A austeridade à brasileira que subitamente acometeu grande parte dos prefeitos eleitos ou reeleitos em outubro do ano passado (ver, neste Opinião e Notícia, a matéria "Brasil começa 2013 como austeridade municipal") parece ter atingido em cheio a maior festa popular do país, o carnaval.
Há algumas semanas, e todos os dias, surgem notícias de cidades de norte a sul do país anunciando o cancelamento de blocos de rua, trios elétricos, desfiles de escolas de samba e folias que tais financiadas pelas prefeituras: de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, a Ilhéus, na Bahia; de São José dos Campos, em São Paulo, a Canela, no Rio Grande do Sul; de Maceió, capital de Alagoas, a Rio Branco, capital do Acre; e muitas outras mais cujos novos ou velhos mandatários se dizem preocupados em dar melhor destinação ao dinheiro público.
É uma ótima notícia, com o porém de sempre quando se trata de notícias que dão conta de políticos fazendo algo em benefício do povo e da boa administração pública: a demagogia, a demagogia que serve de cortina de fumaça para ações e omissões, digamos, não tão cíveis e republicanas.
Em Petrópolis, por exemplo, na região serrana do Rio de Janeiro, a administração do prefeito Rubens Bomtempo decidiu não repassar a verba de R$ 1 milhão prevista para o desfile das escolas de samba do município dizendo que vai usar o dinheiro para remediar o caos na saúde pública da cidade.
‘O bem estar da população’…
"Não estamos cancelando o carnaval da cidade, só não iremos repassar os recursos, que serão encaminhados para um setor que está em estado de calamidade e precisa de todo o empenho e recursos financeiros. Estamos pensando no bem-estar da população", disse à imprensa o presidente da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis, Juvenil dos Santos.
Obviamente o bravo Juvenil não ponderou que seria muito mais interessante para o "bem estar da população" se a administração da qual faz parte usasse mesmo para a saúde, como vem prometendo, 28% do orçamento municipal de R$ 714 milhões previsto para 2013, ou R$ 207 milhões, em vez de fazer carnaval — ou melhor, não fazer — com a economia de uma parcela ínfima desse montante.
Em outro município fluminense, Itatiaia, o prefeito Luiz Carlos Ypê anunciou que o carnaval não será realizado para se destinar os R$ 300 mil que custaria a festa para a compra de duas ambulâncias e a construção de uma creche.
Nas redes sociais, entretanto, moradores demonstram sua descrença nas promessas, lembrando que a festa de carnaval no centro da cidade foi cancelada por recomendação do corpo de bombeiros e porque as contas da administração municipal estariam engessadas, salvo gastos emergenciais, em função de uma ação do Ministério Público pedindo a cassação da candidatura de Ypê por compra de votos nas eleições 2012.
A credibilidade do doutor prefeito
Voltando a Petrópolis: além de não ter dado jeito na saúde do município nos oito anos em que já governou a cidade (de 2001 a 2008), o novamente prefeito Rubens Bomtempo, que por sinal é médico de formação, teve as contas de sua administração reprovadas duas vezes pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro e o registro de sua candidatura em 2012 indeferido por unanimidade no TRE-RJ, com base na Lei da Ficha Limpa, só conseguindo confirmar-se no processo eleitoral no dia 18 de outubro, a dez dias do segundo turno, graças a uma benevolência do TSE.
Fosse ele uma testemunha jurando sobre a Bíblia em um tribunal ao dizer que pretende mesmo tornar a saúde pública da sua cidade uma beleza, seria engolido pelo promotor e enxotado pelo júri.
O doutor Bomtempo e seu staff farão mais pelo "bem-estar da população" se brecarem em Petrópolis os autênticos sorvedouros de dinheiro público das prefeituras Brasil afora, ou seja, as fraudes em processos licitatórios, mas nesta malevolência o mandatário já foi enquadrado pelo Ministério Público, quando dos seus primeiros oito longos anos à frente da administração petropolitana.
02 de fevereiro de 2013
hugo de souza
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