A eleição de padre Gaito
Em 1954, a Bahia fez uma aliança política do crioulo doido: PTB, UDN e comunistas, que naquela época, no País, viviam brigando como gato e cachorro: para governador Antonio Balbino (PSD na legenda do PTB, apoiado pela UDN e pelos comunistas), para senador Juracy Magalhães (UDN) e Lima Teixeira (PTB).
Getulio havia se matado em 24 de agosto, a eleição seria em 3 de outubro, e João Goulart, presidente nacional do PTB, já cogitado para vice-presidente de Juscelino, governador de Minas pelo PSD, veio à Bahia apoiar a chapa salada de frutas. Os candidatos foram ao interior fazer um comício juntos.
No comando do palanque, padre Gaito, um vigário brigão, inimigo furioso do PSD, cujo candidato a governador era Pedro Calmon, baiano ilustre, reitor da Universidade Federal do Rio e membro da Academia Brasileira de Letras.
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BALBINO
Juracy pegou o microfone antes de o padre Gaito abrir o comício:
- Minha boa gente baiana! Meus amigos! Aqui, nesta noite, nesta praça, sobre todos nós, paira a alma de um homem que foi amigo de cada um dos candidatos e sobretudo do povo brasileiro, a quem deu sua vida e sua morte. Vamos, todos, rezar uma fervorosa oração em sua memória, de joelhos.
A praça se pôs toda de joelhos, como numa romaria do padre Cícero. No palanque, também de joelhos, padre Gaito, Balbino, Juracy, Lima Teixeira e João Goulart, com sua perna dura, de banda, apoiado nas costas de Balbino, como um Cristo torto. Rezaram, contritos, o Pai Nosso e a Ave-Maria inteiros.
E o padre Gaito, gordo e grande, começou o comício. Como sempre, agressivo, violento, apoplético contra os adversários. Foi falando, foi imprecando, foi ficando cada vez mais gordo, mais vermelho, já quase roxo.
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JURACY
E padre Gaito desabou no palanque. Caiu duro. Todos gritando se havia um médico. Havia. Mas, quando chegou, era tarde. Nada tinha o que fazer. Padre Gaito estava morto, ao pé do microfone, um colapso fulminante.
Era o fim do comício. Mas Juracy era profissional. Pegou o microfone:
- Meus amigos, meus irmãos! Padre Gaito morreu! Padre Gaito está morto! E vocês são testemunhas que suas últimas palavras, na hora de entrar na eternidade, foram um apelo para esta cidade, sua cidade, a cidade da qual ele era o vigário, votasse inteira na nossa chapa. Que Deus o leve e nos ilumine!
Balbino, Juracy e Lima Teixeira ganharam. Ali e na Bahia toda. E, no ano seguinte, Jango também ganhava com Juscelino. Padre Gaito morreu por todos.
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MENDES DE BARROS
Em 2008, Alagoas estava passando dos limites. E, evidentemente, não por culpa de seu povo, mas de seus dirigentes políticos. O governo do Estado, vazio como um fim de feira. A Assembléia Legislativa, transformada numa delegacia de maus costumes. E a violência política e pessoal se espalhando pelo Estado inteiro.
Um dos absurdos foi a invasão, depredação e roubo dos computadores do escritório de advocacia do consagrado advogado, ex-candidato do MDB a senador e durante muitos anos procurador geral da Assembléia Legislativa, Luís Gonzaga Mendes de Barros.
Foi exatamente ele quem denunciou os escândalos e crimes da Assembléia Legislativa, que na época levaram uma dezena de deputados à exclusão da mesa diretora, e muitos outros à Justiça, à polícia e à cadeia.
Pensaram amedrontar Mendes de Barros. Parece que não o conheciam. Ele é igual á imagem que ficou de Padre Gaito, luta por todos.
Sebastião Nery
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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