"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ESQUERDA x DIREITA (Parte 3)

A ascensão dos Estados Unidos

As medidas keynesianas do New Deal, implantadas desde 1933, não tiveram resultados tão palpáveis como na Alemanha de Hitler. Tanto que, já nos anos 30, tais medidas começaram a ser contestadas pelos liberais, alguns dos quais acusaram os gastos do governo como o motivo da crise de 1929 ter se estendido por toda a década de 30, passando a ser chamada então de “Grande Depressão”. Ficou célebre o debate entre Keynes e Hayek, do qual este último saiu aparentemente perdedor, levando em conta a projeção mundial que alcançou Keynes e o ostracismo em que Hayek foi relegado nas décadas seguintes.

A recuperação, portanto, só veio a ocorrer a partir da II Guerra mundial quando, mais uma vez, os EUA lucraram com a desgraça da Europa. A localização geográfica ,longe do foco da guerra, evitou que as indústrias norte-americanas fossem destruídas, assim como sua produção agrícola. Como resultado, a produção industrial norte-americana triplicou durante o conflito, chegando a responder por metade de toda a produção mundial em 1946!

A II Grande Guerra, portanto, marcou a ascensão dos EUA ao posto antes ocupado pela Inglaterra, que até então comandava um império com colônias espalhadas por todo mundo. Aliás, não só a Inglaterra, como as demais nações européias mantinham colônias principalmente na África e na Ásia. Foi a partir do enfraquecimento das nações européias na II Guerra que as colônias aproveitaram para se rebelar, iniciando o processo de descolonização da segunda metade do século XX.

Mas, voltando aos EUA, ao contrário da primeira experiência pós-guerra, que levou a uma série de equívocos que culminaram na crise de 1929, desta vez os norte-americanos se prepararam para o novo pós-guerra. Além dos serviços terem ganhado mais espaço no PIB norte-americano, reduzindo assim o peso da indústria, agora os EUA detinham 80% das reservas mundiais de ouro e, portanto, davam as cartas da economia mundial

Primeiro eles asseguraram o domínio financeiro do mundo, pois mesmo antes do final da II Guerra Mundial, delegações de quarenta e quatro países, comandados pelos EUA, claro, aprovaram o acordo de Bretton Woods, que definia a conversibilidade entre o dólar e ouro, estabelecendo assim o dólar como moeda internacional, e a criação do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (que hoje corresponde a Organização Mundial do Comércio – OMC), o Banco Mundial (BIRD), com o objetivo de financiar as obras de reconstrução da Europa, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com a missão de estimular o comércio mundial e fiscalizar a normatividade das novas regras monetárias.Estava então consolidado o processo de migração do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro.

Ainda no final da década de 40 surgia a Doutrina Truman, com o objetivo de conter a expansão do comunismo no mundo, e o Plano Marshal, uma derivação da Doutrina Truman, porém com um aspecto mais econômico, conhecido oficialmente como Programa de Recuperação Européia.

Não era caridade. Era pura estratégia econômica e ideológica, pois ao recuperar o ambiente econômico europeu e japonês, os EUA asseguravam a existência de um mercado consumidor para sua indústria, além de garantir aliados capitalistas contra o avanço do socialismo soviético. Além do mais, ao emprestar dinheiro, os EUA assumia a posição de credor do mundo.

Deste modo, os EUA injetaram na Europa US$ 30 bilhões entre 1948 a 1961. Uma merreca para os padrões de hoje, mas, na época, o suficiente para dinamizar a economia européia em seu incrível esforço de recuperação. Como contrapartida, as economias européias se viam comprometidas a seguir as diretrizes norte-americanas, através das ações macroeconômicas keynesianas.



O ápice do esquerdismo

Assim como os Estados Unidos, a URSS saiu fortalecida da II Guerra Mundial, principalmente por ter subjugado Hitler nos momentos finais de guerra (apesar de ter inspirado e ajudado Hitler em seu projeto nos anos iniciais da guerra). E mesmo com a opção russa pelo stalinismo (em detrimento ao trotskismo, que pregava a imediata exportação da revolução a nível global), a ideologia marxista multiplicou seus adeptos ao redor do mundo, principalmente a partir da crise de 1929, que foi entendida pelos comunistas como a comprovação da “profecia” marxista sobre o germe autodestrutivo do sistema capitalista.

Aos poucos, novas revoluções foram ocorrendo em outros países e em diferentes continentes, derrotando os esforços norte-americanos em neutralizar a ameaça comunista.

Na economia, o bloco socialista também superava o capitalista, crescendo a taxas próximas aos 10% em média nas décadas de 50 e 60 (segundo os dados fornecidos pelos comunistas, claro).

O prestígio da URSS chegou ao auge em 1961, quando Yuri Gagarin entrou para a história como o primeiro homem a chegar ao espaço. Era a prova de que a URSS havia ultrapassado os EUA em tecnologia!

Dois anos antes, os comunistas tomavam o poder na primeira nação em continente americano: Cuba, a ilha que era considerada até então uma espécie de “quintal” ou um “bordel” dos Estados Unidos.

O simbolismo da revolução cubana ganhou ainda mais ênfase com o status de estrelas internacionais adquiridos por Fidel Castro e, principalmente, por Che Guevara. E novamente o velho dilema trostkista x stalinista voltaria à tona entre o argentino Che, que queria exportar a revolução para o resto do mundo, e Fidel Castro, que preferia concentrar os esforços na consolidação do novo regime na ilha.

No Brasil, o esquerdismo havia tomado agora um novo ímpeto com a renúncia do populista Jânio Quadros, há apenas sete meses depois de assumir o cargo.

Agora teríamos não apenas um simpatizante do comunismo no poder, o vice-presidente João Goulart, como já tínhamos também alguns governadores, como o também gaúcho Leonel Brizolla, Mauro Borges (Goiás), Nei Braga (Paraná) e Miguel Arraes (Pernambuco).

Diante do impasse que se criou para a ascensão ao poder de um presidente de esquerda, foi instaurado no Brasil o regime parlamentarista, com o objetivo de enfraquecer o poder do novo presidente.

Apesar do poder de fato ter ficado nas mãos do então primeiro-ministro, Tancredo Neves, o novo governo já preparava reformas de base que conduziriam o Brasil na rota socialista, entre as quais as mais polêmicas eram a desapropriação dos imóveis das pessoas que tivessem mais de uma casa (só seria permitido ter uma) e a desapropriação das terras com mais de 600 hectares para a realização da tão sonhada reforma agrária.

No resto do mundo, apesar das divergências e dos esforços norte-americanos, o comunismo continuava a ganhar novos adeptos, conquistando quase todo o leste europeu e se expandindo pela Ásia, já havia ganhado em 1949 um reforço de peso: a China, que já na época respondia por 1/5 da população mundial.

Nas Américas, além das guerrilhas espalhadas por todo o continente, os esquerdistas lutavam para chegar ao poder também pela via democrática. No Brasil, a oportunidade veio com a ascensão de João Goulart ao poder, como também por seus esforços em restaurar o regime presidencialista, que lhe restituiria os plenos poderes nas eleições de 1964. O desfecho desta história todo mundo conhece.

Enquanto isso, em Cuba, a Guerra Fria entre comunistas e capitalistas chegou ao seu ápice na chamada “Crise dos Mísseis”, quando os russos instalaram bombas ogivas nucleares apontadas para os EUA na ilha de Fidel. Nunca estivemos tão próximos de uma catástrofe nuclear. O mundo estava dividido.

No próximo post, vamos falar do ápice do keynesianismo. Até lá!

Amilton Aquino

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