"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 1 de janeiro de 2012

2011: 12 MESES DE PROTESTOS

Confira o registro fotográfico e relatos de 12 meses de protestos pelo mundo
29/12/2011

Tudo começou quando um vendedor de frutas tunisiano chamado Mohamde Bouazizi pôs-se em chamas na cidade empobrecida de Sidi Bouzid para protestar contra sua falta de oportunidade em um dos países mais repressivos da região.
O sacrifício de Bouazizi foi o catalisador que moldou o ano que agora termina de uma forma que ninguém poderia ter imaginado. Pessoas em um país após outro foram às ruas para reivindicar mudanças, energizados e encorajados por seus antecessores.
A onda de descontentamento se espalhou da Tunísia para o Egito e Líbia, e teve sua força impulsionada pela economia enfraquecida na Grécia e pelo desencanto político na Espanha e Rússia até aparentemente dar a volta ao mundo e chegar na costa norte-americana para ocupar Wall Street. Atos desesperados como o de Mohamed Bouazizi pipocavam em todo o mundo e estes momentos foram capturados por câmeras de fotógrafos, registrando 12 meses de protestos.


Janeiro >– Tunísia: ondas de fumaça em uma rua durante confrontos entre polícia e manifestantes. Após 23 anos de governo, Zine – el-Abidine Ben Ali deixou o país em 14 de janeiro, e a Tunísia se tornou a faísca que desencadeou uma explosão de revolta em todo o mundo árabe. “Para mim foi muito importante estar lá, não apenas como fotojornalista, mas também como uma experiência pessoal. Tunísia e tunisianos transmitiram coragem e esperança para muitos jovens em países árabes. Eles também ensinaram os modos e os rituais da revolução a outros jovens. Foi incrível” – Alex Majoli/Magnum


Fevereiro >– Egito: manifestantes dormem debaixo de uma lona de plástico na frente do Parlamento do Egito, no Centro de Cairo. Hosni Mubarak deixou o cargo em 11 de fevereiro, depois de quase 30 anos na presidência do país. “Em fevereiro, eu fiquei em um hotel em Tahrir Square. O ruído dos protestos foi constante, alto e hipnotizante. Quando o presidente deixou o cargo, havia um sentimento gigante de vitória na praça e um senso de responsabilidade pelo país. Após a revolução, eu me mudei para o Cairo, para um apartamento perto da praça. Eu ainda ouço os protestos da minha janela: a Justiça ainda não está feita, virá depois” – Moises Saman/Magnum.


Março – Bahrein: Crianças levam uma bandeira para o funeral de Issa al Radhi, 47, que foi morto por forças de segurança do Bahrein durante os protestos na aldeia de Sitra. “Os protestos foram os mais comoventes que eu cobri. Foi uma revolução fracassada, esmagada pela força do rei com as tropas da Arábia Saudita e com o apoio do governo dos EUA. A luta continua e já teve consequências terríveis. Eles são os manifestantes mais bem-educados e pacíficos que eu conheci” -Andrea Bruce/NOOR


Abril – Índia: Em 5 de abril, o ativista indiano Anna Hazare inicou uma greve de fome de quatro dias contra a corrupção, o que provocou protestos em todo o país em seu apoio e só terminou quando o governo cedeu a suas exigências sobre a criação de uma rigorosa lei anticorrupção. Em junho os protestos contra a corrupção continuaram em Nova Déli, incluindo uma enorme sessão de yoga em uma tenda ao ar livre. Lynsey Addario/VII


Maio – Espanha: manifestantes assistiram a uma assembleia pública na praça Puerta del Sol, em Madrid. Também chamado de Movimento 15-M, os protestos foram organizados por redes sociais e contaram com milhões de cidadãos. As manifestações pacíficas aconteceram a partir do dia 15 de maio, data próxima das eleições no país, marcadas para 22 de maio. Markel Redondo/Panos.


