"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UM POUCO DE HISTÓRIA: CELSO BRANT - AS DIRETAS DE 1963

BRASÍLIA - Três candidatos disputavam a cátedra de Teoria Geral do Estado na Faculdade de Direito de Minas, naquele começo de 1952. Era uma festa da cultura. Auditório lotado, total silêncio, como numa catedral.

E eu ali, sem conhecer ninguém, no meu primeiro dia de jornal, no O Diario, perguntando ao colega do Estado de Minas, Fábio Doyle (hoje diretor do Diário da Tarde), quem era quem.

Disputavam a cátedra Onofre Mendes Júnior, procurador-geral do Estado, professor Carvalho, procurador da Prefeitura, e ele jovem, bem jovem, uns 30 anos, cabelos revoltos, com cara de gênio rebelde.

Celso Brant

Deu um show. Citava os franceses em francês, os italianos em italiano, os alemães em alemão, numa argumentação seca, segura, ritmada, galopante. A banca, de sisudos mestres das Faculdades de Direito do Rio, São Paulo e Minas, ouviram-no entre fascinados e irritados diantes daquela petulância juvenil.

No final, no último dia, o catedrático examinador de São Paulo lhe disse:

- O senhor tem talento e cultura, saber e exposição. Mas lhe falta idade. o senhor não vai querer entrar aqui, como catedrático, de calças curtas.

E Celso Brant não catedrático da Faculdade de Direito de Minas Gerais. Ganhou Onofre Mendes Júnior (pai de Lucas Mendes, o mineiro-americano).

Remessa de lucros

Em 1963, Celso Brant chega à Câmara Federal e apresenta um projeto que foi o Diretas-Já daqueles tumultuados tempos: a Lei de Remessa de Lucros. Não houve os grandiosos comícios de 84, mas sacudiu o Congresso e o país em debates e lutas, porque a velhota Imprensa venal caiu em cima dele e de seu projeto como se fosse uma declaração de guerra a seus patrões do Norte.

Mas foi aprovado. E quem viveu 64 sabe da Lei de Remessa de Lucros foi o verdadeiro estopim do golpe. A partir dali, a embaixada norte-americana entrou de cabeça na compra de generais, jornais, Ibad, Ipes e Congresso.

Veio o golpe, Celso Brant foi cassado . Mas não calou jamais.

Traição

O querido e saudoso Celso Brant, na véspera da morte, escreveu para a Tribuna da Imprensa seu último artigo, "Lula e o FMI" e morreu sem o tormento de ler, jornais de ontem, a suprema traição de Lula: - "Remessa de lucros para o Exterior cresceu 81% nos três primeiros meses de 2004" (Jornal Folha).

Ele tinha razão. O Brasil precisa de uma Nova Inconfidência.

Sebastião Nery
Diário de Pernambuco - 30 de Abril de 2004

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