Sempre foi e sempre será uma triste tarefa a de noticiar o fim de um jornal. Foi duro para os jornalistas brasileiros verem a lenta decadência do Jornal do Brasil, seu desaparecimento na versão impressa, assim como foi penoso este mês para os jornalistas franceses verem chegar ao fim o France-Soir depois de 67 anos presente no panorama midiático francês.
Libérationdeu capa e a matéria principal de quatro páginas com a história do legendário France-Soir, além de uma análise da situação atual da imprensa francesa e das perspectivas futuras. No editorial assinado, Nicolas Demorand, diretor de Libération, escreveu que “o jornalismo da imprensa escrita é um esporte de combate” parafraseando o documentário sobre Pierre Bourdieu, A sociologia é um esporte de combate, de Pierre Carles. Como o brasileiro, o jornal francês vai manter sua versão online. Na França, France-Soir é o primeiro jornal impresso a parar de circular mantendo a versão online.
France-Soirfora comprado pelo milionário russo Alexandre Pougatchev, de 23 anos, em 2009, por 65 milhões de euros. O pai do jovem é um oligarca próximo de Vladimir Putin e já comprara o gigante da alimentação de luxo francês Hédiard. Mas tendo acumulado um prejuízo em 2010 de 31 milhões de euros, Pougatchev resolveu parar de perder dinheiro com a crescente perda de publicidade e de leitores. A equipe de 130 jornalistas que fazia o jornal impresso foi reduzida a 32 profissionais e o jornal passou a ter apenas uma versão online.
O fim da imprensa como a conhecemos
Criado em 1944 por Robert Salmon e Philippe Viannay, France-Soir é o diário que se originou do jornal clandestino da resistência contra os nazistas, Défense de la France, também fundado pelos dois jornalistas. Na época áurea de Pierre Lazareff, que comprara o jornal de seus fundadores, o jornal chegou a vender 1 milhão de exemplares diários.
O sociólogo Jean-Marie Charon, especialista da mídia, estima que essa tendência de passar do impresso ao web vai continuar na França. Os jornais La Tribune e L’Humanité podem seguir o mesmo caminho de France-Soir e passar a circular unicamente online. Nos Estados Unidos, onde a tendência ao fechamento dos jornais impressos é crescente, a imprensa diária já suprimiu 10 mil empregos desde 2007. Segundo o jornal Le Parisien, outro diário que migra lentamente para a internet, dois terços dos franceses se informa hoje pela internet.
Jean-Marie Charon arrisca uma profecia de especialista. Segundo ele, os cotidianos vão cada vez mais migrar para a internet. Alguns jornais manterão uma versão impressa apenas alguns dias da semana; outros, apenas um dia por semana. Ligados dia e noite no smartphone, no rádio e na TV, os leitores não têm mais tempo de ler um jornal impresso todo dia. E as novas gerações não formaram o hábito da relação sensorial, indispensável para alguns, do leitor com o papel do jornal.
Sem dúvida, o desaparecimento de uma geração que ainda compra ou assina um ou mais jornais diários marcará o fim da imprensa como nós a conhecemos.
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Leneide Duarte-Plon em 27/12/2011
[Leneide Duarte-Plon é jornalista, em Paris]
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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