Por essa, Papai Noel não esperava. Trouxe de presente para Fernando Pimentel sua permanência no Ministério do Desenvolvimento, mas não consegue entregar o embrulho ao ministro embrulhado.
Pimentel sumiu. Da última vez em que foi procurado em seu gabinete, tinha ido a Genebra para a reunião da OMC. Mas não foi visto na sessão de abertura do evento, nem na reunião dos países emergentes sobre comércio.
Evidentemente, um homem capaz de faturar R$ 2 milhões em dois anos como consultor não iria passear na Suíça com o dinheiro do contribuinte.
Mas que ele estava lá, estava, porque foi visto por jornalistas no aeroporto de Genebra. Ou talvez fosse um sósia, porque falou em inglês com repórteres brasileiros – “no more”, para dizer que não ia mais falar.
Devia mesmo ser um sósia, porque ministro dizendo “nada a declarar” à imprensa não existe mais, desde o fim da ditadura militar. E Pimentel é ministro do governo popular, ex-guerrilheiro da esquerda.
Onde estaria então o verdadeiro Fernando Pimentel? Muitos acham que ele deveria estar no Congresso Nacional, dando as explicações que o país espera. Mas o ministro também não apareceu por lá.
Tentando reconstituir o caminho percorrido por Pimentel, repórteres de “O Globo” foram informados por industriais mineiros, amigos do ministro, de que ele andara fazendo palestras no interior do estado para sobreviver.
(E deve ter sobrevivido, porque o cachê era ótimo).
Mas a pista era falsa. Os repórteres percorreram todas as cidades do tal roteiro – e Pimentel também não havia estado em nenhuma delas.
A preocupação com o seu paradeiro aumentou com as notícias – estarrecedoras – sobre uma política protecionista retrógrada aplicada pelo Ministério do Desenvolvimento.
Ou seja: se o Ministério parou no tempo, e não foi por falta de combustível, o ministro também não deve estar na cabine de comando.
Fernando Pimentel se tornou um autêntico “Nowhere Man” – o homem de lugar nenhum, imaginado por John Lennon.
Mas Papai Noel há de encontrá-lo. Nem que seja no Ministério da Pesca.
27 de dezembro de 2011
Autor: Guilherme Fiuza
Fonte: Época
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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