...uma pergunta direta a Dilma Rousseff e o duplo analfabetismo petralha no blog do correspondente do El País
Todos vimos a truculência contra o canal a cabo de TV do grupo Clarín, na Argentina. A camarilha, liderada por Cristina Kirchner, está disposta a quebrar a espinha da imprensa e conta, para isso, com setores do Judiciário, da polícia e, como sempre acontece nesses casos, do empresariado.
Muitos oportunistas se aproveitam para obter benefícios que não seriam concedidos por um regime democrático pautado pela transparência.
No Brasil, setores da esquerda e aquela corja de ex-jornalistas financiada pelo governo federal e por estatais aplaudiram a truculência da “Beiçola de Buenos Aires” — o outro ídolo da súcia é o “Beiçola de Caracas”.
O mais impressionante é que Cristina nem se encontrava em solo argentino. Estava em Montevidéu para participar de uma reunião do Mercosul, em companhia dos presidente do Uruguai, Paraguai, Venezuela e Brasil. Sim, Dilma Rousseff entre eles.
O dia da operação contra o grupo Clarín foi escolhido a dedo. A presidente da Argentina quis transformar os demais líderes em cúmplices de sua investida.
A propósito: a Venezuela ainda não é membro efetivo do Mercosul, e o grupo decidiu estudar meios de acelerar seu ingresso. Isso só é possível com a concordância unânime dos países, mas a decisão de cada um precisa ser referendada pelos respectivos Parlamentos.
O Senado paraguaio, até agora, rejeita a Venezuela porque considera que o país transgride a cláusula democrática — o que é uma verdade absoluta.
Então, caras e caros, a síntese é a seguinte: enquanto Cristina buscava esmagar a liberdade de imprensa na Argentina, fazia-se escoltar por quatro outros presidentes da América do Sul, que, por sua vez, prometeram se esforçar para que uma ditadura seja admitida como membro, ignorando a própria carta de fundação do Mercosul. Chávez, apenas um convidado, hostilizou os senadores paraguaios e defendeu que o bloco inclua o Caribe — leia-se: Cuba.
Adiante.Volto à questão da liberdade de expressão.
A imprensa enfrenta hoje formas abertas ou veladas de censura na Venezuela, na Argentina, no Equador, na Bolívia e… sim!, se vocês quiserem saber, também no Brasil, ainda que de um modo um pouco mais sutil.
Depois de uma América Latina que passou por um amplo e virtuoso processo de democratização, com a obsolescência das ditaduras militares ditas “de direita” (já explico), vive-se a era do surto autoritário de esquerda.
Se os militares esmagavam a liberdade de expressão em nome da segurança do estado, os esquerdistas o fazem em nome da igualdade e da suposta vontade popular. Uns e outros odeiam a liberdade.
Estado a serviço de um grupo
Todos os governos dos países citados, inclusive o do Brasil, hoje se utilizam da estrutura do Estado para criar constrangimentos à liberdade de expressão. Na Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia, os poderosos da hora o fazem abertamente, apelando à maioria que detêm nos respectivos Parlamentos para votar leis antidemocráticas — recorrendo, então, a mecanismos da democracia com o intuito de solapá-la.
O governo petista tentou seguir a mesma linha no Brasil ao propor o Conselho Federal de Jornalismo e o “controle social da mídia” nas tais conferências — inclusive a de Direitos Humanos.
Houve uma forte reação da opinião pública e o recuo. Oficialmente, Dilma não quer saber do tal controle social. Mas o fato é que seu governo financia a pistolagem política e ideológica do subjornalismo praticado por ex-jornalistas, a exemplo do que fazia Lula. Se ela realmente não gostasse disso ou não concordasse com a prática, poria um ponto final na farra.
O confronto ideológico é parte do jogo político. Um mesmo fato pode ser interpretado de diversas maneiras a depender dos valores de cada um. É natural que veículos de comunicação se dividam a respeito dos mais variados assuntos, escolhendo, então, o seu público.
É assim em todo o mundo democrático. Muito bem. Vai aqui uma pergunta à Soberana Dilma Rousseff:
é aceitável que a Caixa Econômica Federal financie páginas na Internet cujo objetivo explícito, declarado, indisfarçável, é difamar e caluniar lideranças da oposição, outros veículos de comunicação e mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal?
Faço a mesma pergunta em outros termos:
a Caixa Econômica Federal, UMA EMPRESA PÚBLICA, também não pertence aos eleitores da oposição? Um partido ou grupo, ao assumir o poder, assume também o direito de pôr as estruturas do estado a seu serviço? Cristina Kirchner, Hugo Chávez, Rafael Corrêa e Evo Morales acham que sim! Lula e o PT acham que sim! Alguns supõem que Dilma acha que não. Se não, por que permite a farra?
