"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ROUBO, LOGO, SOU UM MERDA

Se você rouba, qualquer tipo de roubo, R$1,00, R$ 1 milhão, explicitamente ou por baixo dos panos, não importa...

Roubar é assinar atestado de incapacidade.


Se rouba um R$ 1,00 está dizendo que não é capaz de criar R$1,00, se rouba R$ 1 milhão é a mesma incapacidade elevada a muitos zeros.

O que é roubar? É "pensar" que posso fazer uso de uma propriedade que não construí; É achar que, por alguém ter muito, isso me dá o direito de pegar parte disso, porque tenho pouco; É fazer o que todo mundo anda fazendo como justificativa e é também, e principalmente, me sentir incapaz de construir qualquer coisa; no fim das contas é me sentir um merda.

Quem rouba não tem auto estima e a cada punhado ou centavo roubado, acumula o mesmo valor de descrédito em relação à si mesmo. Não há como fugir disso, porque temos dentro de nós um julgador safado e implacável que contabiliza cada ação que fazemos, faz parte do pacote humano. Você pode nunca o ter ouvido ou sentido, mas creia, ele existe.

A maioria das pessoas acreditam que um ladrão não sente remorso do que faz, mas isso é uma grandíssima mentira. Ser humano algum se sente 100% feliz sabendo que pegou algo que não era seu, mesmo com justificativas. O que acontece é que muitos se enganam durante algum tempo - às vezes muito tempo -achando que o dinheiro compra qualquer coisa, qualquer paraíso e qualquer tipo de felicidade, tudo porque nossa sociedade quer acreditar que só é feliz quem tem muito $$$ e quem pode comprar qualquer coisa.

Mas a felicidade está na construção do caminho e o dinheiro é um bônus dele.

Logo, o mão-leve pula a parte da construção do caminho indo direto para o capítulo de "obter a grana", pelos meios que forem. Com isso, não constrói valores pessoais e percepções que dão o real "valor" ao dinheiro que se ganha, e acaba colocando "seu valor próprio" no dinheiro que rouba, por isso, precisa sempre de mais.

Precisa de mais para continuar acreditando que ele vale alguma coisa, porque no fundo o que habita é um total vazio de conhecimento em relação a si mesmo. Como o dinheiro é a significação de quem ele é, defender o dinheiro é defender a si mesmo, e por esse motivo também, muitos matam por dinheiro, é tipo uma legítima defesa. Entenda, ele está defendendo a própria identidade, perder o dinheiro é como perder a si mesmo.


A forma como o ladrão se vê, não é a mesma de como ele se sente.

Quando o dinheiro acaba ele se sente mal,

quando coloca a mão numa bolada, se sente o tal.

Auto estima mediante cifras, sem cifras, sem auto estima.

Essa não é uma síndrome só do ladrão, é uma síndrome social atual.

É interessante, porque ninguém pensa muito nisso, não dessa forma. Tem uma galera que vive dentro de uma vibe de perdas x ganhos imediatos e acabam achando que roubar é algo trivial, porque todo mundo anda fazendo, mas roubar os outros é roubar de si mesmo, mesmo que ninguém veja ou saiba. Você sabe. Quem rouba, rouba sua própria auto estima, rouba seu merecimento, rouba sua auto aceitação, entre milhões de julgamentos acumulados em relação à si mesmo. E como somos seres sinérgicos, por mais que você tenha um comportamento de "confiança", sua energia exala descrédito.

Tem aqueles que começam a roubar para criar um "equilíbrio" social, justificativa falsa e tosca para uma total falta de percepção do que um ser humano é capaz. Se roubar equilibrasse alguma coisa, a quantidade de roubos que acontecem por segundo no mundo já seriam suficientes para esse equilíbrio, mas não, o que acontece é que as pessoas se sentem cada dia mais miseráveis e essa sensação não tem a ver com dinheiro, mas com o que cultivam internamente como valores pessoais, que aí sim, viabilizam ou não o dinheiro.


Desigualdade social: bullshit!

O que mais enaltece a mim e a você, é saber que somos capazes de criar coisas, projetos, idéias... Não ter a certeza ou a inclinação para essa capacidade, é uma M federal! Qualquer ato leviano não é um ato contra os outros, é contra nós mesmos. Qualquer ato de bondade, paciência, gentileza ou honestidade é ponto em causa própria.

Essa filosofia ignorante de não agir de forma positiva por que "os fulanos" não o fazem, é um comportamento tosco que tem a mesma vibe de perdas x ganhos que o roubo tem, porque quem rouba também se justifica achando que: se ele não fizer, alguém fará.

Os mãos-leve se acham espertos por roubarem os outros. Eles podem ser perspicazes, astutos, maquinadores, mas, espertos? Não. Esperto de verdade, é aquele que usa todas essas qualidades para criar projetos, coisas legais, dormir em paz, sonhar com ideias malucas e usar todo esse potencial para jogá-las no mundo. Esperto é aquele que sabe virar o jogo a seu favor na maestria, é aquele que constrói o caminho e se regozija dentro dele.

Um ladrão pode roubar de um visionário seu dinheiro, mas nunca seu potencial criativo. Quando o dinheiro acaba é como se o ladino tivesse perdido uma perna, logo, tem que roubar outra vez, já o potencial criativo do visionário é ilimitado, quanto mais se usa, mais ele se expande.

O que o ladrão não sabe, é que ele é um visionário, de cabeça pra baixo que amputa as próprias pernas.

Monik Ornellas

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