Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
terça-feira, 18 de outubro de 2011
ESQUERDA x DIREITA (PARTE 11)
O colapso do Comunismo
Olá amigos! Finalmente vamos falar sobre um dos mais importantes fatos históricos do século XX: a queda do comunismo, acontecimento que mudou a geografia político-econômica mundial.
A transição do comunismo chinês
Como vimos no último post, as rápidas transformações introduzidas na economia mundial com a intensificação do processo de globalização também começaram a ecoar nos países do bloco comunista.
E assim como os japoneses foram os precursores do processo de globalização, um outro asiático, a China, foi o primeiro país comunista a implementar reformas em sua economia com o objetivo de se adaptar ao novo mundo globalizado.
Reconhecendo a incapacidade de ajustar a produção planificada a sua imensa e crescente demanda, o sucessor de Mao Tse Tung, Deng Xiaoping, já em 1978, iniciou um ambicioso programa de privatização de estatais e de fazendas, pondo fim a agricultura coletiva, uma das principais características das economias comunistas. Ironicamente, a China, um dos expoentes da esquerda radical, tornava-se a pioneira de uma das medidas “neoliberais” mais combatidas pelas esquerdas de todo mundo: a privatização.
Aliás, os chineses anteciparam também em mais de uma década a segunda mais combatida medida “neoliberal” (a abertura da economia ao investimento estrangeiro direto), medida esta que viria a ser listada como o sétimo item do famoso Consenso de Washington (ver post 9).
De olho no incrível progresso do Japão, os chineses não só reataram relações diplomáticas com seus arquiinimigos, como abriram suas fronteiras para os investimentos japoneses, os quais se tornaram seus os maiores credores.
E assim como aconteceu como a Coréia, que acabou absorvendo tecnologia japonesa a partir da descentralização da linha de produção introduzida pelo novo modelo industrial implementado pela Toyota (ver post 10), os chineses também iniciaram sua jornada rumo à economia de mercado orientada a exportação de produtos industrializados.
Mas os investimentos japoneses não seriam suficientes para alavancar o crescimento de uma economia com uma população de mais de um bilhão de habitantes. Então os chineses reataram relações com os Estados Unidos e demais nações européias visando atrair mais capital para as recém criadas “Zonas Econômicas Especiais”, onde empresas estrangeiras podiam se instalar, desde que em parceria com empresas chinesas. Surgia o “socialismo de mercado”, um neologismo chinês para disfarçar a sua gradativa transição para o capitalismo.
Aos poucos, as “zonas especiais” foram se multiplicando e absorvendo o que restava da antiga economia planificada comunista, processo este que culminaria com o abandono total do “socialismo de mercado” em 1997, pondo em prática o segundo e definitivo programa de privatização chinês.
Como resultado desta transição que durou mais de duas décadas, a China iniciaria o século XXI como uma das principais economias capitalistas do mundo emergente, conservando do comunismo apenas o regime autoritário de partido único (apesar da relativa abertura política, com o repúdio formal do governo chinês a Revolução Cultural que vigorou até a morte de Mao Tse Tung, em 1976).
O colapso da URSS
Ao contrário da bem sucedida transição chinesa, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) demoraram demais a perceber as mudanças impostas pelo processo de globalização, o que levou o bloco socialista a um gradativo processo de decadência que culminaria com a dissolução da URSS, em 1991.
Muito antes dos primeiros sinais de decadência do império comunista soviético (a partir dos anos 70), a supremacia do bloco capitalista ficara evidente já no final dos anos 50, quando os alemães orientais começaram a migrar em massa para a Alemanha Ocidental, o que motivaria a construção do famoso Muro de Berlim, em 1961, o símbolo da “cortina de ferro” que dividiu o continente europeu e o mundo.
Já nos anos 80, ironicamente um movimento sindicalista viria a chamar a atenção do mundo para insatisfação dos poloneses com o sistema comunista. Lech Walessa, o “Lula” polonês, e o seu sindicato Solidariedade viria a se tornar o símbolo da luta pela democracia no bloco comunista. Preso pelos militares, sua popularidade aumentou ainda mais, tornando-o o favorito para assumir a o comando da Polônia pós-comunista, o que realmente viria a acontecer em 1990.
Na URSS, os sinais de decadência ficavam ainda mais evidentes com a insuficiência na produção de energia, a estagnação da produção de petróleo, da siderurgia e da agricultura, o que tornava a cada dia mais freqüentes (e maiores) as filas para a compra de produtos básicos.
