"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

OBAMA ME DÁ UMA PREGUIIIÇAAA...

Ou: Chalita para Jabor: “Não entendi nada, mas a-do-rei!!!”

No Jornal da Globo, anteontem, Arnaldo Jabor conseguiu ligar a morte de Steve Jobs àqueles zé-manés que protestam contra Wall Street em Nova York — não passam de uns 5 mil; a confiar em certo noticiário brasileiro, parece ser a praça Tahir… Segundo ele, Jobs era uma espécie de produto daquele espírito, da contracultura… Se não me engano, das drogas também… “Melhor ouvir isso do que ser surdo”, era o bordão de uma babá que conheci — que era surda…
O homem também aproveitou para exaltar a Primavera Árabe, que teria tudo a ver com o gênio da Apple, entendem?, e para falar mal dos republicanos. Gabriel Chalita, o novo parceiro do jornalismo isento de São Paulo, definiria assim o seu comentário: “Não entendi nada, mas a-do-rei”. E saltitaria um novo poema.

Jabor está errado, como quase sempre. Jobs e a economia da informação são fruto, “a nível sociológico e econômico”, como diria Agripina Inácia (ver post no alto), da economia da informação da era Reagan, que teve continuidade nos anos Clinton. Ele se tornou quem se tornou porque tinha talento.
O país em que se fez era uma conquista… dos republicanos! Cito a salada russa do comentário de Jabor porque ele é a voz mais ingênua de uma ilusão: as massas americanas vão às ruas para libertar a América e o mundo das garras do capitalismo financeiro — ou sei lá que outros delírios escatológicos essa gente alimenta.

Aquele negócio estava com um cheiro esquisito desde o primeiro dia. E ficou definitivamente malcheiroso quando um delinqüente intelectual chamado Michael Moore resolveu desfilar sua silhueta ente os manifestantes. Moore é uma das pessoas intelectualmente mais desonestas do mundo, como evidenciam seus filmes. É outro cineasta ruim — ele se pretende documentarista, mas só faz obras de má ficção — que se pretende um grande pensador. Sua leitura do 11 do Setembro é tão asquerosa quanto a de Mahmoud Ahmadinejad.

Mas Moore é também um militante do Partido Democrata. A coisa está feia para Obama, aquele senhor que preside os Estados Unidos e que vive acusando uma entidade abstrata chamada “Washington” de fazer as piores coisas — como se ele próprio não fosse, afinal, um dos homens de… Washington! Ontem, Obama decidiu dar uma piscadela explícita para a turma da praça. “Tivemos a maior crise financeira desde a Grande Depressão, enormes danos colaterais, e vemos os mesmos que atuaram de forma irresponsável a combater os esforços para acabar com os abusos que geraram os problemas”.

É a tese da herança maldita. Um protesto na praça, convenham, em tese, se faz contra o governo, que é, afinal, quem dispõe dos instrumentos para atuar. Ninguém disse nada contra Obama por lá. E o já candidato aproveita para dar a mão aos companheiros e atacar os… republicanos. É o método Lula. Alguém poderia dizer que FHC salvou o Brasil e que Bush afundou os EUA. Lula seria injusto com o antecessor, mas Obama só estaria fazendo justiça.

É um modo de ver as coisas. Não é o meu. Obama falhou na sua tarefa, eis a verdade. Ele quis ser presidente daquele país que havia, com os problemas conhecidos, não outro. E, no regime democrático, governa-se com oposição. Ele perdeu a maioria na Câmara porque a democracia resolveu lhe emitir um sinal: “A população está descontente”.

Obama está nervoso. Um movimento que juntasse na praça milhares, quem sabe milhões, contra o sistema financeiro, os capitalistas selvagens e os “homens de Washington” lhe parece uma oportunidade de ouro; quem sabe virasse um grande happening contra a oposição. Parece não haver republicanos por ali. Provavelmente, estão trabalhando para que aquela turma possa tocar violão.

Por Reinaldo Azevedo

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