"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 6 de junho de 2013

"SABATINA DE BARROSO NO SENADO FOI UM PIQUENIQUE ENSOLARADO E DOCE"

 
 
Não passam de "piqueniques", disse o senador Pedro Taques (PDT-MT), as sessões em que se examinam os indicados ao Supremo Tribunal Federal. No caso da sabatina de Luís Roberto Barroso, que se estendeu durante todo o dia de ontem, provavelmente não poderia ser de outro modo.
 
Os elogios a seu nome vêm de todos os lados, embora não haja mistério sobre algumas de suas opiniões mais polêmicas --como a permissão de aborto para fetos anencéfalos, e a defesa das postulações de Cesare Battisti.
 
"Desta vez", disse o oposicionista Aécio Neves (PSDB-MG), "a presidente Dilma acertou".

Andre Borges/Folhapress
Luís Roberto Barroso, na sabatina do Senado
O advogado Luís Roberto Barroso, na sabatina do Senado

Já sem o azedume crítico e a retórica de outros tempos, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) considerou que não se lembrava de um indicado ao Supremo com as qualidades de Barroso.
Referia-se, principalmente, às atitudes do candidato. Barroso parecia muito descontraído, amigável e modesto.

 
"O juiz não é um sabe-tudo", disse ele, "e não é o melhor árbitro em qualquer questão que se apresente".
 
De fato, a sabatina foi o lugar para que qualquer questão se apresentasse. Muitos senadores aproveitaram a ocasião para expressar suas preocupações sobre o país em geral.
 
Falaram sobre os massacres no campo, o atendimento de saúde, a inautenticidade dos partidos políticos. Temas sobre os quais, naturalmente, volta e meia o Supremo se manifesta --mas a diferença entre problema jurídico e questão política nem sempre foi levada em conta.
 
E, afinal, Barroso não é candidato à Presidência da República para ter de apresentar soluções sobre tudo.
 
MENSALÃO
 
Em perguntas mais específicas, entretanto, ele se esquivou. Tinham de questioná-lo, por exemplo, sobre os temas do mensalão. Admitirá os recursos apresentados pelos réus?
 
Barroso não quis responder, porque seria o equivalente a adiantar seu voto no julgamento. Mas --reagiu o senador Pedro Taques-- se ele ainda não é ministro, não está revelando voto nenhum. E se não diz como vê a questão, o próprio objetivo de uma sabatina se esvazia...
 
Mas talvez fosse ruim que a sabatina se condensasse numa espécie de pesquisa de opinião. O ministro não é um representante do Senado --é alguém a ser avaliado em função de sua reputação, de seu bom senso, de sua visão de mundo geral (liberal de centro-esquerda, podemos dizer no caso).
 
Face ao risco, tão presente nestes tempos, de estrelismo e desequilíbrio emocional nos membros do Supremo, tudo leva a crer que Barroso é uma pessoa de mais convivialidade, modéstia e senso prático quanto às limitações do cargo. O piquenique foi ensolarado e doce.

06 de junho de 2013
MARCELO COELHO -  FOLHA DE SÃO PAULO

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