Enfurecida, Marta diz que o PT vai ter que "trabalhar para burro". O burro é Haddad.
A escolha da frase foi de uma precisão cirúrgica. Marta Suplicy disse: " o PT terá que trabalhar para burro", referindo-se ao erro de Lula ao determinar que o ministro da Educação, Fernando Haddad, seja o candidato do partido à prefeitura de São Paulo.
Excluída pelo PT da corrida à Prefeitura de São Paulo em 2012, a senadora Marta Suplicy afirmou ontem que a escolha do ministro Fernando Haddad (Educação) foi "um erro" do ex-presidente Lula. Ela se disse "frustrada", mas prometeu guardar os sentimentos "no armário" para apoiar o pré-candidato do partido, que ganhou a chapa sem ter que disputar prévias. "Foi um erro ser assim. Agora vamos nos empenhar muito para que se transforme num acerto", disse à Folha. Marta afirmou que o lançamento do ministro, inexperiente em eleições, deve-se apenas à vontade de Lula. E sugeriu que a presidente Dilma Rousseff se viu forçada a obedecer ao padrinho.
"Foi uma decisão do Lula. Ninguém tinha tido essa ideia brilhante", disse a ex-prefeita, em tom de ironia.
Ela se mostrou contrariada com a versão, difundida por integrantes do governo, de que teria pedido a Dilma que encenasse um apelo para justificar sua desistência. "Foi um apelo dela. Não sei se de coração ou seguindo algo combinado com o Lula." Marta afirmou que o PT precisará "trabalhar para burro" para eleger Haddad e disse não arrepender da declaração, dada em agosto, de que Lula só insistiria no ministro se quisesse perder. "Era o meu diagnóstico naquele momento. Para ser invertido? Vamos ter que trabalhar para burro", afirmou. "Vai depender bastante da militância do PT e do próprio desempenho dele. Vamos ter que nos esforçar muito."
A senadora demonstrou sentir-se traída pelos petistas que sustentavam sua pré-candidatura no partido.
O grupo era comandado pelos deputados federais Cândido Vaccarezza e José Mentor e pelo deputado estadual João Antônio. Às vésperas do anúncio da desistência, eles diziam que Marta tinha se isolado e não atendia as ligações. Ao comentar o episódio, ela sugeriu que os três pretendiam negociar uma eventual desistência em seu nome. "Eu estava dialogando com a presidente, não com eles. Eles queriam muito ser intermediários, e eu não precisava disso. Eles ficaram ofendidos porque não foram intermediários", afirmou.
A mágoa de Marta é a grande preocupação de Haddad e da cúpula petista, que dependem de sua participação para impulsionar a campanha -especialmente na periferia, onde ela é mais popular. Ao anunciar sua saída do páreo, a senadora evitou declarar apoio ao ministro. Na noite de quarta-feira, ele foi ao apartamento dela em Brasília para pedir ajuda. "Ele me pediu apoio, e eu disse que ia cooperar e me engajar na campanha", contou a ex-prefeita. O relato de Marta evidencia a desconfiança de Haddad. "Ele falou: 'Mas você vai me ajudar?' Eu falei: 'Vou. Pode contar'. Vamos fazer uma programação e eu vou me engajar na campanha." Ontem, questionada sobre as bases do apoio, ela disse que "não ficou acertado nada". "Estou a serviço. Eles vão avaliar onde eu posso ajudar. Não posso esquecer que também tenho meu trabalho como senadora, que é árduo." Sobre a insatisfação com o PT, disse: "Já virei a página. Eu queria ser candidata, fiquei frustrada por não ser.
Agora coloquei a frustração no armário e vou trabalhar. Não vou ficar emburrada". A aliados, Haddad disse ter ficado aliviado com a promessa de apoio, mesmo que sem empolgação. A cúpula do PT promove ato amanhã para homologar sua escolha como pré-candidato a prefeito.(Da Folha de São Paulo)
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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