Caiu o diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), Elias Fernandes (ver post anterior).
Dnocs!!! Isso é uma fábrica de escândalos faz tempo! É um padrão no Brasil: raramente se rouba tanto quanto nos órgãos destinados a fazer o dito “trabalho social”. Se a pobreza existe, então tudo é permitido, entendem? O dinheiro rola solto e fácil, e a rataiada aproveita. Mas o que me interessa é outro aspecto.
A cobertura que está sendo dispensada ao caso contribui, mais uma vez e contra os fatos, para a mitificação da presidente Dilma Rousseff (e para a mistificação política!) — e isso explica, em parte ao menos, o seu crescente prestígio junto à opinião pública. O tratamento dado é o seguinte: “Vejam que governo corajoso! É cada vez melhor porque é ruim!”. Explico-me.
Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, havia dado uma declaração que poderia ser assim sintetizada, em face dos problemas no Dnocs — e, na verdade, no Ministério da Integração, de Fernando Bezerra, que do PSB: “O diretor do Dnocs fica porque a presidente não quer problema com o PMDB”. Huuummm…
Ora, das duas uma: ou é Dilma quem manda no governo, ou é o PMDB, certo? Não cabia à presidente, mesmo a contragosto, outra decisão que não demitir Elias Fernandes.
Isso não é ato de coragem nem ne altivez: é só uma obviedade. No mundo da lógica, um subordinado pode ser altivo diante do chefe. A altivez do chefe diante do subordinado ou é uma impossibilidade dada pelos próprios termos ou é só arrogância.
Mas quê!!! MAIS UMA VEZ, A PRESIDENTE É TRATADA COMO OMBUDSMAN E GERENTE DA PRÓPRIA GESTÃO.
Parece que Dilma veio de Marte e caiu no Palácio do Planalto.
Seu partido, suas alianças políticas, a tradicional divisão de poder com aliados… Ela não teria relação com nada disso! È aquela que chegou pura ao topo da máquina e agora faz, então, o tal trabalho da “faxina”. Assim, lemos agora que ela “exigiu” a demissão do diretor do Dnocs!
Oposição
Outro dia, um grande jornal dava em manchete que Dilma fazia de tudo para evitar cortes no Orçamento. Boa, presidente!!! Ah, sim: se houver, fiquem tranqüilo: não será no social!!! Que bom! Ficamos todos felizes em saber que há alguém no governo Dilma que zela e vela por nós.
Quem? Ora, Dilma! Abaixo dela, todos admitem, há uma certa esculhambação…
Significativa nessa queda é que ela se dá sob o silêncio do principal partido de oposição, o PSDB. É que, sabem, o partido não quer arrumar confusão com o PMDB — nem com o PSB, do protegido Fernando Bezerra — porque, no choque de interesses entre essas legendas e o PT, quem sabe sobrem alguns benefícios políticos para os tucanos rumo a 2014…
Então seria melhor não turvar o ambiente.
Esse, vamos dizer, arcabouço político e jornalístico explica o fato de o governo Dilma ser tão ruim — porque inoperante —, mas tão bom! A oposição fica esperando Godot, e Dilma é tratada como um agente externo, moralizador da política.
Para ela, é o melhor dos mundos. Não para a administração, como se vê. Ou melhor: COMO NÃO SE VÊ.
26/01/2012
Reinaldo Azevedo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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