Ex-ministro diz que FT tem razão em criticar o Brasil
05/10/11
Thais.Heredia
O artigo do blog Beyondbrics do jornal britânico Financial Times, que chamou de “hipocrisia” o aconselhamento da presidente Dilma Rousseff aos europeus, provocou um debate apaixonado e ideológico no Brasil. Na opinião do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, “O Financial Times tem toda a razão”.
“A Dilma pisou na bola sempre que falou com ares de quem dava lições aos europeus. Sua afirmação de que o ajuste fiscal não funcionou como saída para a crise dos anos 1980 demonstrou um abismal desconhecimento histórico. Ajuste fiscal no Brasil aconteceu apenas no governo FHC. Salvo esse interregno, a expansão fiscal tem sido a característica do país”, afirma o ex-ministro.
“Antes, quando muito, se evitava uma aceleração dos gastos, jamais sua redução. Isso inclui o meu tempo como ministro, quando se tornou impossível deter a avalanche de gastos provocada pela nova lei fiscal irresponsável Constituição. Nos anos 1980, a despesa pública andava por volta de 25% do PIB. Agora se aproxima dos 40% do PIB”, aponta Maílson.
Sobre a qualidade do sistema tributário do Brasil, feita pelo artigo, Maílson da Nóbrega concorda com a autora. “O sistema tributário da União Européia tem estrutura melhor e é mais socialmente justo do que o de outras regiões ricas, particularmente o americano. No lado oposto, o Brasil tem um dos piores, se não o pior, sistema tributário do mundo: mal estruturado, caótico, com carga tributária excessiva e brutalmente regressivo”, diz o ex-ministro.
“Outro deslize (da presidente) foi dizer que a crise de 2008 teve como causa a ausência de regulação. A crise derivou de um conjunto de muitas causas, entre as quais a deficiência de regulação (e não a falta dela) é apenas uma”, avalia Maílson sobre a comparação do sistema bancário do Brasil e o resto do mundo.
Muitos leitores do G1, num debate acalorado no espaço reservado aos comentários, concordam com avaliação do ex-ministro. Na opinião deles, o Brasil ainda tem muitos problemas a resolver antes de dar conselhos aos europeus. Por outro lado, outros muitos leitores se indignaram com o “insulto” e o “preconceito” contra o Brasil, identificado no artigo do jornal britânico.
Quem não se pronunciou sobre o assunto foi a própria presidente Dilma ou alguém de sua equipe. Esperava-se que pelo menos o ministro Guido Mantega falaria alguma coisa em defesa do governo. Mas nem ele apareceu. A presidente continua em viagem pela Europa e, na visita à Bulgária, voltou a falar sobre a situação dos países europeus e, novamente, sobre os efeitos das políticas adotadas pelos governos da região.
“Os países desenvolvidos que não encontraram equilíbrio entre ajuste fiscal e incentivos à economia encontram-se em uma encruzilhada. No Brasil, resistimos à crise porque apostamos no fortalecimento do mercado doméstico. (…) A crise atual tem na Grécia o ponto de mais radiação e está a exigir a ação articulada e solidária de todos os países”, disse a presidente.
Na opinião de Maílson da Nóbrega, por ação solidária, não necessariamente, entende-se dizer por onde os europeus devem sair da crise. “É discutível se um chefe de governo deve fazer críticas a outros países. Mesmo se fosse diplomaticamente correto, a crítica deveria ser correta e não externar meras visões impressionistas”, afirma.
Postado por UPEC
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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