"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O ASSUNTO, A CAPA E A MATÉRIA

A capa da última edição de CartaCapital (21/12/2011) é uma inspirada e impactante criação gráfica: o título “A mídia esconde o Brasil” com os três macaquinhos que nada sabem, cada um segurando o seu jornalão, é um libelo contra uma imprensa omissa, fragmentada, muitas vezes orquestrada.

Subtítulo claudicante: “[a mídia] não consegue conter a força da internet”. É possível que a informação seja verdadeira em outras plagas. Nossa internet, por enquanto, é um vazadouro de indignação e intolerância que no auge do “caso Battisti” atingiu pesadamente o próprio diretor do semanário levando-o a encerrar o seu blog.

O texto ao qual se remete o magnífico pôster de crítica à imprensa é curto e limita-se à irrisória repercussão na grande mídia da matéria de capa da edição anterior, “O escândalo Serra”, servindo de base de lançamento para o livro A privataria tucana, do repórter Amaury Ribeiro Jr.

Apenas CartaCapital foi informada do lançamento do livro (na capa da edição anterior a matéria está classificada como exclusiva). O texto de 12 páginas, fartamente ilustradas, corre em dois níveis e tenta contar simultaneamente três histórias: a) os negócios de familiares do ex-governador Serra; b) os problemas que o autor do livro enfrentou com seus companheiros quando trabalhava para a assessoria de imprensa da candidata Dilma Rousseff; e, c) a privataria tucana propriamente dita. As duas últimas visivelmente compactadas, quase invisíveis.

O conjunto estava mal editado, confuso e as poucas surpresas, omitidas. Talvez por essa razão, o editor do livro, o também jornalista Luis Fernando Emediato, tivesse preferido que a matéria fosse publicada depois, com mais cuidado.

Matéria atropelada

No fim de semana e na segunda-feira (12/12) começaram a pipocar mensagens ora informando que o livro fora embargado pela justiça, ora dizendo que a tiragem inteira fora comprada por desconhecidos, ora garantindo que a edição se esgotara. Simultaneamente, apareceram pesadas reclamações na caixa postal deste Observatório da Imprensa acusando este observador de omitir-se numa denúncia tão grave (outro observador havia tratado extensamente do livro na mesma segunda-feira, e também nos dias subsequentes).

Em seguida à exibição do programa do Observatório na TV Brasil (terça, 13/12), o linchamento teve outro pretexto: por que discutir novamente a questão do diploma ou a ameaça de liquidar a classificação indicativa na programação televisiva se havia algo tremendamente transcendental na pauta nacional? (Ver nota ao pé do artigo “O fascinante exercício de acompanhar as mudanças”.)

Os blogueiros marrons não sossegaram e começaram a espalhar que este observador havia produzido uma feroz crítica ao livro. Este observador não trata de livros, trata dos periódicos de informação – a mídia, sobretudo a impressa. Livros de denúncia – como O Chefão, do jornalista Ivo Patarra, sobre os negócios do ex-presidente Lula; ou o demolidor perfil O que sei de Lula, do jornalista José Nêumanne Pinto – também não foram comentados. Só entrou agora no assunto porque uma linda capa de CartaCapital foi desperdiçada numa matéria atropelada por interesses político-eleitorais. Uma pena.

Por Alberto Dines em 20/12/2011 - Carta Capital

Nenhum comentário:

Postar um comentário