Semana passada, em Salvador, o ainda ministro das Cidades, Mário Negromonte, disse aos jornalistas que a enxurrada de denúncias surgidas no ano passado contra a sua pasta teria sido apenas “uma indústria de fumaça”. Descontraído, ele comentou que iria receber um troféu da imprensa pelo fato de as denúncias publicadas não terem, até o momento, sido comprovadas.
- As denúncias não vingaram. Não tem nada do Ministério Público, do TCU, da Controladoria Geral da União. Zero – disse ele.
Segundo a Agência A Tarde, o ministro voltou a atribuir as denúncias a “fogo amigo” e ao fato do Ministério das Cidades contrariar “interesses”. Esses interesses seriam nas áreas de mobilidade urbana, habitação e saneamento.
- Tem gente de todo o canto (interessada na pasta). É gente do PMDB, do PT, de todos os partidos. Menos do Planalto – declarou, fazendo questão de enfatizar ter conversado com os principais interlocutores da presidente Dilma Rousseff: a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
- Eles me disseram que não existe nada de parte do governo contra o ministério e a minha pessoa – declarou. Negromonte garantiu que ninguém do governo comentou sobre uma eventual substituição na pasta. Segundo ele, a mesma garantia foi dada ao presidente nacional do seu partido, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ).
Pode até ser que ele continue no ministério. Tudo é possível. Mas não há dúvida de que Negromonte anda com a memória fraca. Já esqueceu o patrocínio concedido à Festa do Bode, para pavimentar o terreno rumo à eleição do filho Mário como prefeito de Paulo Afonso, maior cidade de sua base eleitoral no norte da Bahia.
Além de ajudar a eleger a mulher, Ena Vilma, para a Prefeitura de Glória, Negromonte usou dinheiro público para se promover e fortalecer também a imagem de Mário Filho, que é deputado estadual. Tudo isso faz parte da estratégia de controle político da região pela família do ministro.
Como se sabe, as festas do bode fazem parte da tradição do Nordeste. Mas na realização de uma desses eventos, em Paulo Afonso, município no norte da Bahia, os cartazes espalhados pelas ruas destacaram o nome e o cargo de Negromonte e do filho Mário, ao lado dos logotipos de sete órgãos públicos apresentados como patrocinadores, que o próprio ministro pressionou para que liberassem as verbas.
A repórter Isabel Clemente, da Época, procurou especialistas para ouvir opiniões sobre a exibição do nome de ministro e do deputado na propaganda da festa. “Por si só, o cartaz com o nome de uma autoridade associada a alguma realização fere o princípio constitucional da impessoalidade, segundo o qual nenhuma obra ou realização é fruto do esforço de uma pessoa, mas de um governo, uma prefeitura”, disse a procuradora da República Janice Ascari, de São Paulo.
O procurador da República Rogério Nascimento, que já atuou pelo Ministério Público Eleitoral, também tem preocupações relacionadas à exposição de nome de políticos em cartazes. “Se adversários se sentirem prejudicados e a situação configurar abuso de poder econômico e político, independentemente de haver improbidade, pode ser um caso de propaganda antecipada para o qual a lei prevê multas”, destacou Nascimento.
Depois dessa lambança, Negromonte, que está cotado para deixar o cargo na próxima reforma ministerial, ao invés de ficar calado, ainda se julga no direito de provocar os jornalistas. Era só o que faltava.
08 de janeiro de 2012
Carlos Newton
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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