"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O JARDIM BOTÂNICO E A LUTA DE CLASSES

São muito peculiares os canais de expressão da "luta de classes" no Brasil.
No país onde o enriquecimento fulminante é uma consequência automática da tomada do poder político e "condição aristocrática" sempre foi coisa que se pode comprar a preço módico, não é na dicotomia pobres contra ricos que as verdadeiras diferenças se expressam.
 
O abismo mesmo, a diferença que não pode ser superada com um "jeitinho" e que sempre remexeu com os mais fundos rancores e ressentimentos é a que opõe ignorância de um lado e conhecimento do outro e, por extensão, o mais que possa ter sido conquistado por genuíno esforço e merecimento.
 
Isto sim é que humilha! Isto sim é que ofende pois as conquistas do merecimento se constituem, em si mesmo, em irreplicáveis denuncias dos atalhos da esperteza, do compadrio e do parasitismo em que se apoia a esmagadora maioria das nossas "histórias de sucesso"!
Se ao longo de toda a História do Brasil esse modo tão peculiar de expressar o conflito de classes esteve sempre presente, foi só com a ascensão do lulismo que ele saiu do armário e assumiu-se como o que é.
 
Com quase 10 anos no poder já não é fácil encontrar um petista pobre. Brasília, a capital do funcionalismo público - categoria que define o partido enquanto classe - é uma exceção notória em todos os indicadores que compõem os índices de desenvolvimento humano, comparada a qualquer outro centro brasileiro entre todos os que produzem mais do que política e escândalos.
 
O petista padrão quer mais, sim, mas já não tem a quem invejar nesse quesito pois, até nas antigas classes produtoras, só quem se alia formalmente ao PT pode aspirar a um padrão de enriquecimento pessoal de padrão global.
 
Propriedade e dinheiro, portanto, "toma-se" com a política. E rápido. Mas na área do conhecimento a "mobilidade social" é bem mais limitada.
É aí que "odiosas desigualdades" insistem e persistem.
 
Vai daí que o rancor do petista se expressa para valer é nos desaforos da ignorância para com o conhecimento. E como o conhecimento é o pressuposto do mérito, quando o petista quer mesmo subverter e ferir, trata de fazer o demérito montar ostensivamente nas costas do merecimento.
 
Das cartilhas para ensinar o errado até às cotas no vestibular; dos viveiros de clones esmagados pelo MST à bizantina discussão em torno dos invasores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é daquele mesmo amargo despeito para com a ciência e o conhecimento que Lula destila a cada vírgula que estamos falando.
 
A "radicalidade" do "revolucionário" de hoje, na verdade, mede-se pelo grau de refino com que ele promove esse tipo de subversão.
 
O Jardim Botânico do Rio, marco histórico da única tentativa de reversão pela ciência do padrão sistemático de depredação ambiental ainda em vigor no país, tem sido um alvo preferencial desses apedrejadores.
 
No momento, está invadido por mais de 500 casas onde moram 640 famílias. Fala-se em "problema social" mas não é disso que se trata. O padrão dessas casas está muito acima do barraco típico das favelas cariocas. Trata-se de "arranjos" de pequenos privilégios conseguidos junto a quem "pode".
 
Desde os anos 70 as autoridades cariocas "discutem" o problema que cresce todos os anos. Agora explodiu. Ha até um deputado do PT, o sr. Edson Santos, cuja família mora em uma das casas da invasão.
 
O assunto subiu então à Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, em Brasília e, finalmente, à ministra em pessoa, Izabella Teixeira, uma das "dilmetes", aquelas que vieram para nos provar quanto vale a nova mulher petista brasileira.
 
E o que foi que ela respondeu ao pleito do dr. Liszt Vieira, o abnegado titular demissionário do Instituo Jardim Botânico que foi lá pedir-lhe providências e explicar a importância do trabalho que faz para a preservação de espécies ameaçadas de extinguirem-se para sempre da face do planeta?
 
Que sim, "uma providência" será tomada para tirar de onde estão no momento 240 das casas penduradas em áreas de risco dentro dos 54 hectares do Jardim Botânico. A saber: serão removidas para outras áreas de menor risco dentro dos 54 hectares do Jardim Botânico.
Quer dizer...
 
fernaslm
03 de setembro de 2012

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