Três anos após chegar a Brasília com a intenção de ser recebido pelo presidente Lula, Rivanor de Sousa, 47, virou morador de rua e diz já ter sido preso 26 vezes por participar de protestos.
Hoje, ele narra a passantes as denúncias publicadas em jornais contra o governo. "A impunidade é um negócio muito sério. Eles fazem os desvios sabendo que a única coisa que acontece é a perda do cargo".
Minha história: O trovador da esplanada
(...)A impunidade é um negócio muito sério. Eles fazem lá os desvios das verbas (...) sabendo que a única coisa que vai acontecer é a perda do cargo
RESUMO
O morador de rua de Brasília Rivanor de Sousa, 47, tem se encarregado de espalhar pela Esplanada dos Ministérios as suspeitas de irregularidades contra auxiliares da presidente Dilma Rousseff. Em voz alta, percorre as portarias ministeriais e descreve de forma clara e minuciosa as denúncias. "Muita coisa sei por ele", diz o lavador de carro José Expedito Ribeiro, 53. Retrato de dois Brasis, Sousa -que tem celular e mora na rua- se informa por meio de jornais que encontra pelo caminho ou que são doados em bibliotecas.
Saí de Iranduba, a 22 km de Manaus, para Brasília em 2008 certo de que seria recebido pelo presidente Lula no Palácio do Planalto.
Depois de mandar 16 cartas para ele e ter todas respondidas, pensava que seria fácil encontrá-lo. Quando cheguei, bateram a porta na minha cara. Ainda vou escrever um livro: "Desvendando o enigma de um cidadão comum falar com o presidente."
Deixei minha cidade, meu barraco, e vim lutar pela Amazônia, pelo planeta, pela vida. A Dilma está passando a função do Executivo para as ONGs. Tanto é que todos os escândalos que estão vindo a tona agora têm o envolvimento de ONGs.
Sem dinheiro, fui morar na rua. Escolhi um local central perto de um posto da polícia. É difícil morar na rua. Tem muita coisa ruim. A maior parte da noite passo sem dormir. Obedeço a lei dos homens para conviver com os normais, que é o que se faz necessário.
Minha rotina começa às 9h. Tomo café num quiosque, sigo para um banheiro público onde tomo banho e parto em busca dos jornais novos ou do dia anterior que pego deixados para trás ou me são dados por uma biblioteca pública. Também recebo muita informação de servidores públicos que imprimem notícias da internet.
Enquanto tomo banho, carrego meu celular, que nunca tem crédito. Após ler os jornais vou a uma LAN house e peço para abrirem meu email. Só tem spam.
MANIFESTAÇÕES
Só a polícia deu bola para mim até agora em Brasília: já foram 26 prisões por causa de participações em manifestações. Para chamar a atenção para o que estão fazendo com a floresta, me acorrentei em frente ao Palácio do Planalto, onde despacha a presidente da República.
Vocês se lembram dos 663 atos secretos? Por conta disso fui ao Senado e taquei fogo na Constituição em frente ao gabinete do José Sarney. O que aconteceu? Fui preso, e a segurança do Congresso foi reforçada.
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu arquivar uma investigação da Polícia Federal contra o Sarney e sua família. É o José Sarney inatingível pela lei.
A impunidade é um negócio muito sério. Me deixa triste. Eles fazem lá os desvios das verbas do nosso dinheiro já sabendo que a única coisa que vai acontecer é a perda do cargo.
O [Carlos] Lupi disse que só saía a bala [do Ministério do Trabalho], o [Wagner] Rossi, quando estourou o caso, já se afastou do Ministério da Agricultura dizendo que a família dele pediu para sair.
Quer logo sair fora para não desgastar o governo, sair da mídia e ficar com o dinheiro desviado, que sabe que não vai devolver.
O Cezar Peluso, na presidência do Supremo Tribunal Federal, disse que para ser preso a coisa tem que ser muito grave. Eu não sei qual é esse grave que ele fala.
AMBIÇÕES
Estou estudando as leis. Quero ser diferente da Dilma, que só obedece ordens. O Barack Obama fez aquela visita ao Brasil. Está interessado no pré-sal. Os países desenvolvidos nos dominam pela força ou pela diplomacia.
A Quarta Frota da Marinha americana estava desativada desde a Segunda Guerra e agora os americanos a reativaram e estão tomando conta daquela área do pré-sal.
Eu quero fazer um convite às potestades, aos principados para que possamos nos reunir e tratar de assuntos do interesse de toda humanidade. Estou convidando o papa Bento 16, o Obama, a rainha Elisabeth e o príncipe Charles para uma reunião.
Quero ter assento na reunião das Nações Unidas que vai acontecer no Brasil em junho. Falar a essas pessoas que se isentam de impostos e de qualquer responsabilidade sobre o desequilíbrio climático por conta da destruição da Amazônia, do planeta e da vida.
Aprendi a ler aos 39 anos no programa Brasil Alfabetizado. Três meses de curso e escrevi uma carta para o Lula. A professora viu e me acusou: "O senhor me enganou. Já sabe ler e escrever."
Fui roceiro, vendedor de peixe e trabalhei na prefeitura. Larguei tudo. Vim lutar pela Amazônia, pela vida.
ANDREZA MATAIS, ALAN MARQUES, DE BRASÍLIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/12/2011
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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