Que fim-de-semana estranho. Tivemos a morte de um herói da democracia, dos direitos humanos e líder de um triunfo contra o comunismo soviético, o tcheco Vaclav Havel, e também a partida de um vilão que oprimia o seu povo e gerava pesadelos geopolíticos, a relíquia comunista norte-coreana Kim Jong-Il.
A morte de Havel é lamentada, motivo de reflexões sobre uma dura caminhada, mas reconfortante. Sim, as coisas podem melhorar, existem algumas primaveras de Praga. Já a morte do tirano norte-coreano, como a de um Stálin ou um Saddam Hussein, não merece lamentos. Não vamos chorar, como a apresentadora da TV que fez o anúncio do falecimento, mas vamos expressar preocupações sobre o futuro do país e da península coreana.
Kim Jong-Il matava o seu povo de fome e pancada (em contraste a seu estilo de vida nababesco e excêntrico), enquanto alimentava a neurose internacional com seu arsenal nuclelar e chantagens para conseguir assistência. Uma transição fora armada desde que o déspota sofrera um derrame em 2008, agora esta mudança de guarda deve ser abreviada.
Na monarquia comunista norte-coreana, o poder passa de pai para filho. O falecido pegara o trono do seu pai, Kim Il Sung, o fundador deste regime abjeto.
E tudo caminhava para o poder passar no ano que vem, nas celebrações apoteóticas e bizarras do centenário do nascimento do fundador desta pátria isolada, perigosa e imprevisível, para o garotão Kim Jong-Un, que tem 27 ou 28 anos e já é general.
Obviamente, o garotão é inexperiente. O que se passa lá dentro, nos intestinos do poder, é meio indecifrável, mas se acredita que o tio do garotão, Jang Song-Thaek, deva ser uma espécie de regente do trono e os militares já estejam arregimentados para esta transição.
Pela lógica, o foco norte-coreano será interno nos próximos anos, sem perspectivas de avanços nas negociações nucleares. De acordo com a empresa de inteligência global Stratfor, a curto prazo pode se apostar em uma situação tensa, porém estável. No entanto, pode haver um jogo competitivo com o potencial de gerar conflitos internos.
O risco sempre nesta hora é que estes conflitos resvalem para o exterior, com uma postura mais agressiva, ainda mais nacionalista e mais paranóica. Em uma visão alarmista, facções ou o novo poder em torno do reizinho podem recorrer a mais testes nucleares ou provocações militares para amealhar legitimidade. Nas capitais internacionais, não interessa no momento tirar proveito da situação, pois o resultado poderá ser o caos ou justamente alguma loucura militar da parte dos norte-coreanos.
A suposição é uma resposta coordenada da Coreia do Sul, China (o único patrono da Coreia do Norte), Japão, Rússia e EUA para manter alguma medida de estabilidade na situação. O tom das primeiras respostas diplomáticas da comunidade internacional justamente evita o pânico. Basta dizer que a Coreia do Sul e China não querem “administrar” o caos ou absorver repentinamente um fluxo maciço de refugiados norte-coreanos.
Neste 2011 já partiram para o além ou para a prisão tantos ditadores. As mudanças ainda não são edificantes como na Praga de Vaclav Havel.
Caio Blinder
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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