Junho:–b> Arábia Saudita: a polícia saudita aborda o veículo de uma mulher que dirigia em Riyadl, na Arábia Saudita, como parte de um protesto organizado em 17 de junho contra a proibição do país de motoristas do sexo feminino. Lynsey Addario / VII


Julho – Síria: depois de deixar o abrigo de um violento confronto com manifestantes em um acampamento improvisado no noroeste rural do país, um pai e suas duas filhas olham para os montes, onda as forças do governo foram vistas avançando para o local. Desde meados de março, o presidente Bashar al-Assad desencadeou uma série de medidas de repressão implacável, com um número de mortes de cerca de cinco mil pessoas, de acordo com relatórios das Nações Unidas. Zalmai.


Agosto – Líbia:
combatentes rebeldes coletam munição de um estoque de armas em Khamis Katiba, em Trípoli. Depois de uma revolução de seis meses, as forças rebeldes finalmente conseguiram entrar na capital, assumindo o controle de Bab al-Aziziyah, onde residia Khadafi. Em outubro, os rebeldes capturaram e mataram o ditador, criando um vazio na liderança. Milícias rivais disputam o poder. “Cheguei a Trípoli ao meio-dia de segunda-feira, 22 de agosto. Entrando na cidade deserta foi um momento muito emocionante para mim; a cidade havia se tornado um símbolo de toda a luta revolucionária. Eu tinha resolvido cedo que faria todo o esforço para estar lá, se e quando Trípoli caisse. Tendo visitado Trípoli em 2003, eu sinceramente não esperava que o povo líbio fosse conseguir derrubar Khadafi e acabar com seu regime ditatorial de 42 anos de forma tão rápida e corajosa”. William Daniels


Setembro – Grécia: confrontos entre a polícia e manifestantes nas ruas de Salónica, em frente ao Centro de Exposições Internacional, onde mais de 25 mil pessoas se uniram para protestas contra as medidas de austeridades durante uma visita do primeiro ministro à cidade. “A Grécia tem uma longa história de manifestações e marchas. Este ano, porém, uma multidão profundamente diversa se reuniu nas ruas pela primeira vez. Em um movimento sem precedentes na Grécia, embora em sua maioria carente de autocrítica, as ruas se transformaram em campos de batalha, onde cada lado tem sua própria estratégia e organização, e também as suas próprias armas. A violência é muitas vezes descontrolada e chocante, mas assim que os confrontos terminaram, a paixão e a determinação deram lugar à melancolia e a dormência.” Giorgos Georgiou / Invision Images


Outubro – Ocupação de Wall Street, Nova York:
“Comecei a fazer fotos no Parque Zuccotti na primeira semana de outubro, após a prisão de centenas de manifestantes durante uma travessia da ponte do Brooklyn. Todo mundo que conheço tem sido afetado de alguma forma pelo declínio da economia global e eu senti que uma revolta contra a política econômica dos EUA era iminente. Eu estava curioso para ver se uma “ocupação” em solo norte-americano seria possível, e se alguma coisa seria realmente realizada. Fotografei simplesmente todos que passavam na minha frente e pedi para que eles colocassem palavras no papel sobre a razão de estarem lá” Wayne Lawrence / Instituto


Novembro – Ocupação Oakland, Califórnia: manifestantes dançam em cima de um container depois de uma marcha a partir de Frank Ogawa até o Porto de Okaland durante a ocupação que colocou em greve toda a cidade. Chavez Ray / Bang / Polaris


Dezembro – Rússia:
“A adrenalina na manifestação era quase vertiginosa, como se todos os presentes estivessem fazendo parte de algo ilegal e secreto. Pessoas fotografaram a si mesmas e as pessoas à sua volta para provarem que realmente estavam lá. O começo do fim? Talvez. Parece muito cedo para dizer isso. No entanto, só de tomar as ruas e ouvir suas próprias vozes gritando frases anti-governo parece ter gerado um extraordinário senso de poder”. James Hill

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