Crítico ríspido do governo e do partido de Lula da Silva, Roque Sponholz fala sobre a importância da charge e mostra sua peculiar visão de Brasil. Para o artista, o país está mais para garranchos que para arte final.
Se “charge sem crítica não é charge, é piada de salão”, podemos ter absoluta certeza de que o trabalho de Roque Sponholz é a charge. Paranaense de Imbituva, Sponholz é conhecido por ser crítico ferrenho do governo Lula e do Partido dos Trabalhadores.
Sempre atento ao ir e vir da política e com visão muito analítica do contexto do país, o chargista possui um acervo de charges das mais contundentes, grande parte da pimenta reservada ao “presiMente”, como o artista define Lula da Silva.
Roque Sponholz é arquiteto e urbanista formado na Universidade Federal do Paraná, e atualmente é professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde leciona planejamento urbano e desenho técnico.
Já foi vereador, mas atualmente participa da Política sem mandato, como chargista dos que pegam no pé, com contundência e talento inquestionáveis.
Em sua opinião, o que é uma charge?
Charge sem crítica, seja ela aos costumes, ao meio ambiente, ao esporte, ao cotidiano, aos governos, aos santos, diabos e tiranos, etc, não é charge; é piada de salão.
Qual a importância da imagem como linguagem para a transmissão da informação?
É fundamental. Dá para imaginar o que seria de um presidente de uma (ainda) república, que nada lê, sem a imagem gráfica, televisiva ou até mesmo “auditiva”? Pois, tal qual o presidente, o brasileiro tem preguiça de ler. Dezesseis milhões e um deles são analfabetos.
Para entender as charges, o público deve estar acompanhando as notícias sobre política ou, ao contrário, a imagem é que desperta o interesse para que o público procure informações sobre o assunto?
Ambos. Às vezes, a charge desperta o leitor para determinado assunto que poderia lhe passar despercebido. Por outro lado, naquelas em que o fato foi amplamente divulgado, a charge acaba sendo apenas um complemento.
Em alguma ocasião uma charge feita por você mudou o desfecho de algum fato político?
Infelizmente, desde os tempos de Daumier, isso nunca ocorreu com qualquer charge. Talvez alguma charge tenha ajudado a mudar alguma coisa, mas não foi somente ela o motivo para tal.
Enquanto vereador, foi alvo de algum chargista?
Motivos certamente eu dei, mas eu dos era amigo de todos os chargistas daquela época. Principalmente do mais crítico, mordaz e craque deles: Ireno José, já falecido. Tenho caricatura dele que guardo com carinho e honra, mas não charge.
A liberdade para criticar é maior na charge que no texto, em sua opinião?
Liberdade pressupõe igualdade. Portanto, é a mesma.
Se não fosse chargista, o que seria?
Como diria aquele ministro, estou chargista, não sou chargista. Sou arquiteto/urbanista, professor universitário de planejamento urbano, tentando com meus alunos entender por que este desgoverno prioriza e incentiva o transporte individual em detrimento do transporte coletivo, tornando nossas cidades desumanas, irrespiráveis, inseguras, enfim… Caóticas.
O Brasil por Sponholz
Desde a ditadura, fala-se que o Brasil é o país do futuro. Para o senhor, isso é verdade ou temos mais cara de passado?
Pelo andar da carruagem atrelada a pangarés que dão dois passos à frente e quatro para trás, o futuro fica cada vez mais com cara de passado.
Qual é a cor do Senado?
Marrom é a cor não só do Senado, mas também da Câmara e do Palácio do Planalto.
E de 2011?
2011 terá a cor da esperança de que nos próximos quatro anos se possa recuperar oito perdidos.
O Brasil está mais para rascunho ou arte final?
Está mais para garranchos. Está mais para o final da arte do que para a arte final.
Karina Trevizan e Ucho Haddad
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário