"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

SOMENTE US$ 65 MILHÕES!!!

MESMO SEM "MARQUETINGUE" O BRASIL SEGUE "MUDANDO" : Ingresso de capital externo já sente efeitos da crise

O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos foi financiado com estreita folga em outubro.

Segundo o Banco Central, o ingresso líquido da conta de capitais foi de US$ 3,174 bilhões no mês, somente US$ 65 milhões a mais do que o Brasil precisou para cobrir suas despesas externas com comércio, serviços, transferências unilaterais e de renda (US$ 3,109 bilhões).

Esse já é um reflexo da crise europeia.

Por causa da inclusão de US$ 307 milhões a título de "erros e omissões", o resultado global do balanço de pagamentos do país, que em princípio deveria corresponder àquela diferença, foi positivo em US$ 372 bilhões.

Ainda assim, esse é o menor superávit desde fevereiro de 2009, momento em que a crise internacional afetava diretamente o ingresso de recursos no Brasil.

Com a nova piora do quadro externo, os capitais estrangeiros voltaram a escassear.
A retração foi percebida a partir de setembro, quando o resultado do balanço de pagamentos foi de US$ 808 milhões e o superávit da conta financeira e de capitais limitou-se a US$ 3,074 bilhões, quase igual a outubro.

A queda do fluxo de capitais foi substancial em relação à média dos oito primeiros meses de 2011, que alcançou US$ 11 bilhões por mês e assegurou um resultado mensal médio positivo de quase US$ 7 bilhões no balanço.

O fluxo de capitais foi fraco em outubro apesar da entrada líquida de US$ 5,55 bilhões em investimentos estrangeiros diretos (IED), cifra que superou a projetada pelo BC e elevou para US$ 56 bilhões o valor acumulado no ano.

A autoridade monetária estimava US$ 4 bilhões para o mês. Em relação tanto a setembro (US$ 6,32 bilhões) quanto a outubro de 2010 (US$ 6,79 bilhões, no entanto, o investimento direto foi mais baixo.

Houve, também, US$ 954 milhões de investimentos brasileiros diretos no exterior (IBD), o que contribuiu para reduzir o fluxo líquido de capitais em outubro. Os brasileiros remeteram ainda US$ 4,9 bilhões para concessão de empréstimos, financiamentos e constituição de depósitos fora do país.

A saída de capitais brasileiros não foi atípica. Os valores foram próximos das médias mensais do ano. A oferta de capital estrangeiro é que caiu comparativamente ao que vinha ocorrendo. Os investimentos estrangeiros em ações, que já mostravam perda de dinamismo, limitaram-se a US$ 427 milhões.

A diferença em relação ao mesmo mês de 2010, quando foram aplicados em ações US$ 14,536 bilhões, foi brutal. No acumulado de dez meses este ano, esses investimentos somaram US$ 5,4 bilhões.

Não houve ingresso de recursos externos para investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa. Ao contrário, o BC registrou uma saída de US$ 30 milhões, movimento inverso ao de igual mês de 2010, quando entraram US$ 2,238 bilhões..

O déficit em transações correntes de outubro, de US$ 3,109 bilhão, superou o de setembro, de US$ 2,2 bilhões, mas foi menor do que o do mês equivalente em 2010 por causa do aumento do saldo comercial e da redução de 14,7% nas remessas líquidas de renda, em especial de lucros e dividendos.

O déficit da balança de serviços subiu 13,8%, apesar da queda de 6,4% nas despesas líquidas com viagens internacionais. Desde setembro de 2009, esses gastos não caíam em relação a igual mês do ano anterior, destacou Fernando Rocha, chefe adjunto do Departamento Econômico do BC. Enquanto os gastos de viajantes brasileiros se acomodaram, os de estrangeiros no país seguem aumentando.

Essa acomodação reflete a crise externa e em especial a taxa de câmbio mais cara, disse Rocha. Já o efeito da crise na balança comercial vai depender do que será mais afetado, se vendas ou compras externas. As exportações tendem a subir menos com o menor crescimento mundial. Por outro lado, o menor ritmo da atividade doméstica também freia as importações.

A LCA consultores acredita que a desaceleração das exportações será mais forte. Com isso, o déficit em transacões correntes alcançaria US$ 65,9 bilhoes em 2012, ante US$ 54 bilhões projetados pelo Banco Central para 2011, nas contas da consultoria.

O movimento de câmbio financeiro na terceira semana deste mês foi deficitário. A demanda por moeda estrangeira superou a oferta em US$ 1,327 bilhão de 14 e 18 de novembro, o que representou uma inversão de sinal em relação à semana anterior.

O sinal se inverteu também no segmento comercial, que registrou superávit de US$ 1,271 bilhão nesses mesmos cinco dias. Na semana anterior (7 a 11 de novembro), o BC tinha apurado déficit de US$ 69 milhões no câmbio comercial e superávit de US$ 1,369 bilhão no segmento financeiro, que abrange os contratos relativos a movimentação de capitais e as transações correntes de rendas e serviços.

Em ambos os casos, o comportamento foi diferente do que vinha sendo verificado nos últimos dois meses pelo menos. A tendência anterior, portanto, se restabeleceu.

Mônica Izaguirre, de Brasília. Valor Econômico

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