É evidente que isso caracteriza uma forma detestável de assédio e de patrulha. Se o PT quer promover a guerra contra seus adversários políticos, que o faça com seus próprios meios, os do partido, não com o dinheiro público. Não que essa gente tenha grande importância ou seja muito influente — infinitamente menos do que o barulho que faz.
O que estou denunciando aqui é a intenção se setores aboletados no governo, que acham legítimo que o dinheiro da população — porque pertence à população — seja usado em benefício de um grupo. Se e quando o PT for apeado do poder, vai se admitir que o governo federal e as estatais financiem panfletos para perseguir petistas?
Ódio à democracia
O ódio que essa gente tem à democracia e à liberdade de expressão é um troço visceral. Não adianta! Os caras não conseguem entender o modelo. Noticiei ontem aqui que Juan Arias, correspondente do jornal El País no Brasil, havia vertido para o espanhol um post meu e publicado em sua página. Foi o que bastou! A petralhada toda invadiu a página de Arias para me atacar, atribuindo-me, como de hábito, coisas que nunca escrevi.
Um delinqüente sugere lá que torci até pela morte de Lula — quando todos sabem que escrevi justamente o contrário. Atribui-me, imaginem vocês!, ter dito que o Apedeuta precisava “desencarnar”. Todos sabem que ele próprio empregou esse verbo, não eu.
Outros ainda reclamam que não publico em meu blog as suas opiniões — e as mentiras que contam lá explicam por que não —, e isso seria a prova do meu pouco apreço pela liberdade de expressão.
Para eles, “liberdade de expressão” consiste em entrar em meu blog para me atacar, para emplacar suas correntes de difamação, para xingar seus desafetos, para agredir pessoas das quais discordam. Ora vejam! Eu, que repudio qualquer forma de censura estatal à imprensa, seria adversário da liberdade de expressão; eles, que vivem pedindo o “controle da mídia” seriam seus defensores!
Ainda não entenderam que a liberdade está justamente no fato de que podem criar as suas próprias páginas. Por que precisam usar a minha para um tipo de pregação que sabem oposta aos valores essenciais do blog?
A resposta é simples: PORQUE ELES CONSIDERAM INADMISSÍVEL que exista uma página de sucesso — a mais lida de política; podem chorar na pia!!! — que não comungue dos seus valores. Então “exigem” o direito de pichá-la.
O ridículo dessa gente é de tal sorte que muitos tentam, numa língua que lembra o português e o espanhol sem ser nem uma nem outra, “explicar” a Arias quem eu realmente seria, como se ele não pudesse acessar a minha página e ler o que escrevo com seus próprios olhos, fazendo, então, seu próprio julgamento.
Tratam um experiente jornalista como se fosse um forasteiro a quem precisassem explicar os hábitos da terra. Sentem-se imbuídos de uma missão: difamar! E há, claro!, aqueles que estão trabalhando. O PT tinha anunciado a criação de uma tropa de choque para monitorar a Internet.
Falta de compromisso com a verdade
Ora, eu não tenho dúvida de que penso coisas que eles detestam. Mas o que realmente penso parece não ser suficiente para que possam secretar o seu ódio e convocar outras pessoas a me odiar também. Então inventam coisas, mentem, atribuem-me o que nunca escrevi, pensamentos que nunca tive, defesas que nunca fiz. Ora, para quem se sente imbuído de uma missão ou é um difamador a soldo, a verdade e a mentira são categorias irrelevantes.
Estamos, sim, queridos, no meio de uma guerra de valores. Os petistas chegaram ao poder porque a liberdade de expressão — QUE NÃO É OBRA DELES, ASSIM COMO NÃO O É O REGIME DEMOCRÁTICO — permitiu que fizesse a sua pregação, falasse de seus valores, atacasse os adversários etc.
Uma vez no topo, a liberdade, em sentido amplo, deixou de lhes interessar. Não podendo partir para a violência institucional, acompanhada da violência armada, a exemplo de alguns de seus “companheiros” da América Latina, então optam pelo uso dos cofres públicos para financiar as correntes de difamação.
Imaginem se o Ministério Público Federal já não teria entrado em ação caso o PT estivesse na oposição, sendo atacado por grupos e veículos financiados com dinheiro público. As lideranças do partido já teriam botado a boca no trombone. As oposições que temos ainda não atentaram para essa forma de “controle político da mídia”…
Digam o que disserem, o fato é que MEUS TEXTOS, o que realmente escrevi, estão arquivados no blog. Os petralhas estão inconsoláveis. Levaram a sério durante tanto tempo as suas próprias fantasias que se sentem compelidos a entrar no blog de um experimentado correspondente, que conhece o Brasil, para lhe implorar, à moda Groucho Marx: “Juan, você vai acreditar no que você lê na página do Reinaldo ou naquilo que nós dizemos sobre ele?”
O post de Arias está aqui. E o “amor” dos petistas pela liberdade de expressão está devidamente demonstrado.
Reinaldo Azevedo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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