Ao mesmo tempo em que as teorias conspiratórias tentam explicar o mundo simplificando-o, elas parecem ser construções mentais mais complexas. Por um lado, uma teoria da conspiração é algo simples, mas por outro, parece ser difícil que uma teoria dessas seja criada. Como o senhor explica esse fenômeno?

Michael Barkun - Algumas teorias conspiratórias se tornaram bastante complexas - por exemplo, algumas das teorias que foram criadas para tentar explicar os ataques de 11/9 são muito mais complicadas do que a explicação oficial. Eu acredito que essas teorias complexas são criadas em situações onde você tem eventos em que as pessoas, pelo menos algumas, acham difícil de aceitar a explicação oficial. Porque a relação entre os efeitos - que são as coisas ruins que aconteceram - e a causa que foi dada oficialmente não é considerada aceitável ou persuasiva. O que eu quero dizer com isso é que essas são situações onde o efeito é enorme, mas a causa oficial não parece grande o suficiente para produzi-lo. Se você pegar o 11/9, por exemplo, foi um evento no qual as consequências foram tremendas. Você tem três mil pessoas mortas, parte do Pentágono destruída, enorme perda de vidas e propriedade, e você pensa "o que causou isso, segundo a explicação oficial?": 19 caras sem qualquer distinção particular usando estiletes. Algumas pessoas, eu acredito, acharam extremamente difícil de aceitar que as perdas pudessem ter sido causadas por esses 19 "ninguém", 19 pessoas das quais elas nunca haviam ouvido falar, de alguma organização sobre a qual a maioria dos americanos afirmou nunca ter ouvido falar antes de 9/11, usando armas não mais sofisticadas do que estiletes. Então, para eles, tornou-se mais satisfatório aceitar uma complicada teoria conspiratória do que aceitar a explicação oficial. A mesma coisa eu acredito que se aplicou às teorias conspiratórias que tratam sobre o assassinato do presidente John Kennedy, em 1963, onde você tem esse presidente jovem e dinâmico assassinado por Lee Harvey Oswald, que era um ninguém, um perdedor, um preguiçoso, e a ideia de que esse presidente dinâmico pudesse ser assassinado por alguém assim era algo, de novo, que eu acho que para muitas pessoas foi difícil de aceitar, e foi mais fácil para elas acreditar que alguma organização o havia matado, fosse o crime organizado, fossem os comunistas, ou outros. Então, há situações em que pode ser mais satisfatório aceitar uma complexa teoria conspiratória do que uma simples.

Terra - Em maio deste ano, os Estados Unidos mataram Osama Bin Laden, mas resolveram não mostrar as fotos do terrorista morto. O que o senhor pensa sobre isso?

Michael Barkun - Eu acredito que a impressão deles foi de que, aparentemente as imagens eram bem sangrentas, e que aquelas imagens inflamariam pelo menos algumas opiniões no mundo árabe, e que seria melhor se elas não fossem divulgadas. Meu palpite é que, mesmo que as fotos tivessem sido divulgadas, ainda haveria teorias conspiratórias, ainda haveria pessoas que diriam "esse não é realmente o corpo de Bin Laden", ou "eles alteraram as fotos", algo assim.

Terra - A morte de Osama Bin Laden teve alguma intenção - ou efeito - de mudar a opinião daqueles que acreditam em teorias conspiratórias sobre o 11 de setembro?

Michael Barkun - As pessoas que acreditam em teorias conspiratórias sobre o 11/9 - a maioria delas, pelo menos - acredita que Bin Laden não estava envolvido. Então, matar Bin Laden não teria qualquer efeito em quem acredita nessas teorias. Há pouco tempo, eu participei de um evento em Nova York sobre teorias conspiratórias do 11/9. Havia vários crentes dessas teorias na plateia, e eu posso dizer a vocês que eles acreditam tão fortemente em suas teorias conspiratórias depois da morte de Osama Bin Laden quanto acreditavam antes. Então, eu penso que sua morte não teve qualquer efeito sobre quem crê nas conspirações.

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