O veredito foi proferido por ninguém menos do que Eric Hobsbawm. Aos 94 anos, o historiador inglês está mais atento e sagaz do que nunca. A classe média substituiu os trabalhadores nas revoltas de 2011 e usou o telefone celular, os computadores pessoais e as redes sociais da internet.
Em entrevista a Andrew Whitehead, do Serviço Mundial da BBC (23/12), Hobsbawm afirmou que não se trata do mesmo terremoto social e político de 1848, cujas insurreições sacudiram a França, a Alemanha, a Itália e a Áustria, mas vê semelhanças entre 1848 e 2011.
Para quem se viu confuso e até decepcionado com os rumos que as mudanças tomaram no Egito, o historiador e professor dá uma nova lição:
“Dois anos depois de 1848, pareceu que alguma coisa havia falhado. No longo prazo, não falhou. Foi feito um número considerável de avanços progressistas. Por isso, foi um fracasso momentâneo, mas sucesso parcial de longo prazo – mas não mais em forma de revolução”.
Hobsbawm identifica nas mudanças o sentimento comum de descontentamento e a existência de forças mobilizáveis, onde ganham relevo uma classe média jovem e estudantil e a facilidade de organizar protestos que as novas tecnologias ensejaram.
Nas ruas e nas escolas
Corte para o Brasil. Você viaja de avião? Olhe ao redor. Agora há passageiros que jamais tinham viajado de avião antes, assim como jamais tinham ido ao exterior. Quer dizer, só se o exterior fossem a Argentina, o Uruguai, o Paraguai, a Bolívia, talvez o México e a Venezuela. Mas, agora, o panorama mudou: a nova classe média brasileira que emergiu da distribuição de renda havida entre 1994 e 2011, depois que o Estado criou mecanismos de proteção social em forma de apoios à alimentação, moradia e estudo, viaja a passeio, a estudo e às vezes também a trabalho para o exterior.
Na edição de sexta-feira (23/12) do Estado de S.Paulo lemos o caso de um estudante de 17 anos, filho de taxista e de dona de casa, que economizou o salário de auxiliar administrativo e gastou R$ 8 mil para estudar inglês durante três meses nos EUA, depois de ter sido aprovado no vestibular de Administração de Empresas com ênfase em comércio exterior, numa universidade privada.
As mudanças havidas no Brasil fazem com que, pela primeira vez na história de suas famílias, os jovens dessas novas classes médias viajem de avião e cheguem à universidade.
Não sabemos quais os próximos passos dessas lutas. O curso superior e o acesso à internet fazem do leitor um eleitor mais difícil de ser enganado. Os inconformados privilegiaram o celular, o computador, o tablet e a internet como ferramentas de mudança. E já fazem mudanças nas ruas e nas aulas. E também nas próximas eleições.
Mas, é preciso cuidado com a qualidade. Por volta de 1900, foi levado aos tribunais de Berlim um homem acusado de ser curandeiro. Em sua defesa, comprovou ser médico, mas pediu ao juiz que não tornasse público o seu diploma: perderia a clientela. Quer dizer, a sociedade também precisa ter certeza de que o profissional com curso superior é mais qualificado.
Deonísio da Silva em 27/12/2011
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[Deonísio da Silva é escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor e um dos vice-reitores da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa)]
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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