"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

SINDICALISMO, SEM-TERRISMO, COM-TERRISMO, GAYZISMO, MACHISMO... TODA ESSA BOBAJADA AGRIDE OS VALORES UNIVERSAIS DA DEMOCRACIA

No post abaixo, digo que o deputado BBB Jean Wyllys (PSOL-RJ), a Natalie Lamour da Câmara, é uma personagem patética, mas remete a uma questão importante para a democracia. Vamos ver.

Uma das ameaças permanentes ao regime democrático - e não é só no Brasil; assim é no mundo inteiro - é ter os seus valores de caráter universal, geral, corroídos por particularismos, pelo assédio, que chamo “sindical”, das ditas minorias, dos corporativistas, daqueles que, em suma, consideram que a sua condição específica deve pautar a conduta do conjunto da sociedade. Uma coisa, obviamente, é respeitar a minoria e a divergência - e só a democracia pode fazê-lo, já que o fascismo também é um regime de maioria. Outra, diferente, é impor à maioria as idiossincrasias de uma minoria: nessa hora, direito vira sinônimo de privilégio.

Por que o voto proporcional, como existe no Brasil, é ruim? Porque os partidos têm lá seus puxadores de votos, e representantes das ditas “minorais” ou das “corporações de ofício” acabam sendo “eleitos” sem que os votantes tenham clareza disso.

O voto em lista fechada, como quer o PT, agravaria dramaticamente esse problema. Ora, esses deputados não são representantes do povo real, dos moradores de um determinado lugar, com suas necessidades e anseios. Não! Eles se colocam como porta-vozes de uma grupo: há, então, os representantes dos sem-terra, dos com-terra, das mulheres, dos gays, dos evangélicos, dos católicos, dos sindicalistas, dos empresários…

A democracia como uma valor universal vai para o vinagre por conta desses particularismos. Vejam o caso desse Jean Wyllys aí. A sua bandeira na Câmara tem sido a aprovação da tal lei que pune a homofobia. O texto conhecido - não sei a forma que lhe deu hoje Marta Suplicy - é mais uma lei de censura do que propriamente de proteção aos homossexuais. Entendo, por exemplo, que vagabundos que atacam terceiros na rua merecem ir em cana, sejam as vítimas homossexuais ou não. O texto não se justifica por aí. Isso à parte, o que se tem é pura patrulha de linguagem.

Mas volto: essa tem sido “a luta” principal de Jean Wyllys - lembro, por exemplo, que ele defendeu aquele absurdo material didático do MEC que dizia, entre outras pérolas, que o adolescente bissexual tinha 50% a mais de chance de ficar com alguém no fim de semana. Ainda que o raciocínio não fosse cretino, o certo seria 100%. Mas entendo: Jean Wyllys não sabe responder a um garoto de 10 anos quanto é 7 vezes 9… Adiante!

O deputado atacou a marcha contra a corrupção porque, segundo ele, há muitas outras corrupções das quais as pessoas não se dão conta, e elas estariam sendo apenas pautadas pela “velha mídia”. E ele até impõe condições para participar das marchas, como se elas precisassem dele…

Ora, a “velha mídia” pôs na rua quatro ministros, mais de 20 funcionários do Dnit e denunciou coisas cabeludas nos Três Poderes da República.

Wyllys deve achar que a sua “minoria” (como se ele fosse dono de uma categoria) não está devidamente atendida por essa “velha mídia”. Que importa, pois, que ela denuncie malfeitos que são do interesse de todas as pessoas de bem, inclusive dos homossexuais de bem? Para ele, tanto faz! Ou a sua pauta encabeça as manifestações e os protestos, ou ele os combate.

Entenderam? Por causa de sua pauta particular, específica, ele joga fora um valor universal do regime democrático: a decência no trato com o dinheiro público. Afinal, é isso o que estão pedindo as pessoas que saem às ruas.

Digam-me cá: por que, então, ele seria diferente de qualquer lobista, de qualquer um desses peemedebistas que chantageiam o governo dizendo: “Ou me dá isso, ou eu voto contra o governo?” Ele é igualzinho. A única diferença é que a sua causa está no rol daquelas aceitas pelo politicamente correto. Jean Wyllys se coloca como o representante de uma corporação. Renuncia a uma valor universal da democracia porque considera que a sua pauta específica não está merecendo o devido tratamento.

Como tenho 50, ele me acusa de velho. Eu o contesto não porque tenha 37, mas porque é burro. Tivesse passado menos tempo assistindo aos BBBs para saber como dar um truque nas massas e levar a bolada, talvez tivesse lido alguma coisa de útil. Quando eu era comunista (já faz tempo; afinal, sou um idoso, hehe…), censurava certos “camaradas” que “radicalizavam à esquerda para encontrar uma saída à direita”. Wyllys, a seu modo, faz mais ou menos isso. Segundo ele, a pauta de quem sai à rua é muito estreita; ele diz querer falar também de outras corrupções, até daquelas praticadas pelas pessoas no cotidiano…

Ah, bom! Não é que ele seja contra a marcha da corrupção, entenderam? É que ele decidiu radicalizar de um lado para poder sair de outro: afinal, como é impossível marchar com a sua pauta porque nem ele próprio sabe qual é, então o melhor é ficar em casa, em seu confortável apartamento funcional, ganhando os tubos do Poder Público (mesmo sem ter tido votos para isso), cercado de assessores, gozando seus dias de nababo e atacando aqueles que se atrevem a sair às ruas para, vejam só!, protestar contra a corrupção.

Ele é mais burro do que jovem! Esse truque é antigo; é um clássico da vigarice política. Não tem jeito, não, valente! Quem ataca marchas contra a corrupção está se colocando ao lado dos corruptos, queira ou não. Ocorre que o particularismo de Jean Wyllys é do tipo que vai indagar: “Mas é um corrupto a favor da lei contra a homofobia? Se for, ele é meu aliado”. Como disse Lula naquele palanque em que exaltou Sarney pouco tempo depois de que ter atacado o mesmo Sarney, “em política, a gente tem de ser leal com quem é leal com a gente”. Pouco importa a pauta, entenderam? Era o lema do Poderoso Chefão.

No alto desta página e aqui há links para o movimento “Eu Voto Distrital”. No dia em que esse sistema for implantado no Brasil, os deputados representarão os brasileiros, não as suas corporações de ofício, as suas guildas, o seu sindicato, a sua clientela.

No dia em que houver voto distrital no Brasil, certamente haverá gays no Congresso, mas eles saberão que o combate à corrupção, por ser um valor universal, é também do interesse dos gays - ao menos dos gays honestos, que não tentam transformar o Congresso num circo.
Tenha a humildade de aprender alguma coisa, bobalhão. Ser gay não é categoria de pensamento. Apenas define com quem se vai e com quem não se vai para a cama.


Por Reinaldo Azevedo

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