O POVO ainda parece feliz feito pinto no lixo e adora Dilma Rousseff, algo alienado que está nos efeitos de uma economia mal parada, ou que mal se move. Mas a inflação persistente tem seu primeiro símbolo mais ou menos popular, o tomate, que está caro para chuchu e se tornou motivo de conversa e chacota nas praças da internet, as ditas "redes sociais".
Não dá, claro, para explicar o preço do tomate pelos desarranjos macroeconômicos. Mas o fruto tornou-se o bode expiatório da alta geral dos preços da comida, com perdão pela dissonância biológica, e de certo cansaço com três anos de inflação rodando em torno de 6%.
Nos últimos 12 meses, o preço de comer em casa subiu quase 14%. Na média geral da economia, os preços subiram 6,3%. O preço dos alimentos não subia tanto assim em 12 meses desde 2008. A inflação da comida também tem sido maior que o aumento dos salários, o que também não ocorria fazia uns cinco anos.
Os aumentos de alguns produtos básicos talvez reforcem o mal-estar do tomate. O preço da comida pesa mais na memória e especialmente no bolso dos mais pobres.
Farinhas e massas ficaram 32% mais caras nos últimos 12 meses; batata e legumes, 69%; o grupo de arroz e feijão, 27%; o óleo, 18%. As carnes estão bem comportadas, abaixo da inflação média, mas aves e ovos subiram 21%.
Claro que nem todos os preços sobem assim. Bens duráveis estão mais baratos, carros e eletroeletrônicos, por exemplo. São importados ou enfrentam concorrência do mercado internacional (e tiveram uma mãozinha da redução de impostos).
O preço dos eletroeletrônicos caiu quase 1% em 12 meses. Serviços, como despesas pessoais, médicos e dentista, encarecem mais de 10%.
Os custos domésticos crescem, os salários vão atrás, a indústria nacional padece da carestia, fica menos competitiva, perde mercado, desanima e segura investimentos. E estamos assim algo encalacrados.
Outro sinal de consumo excessivo é o aumento do deficit externo (deficit em conta-corrente, a diferença do valor de bens e serviços que exportamos e importamos). Neste 2013, o deficit deve passar de 3% do PIB, depois de três anos flutuando em torno de 2,2% do PIB (2007 foi o último ano de uma série rara de anos de superavit).
Para piorar, estamos mais e mais financiando o deficit com dívida externa.
Os economistas do governo e adeptos acham que o preço da comida disparou devido a safras ruins pelo mundo e não tão boas no Brasil. O aumento grande do salário mínimo no ano passado teria colocado lenha na fogueira dos preços de comida e serviços (mais dinheiro, mais consumo, mais oportunidade de repasse de preços para o consumidor), coisa que não vai se repetir daqui por diante até 2014, pelo menos.
O problema é que há mais fogo sob a frigideira da inflação que em 2008. O nível de preços teria subido ainda mais agora não fossem controles artificiais como reduções de impostos, do preço da energia elétrica e do adiamento do reajuste da passagem de ônibus. Além do mais, tais medidas estimulam ainda mais o consumo.
Enfim, o mercado de trabalho está muito mais apertado agora do que em 2008.
07 de abril de 2013
Não dá, claro, para explicar o preço do tomate pelos desarranjos macroeconômicos. Mas o fruto tornou-se o bode expiatório da alta geral dos preços da comida, com perdão pela dissonância biológica, e de certo cansaço com três anos de inflação rodando em torno de 6%.
Nos últimos 12 meses, o preço de comer em casa subiu quase 14%. Na média geral da economia, os preços subiram 6,3%. O preço dos alimentos não subia tanto assim em 12 meses desde 2008. A inflação da comida também tem sido maior que o aumento dos salários, o que também não ocorria fazia uns cinco anos.
Os aumentos de alguns produtos básicos talvez reforcem o mal-estar do tomate. O preço da comida pesa mais na memória e especialmente no bolso dos mais pobres.
Farinhas e massas ficaram 32% mais caras nos últimos 12 meses; batata e legumes, 69%; o grupo de arroz e feijão, 27%; o óleo, 18%. As carnes estão bem comportadas, abaixo da inflação média, mas aves e ovos subiram 21%.
Claro que nem todos os preços sobem assim. Bens duráveis estão mais baratos, carros e eletroeletrônicos, por exemplo. São importados ou enfrentam concorrência do mercado internacional (e tiveram uma mãozinha da redução de impostos).
O preço dos eletroeletrônicos caiu quase 1% em 12 meses. Serviços, como despesas pessoais, médicos e dentista, encarecem mais de 10%.
Os custos domésticos crescem, os salários vão atrás, a indústria nacional padece da carestia, fica menos competitiva, perde mercado, desanima e segura investimentos. E estamos assim algo encalacrados.
Outro sinal de consumo excessivo é o aumento do deficit externo (deficit em conta-corrente, a diferença do valor de bens e serviços que exportamos e importamos). Neste 2013, o deficit deve passar de 3% do PIB, depois de três anos flutuando em torno de 2,2% do PIB (2007 foi o último ano de uma série rara de anos de superavit).
Para piorar, estamos mais e mais financiando o deficit com dívida externa.
Os economistas do governo e adeptos acham que o preço da comida disparou devido a safras ruins pelo mundo e não tão boas no Brasil. O aumento grande do salário mínimo no ano passado teria colocado lenha na fogueira dos preços de comida e serviços (mais dinheiro, mais consumo, mais oportunidade de repasse de preços para o consumidor), coisa que não vai se repetir daqui por diante até 2014, pelo menos.
O problema é que há mais fogo sob a frigideira da inflação que em 2008. O nível de preços teria subido ainda mais agora não fossem controles artificiais como reduções de impostos, do preço da energia elétrica e do adiamento do reajuste da passagem de ônibus. Além do mais, tais medidas estimulam ainda mais o consumo.
Enfim, o mercado de trabalho está muito mais apertado agora do que em 2008.
07 de abril de 2013
Vinícius Torres Freire - Folha de São Paulo
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