"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

LEIA E SE IRRITE



 João Paulo Cunha foi condenado, na forma da lei. Até aí, nada a reclamar. Mas há um ponto que, estando embora na lei, deveria ser discutido: por que a punição deve ser a cadeia? Gente desse tipo não oferece risco de violência; ele não irá colocar ninguém na mira de uma arma.

Ele pode ser deixado em liberdade (ao contrário daquele trombadinha, coitadinho, que roubou muito menos e foi preso – mas que, solto, ameaçaria a vida de outras pessoas).

Deve ser punido, claro; mas é bobagem colocá-lo na cadeia, onde ocupará uma vaga necessária para conter criminosos violentos e nos forçará a gastar dinheiro público – escasso – para vigiá-lo, alimentá-lo, protegê-lo de outros prisioneiros indignados com o comportamento que o levou a ser seu novo colega. E, na cadeia, ele também poderá ensinar aos presos mais coisas ruins que eventualmente ainda não saibam.


Pessoas como João Paulo Cunha sentem muito mais dois outros tipos de pena: primeiro, o afastamento da vida pública, do poder, da vida nos palácios, dos puxa-sacos que correm para abrir-lhe as portas e os chamam de Vossa Excelência; segundo, a devolução do dinheiro desviado, acrescido de multas pesadas e efetivamente cobradas.

Há gente para quem dinheiro é mais importante que tudo, inclusive a liberdade. Que o condenado seja punido exemplarmente, então, da maneira que lhe é mais dolorosa, permitindo que o país seja ressarcido dos prejuízos que teve não apenas com os desvios, mas também com o custo das investigações e processos.

É melhor do que gastar ainda mais verba pública com ele.

03 de setembro de 2012
Carlos Brickmann

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