A coisa ficou ainda mais complicada para os comunistas quando o presidente dos EUA, Ronald Reagan, anunciou no início dos anos 80 sua intenção de implementar um enorme projeto de defesa, baseado em satélites, o qual ficou conhecido como projeto “Guerra nas Estrelas”. Tal projeto, que custaria algumas dezenas de bilhões de dólares, exigia da URSS uma contra-ofensiva que certamente custaria também alguns bilhões, cada dia mais escassos no bloco comunista. A esta altura os norte-americanos já sabiam que parte do arsenal soviético exibido diversas vezes em desfiles militares não era de verdade. Muitos não passavam de carros alegóricos, ocos por dentro, contando apenas com lataria externa. Os norte-americanos davam um xeque-mate nos soviéticos.
Foi neste contexto que Gorbachev iniciou as conversações com Reagan, com o objetivo de por um fim na corrida armamentista, afinal os gastos extras militares tornaram-se um peso excessivo não apenas para a URSS, como também para os EUA. Segundo a World Watch, uma organização não-governamental, os gastos militares da Guerra Fria envolveram gastos na cifra dos 17 trilhões de dólares, entre os anos de 1948 e 1988. Sem dúvida, um paraíso para a indústria bélica, mas um câncer para as economias dos EUA e da URSS.
Ficava claro que alguma coisa tinha que ser feita. E foi com esta percepção que o então secretário-geral do Partido Comunista, Mikhail Gorbachev, discursou no 27º Congresso do partido, em 1986, alertando para atrofia econômica e tecnológica da URSS, que estava ficando a cada ano mais vulnerável em relação aos inimigos ocidentais.
O primeiro passo dado por Gorbachev foi a abertura política (Glasnost, que em russo significa “transparência”), retirando do Partido Comunista a prerrogativa de tomar todas as decisões secretamente e colocando a população em uma posição de participação mais efetiva e de fiscalização.
O segundo passo foi a Perestroika, um plano de reestruturação econômica que previa a criação de uma economia mista e o redirecionamento da maior parte dos recursos do orçamento militar para o setor produtivo.
A exigência de uma maior “transparência” ecoou pelas demais repúblicas soviéticas e países satélites do leste europeu, tornando-se o gatilho para a eclosão de vários movimentos clamando por mais aberturas e reformas.
Diante da impotência da URSS diante de tantas pressões, Gorbachev liberou os países do leste europeu para seguirem seus próprios caminhos. Sem a resistência soviética, aumentaram ainda mais as pressões sobre os regimes do leste europeu, até que no dia 9 de novembro de 1989 o governo da Alemanha Comunista liberou seus cidadãos para visitarem Berlim Ocidental. Imediatamente uma multidão se dirigiu aos pontos de passagem do muro, deixando os guardas impotentes, diante da enorme desvantagem numérica. Alguns cidadãos mais afoitos começaram a subir no muro, incentivando os demais a fazerem o mesmo, em um clima de celebração com a multidão que se formava também do outro lado do muro. Imediatamente, começaram a aparecer pás e picaretas, dando início a eufórica derrubada do muro. E assim como o muro simbolizou a divisão do mundo no momento da construção, agora a queda do muro de Berlim simbolizava a derrocada do regime comunista.
Na URSS, a queda do Muro de Berlim simbolizava também a derrocada da economia soviética. A Perestroika piorou ainda mais a situação, pois a casta de funcionários de auto-escalão que se formou em 70 anos de comunismo boicotou as reformas propostas por Gorbachev, que previa uma transição em quatro etapas. Quando a casta política percebeu que a transição para o capitalismo era irreversível, houve uma corrida para a partilha dos principais setores da economia, queimando as etapas previstas e mergulhando a URSS num verdadeiro “salve-se quem puder” e, claro, deixando a população órfã da já escassa infra-estrutura soviética.
Diante do caos que se formou, alguns membros do PC tentaram ainda um golpe de estado, em 1991, no qual Gorbachev ficou detido por três dias. A resistência ao golpe foi conduzida por Boris Iéltsin, que viria a se tornar o primeiro presidente da Rússia, com a dissolução da URSS, cinco meses depois.
No próximo post, vamos falar dos difíceis anos 90.
Amilton Aquino
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