Uma coisa é estabelecer alianças a partir de programas de governo; outra, com base em projeto de eternização no poder. Neste, valem todos os meios
A presidente escolheu momento apropriado, em todos os sentidos, para explicar o que seu governo entende por política de coalização partidária. Na posse de novos ministros, semana passada, disse Dilma, em resumo, que é impossível governar um país como o Brasil sem a aliança de forças políticas, necessária para aprovar o que for necessário no Congresso, dar sustentação política ao Planalto em todas as circunstâncias. Dilma não está formalmente errada, e chega a ser óbvio este entendimento.
Os tucanos de Fernando Henrique Cardoso se aproximaram da chamada direita (PFL) — antes do PT e legendas ditas de esquerda —, a fim de viabilizar as reformas para dar sustentação ao Plano Real.
Foi imprescindível, também, como tem sido desde o fim da ditadura, o apoio do PMDB, especialista em estar no condomínio do poder, mas sem pagar o ônus de governar.
O enviesamento do que o governo Dilma entende por coalizão fica exposto quando se considera quem ela deu posse: os novos ministros da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB); do Trabalho, Manoel Dias (PDT), e da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco (PMDB). Andrade assumiu o posto por ser de Minas, colégio eleitoral em que o Planalto quer colocar um cunha, devido ao adversário em 2014 Aécio Neves, e um outro, em potencial, Eduardo Campos. A ascensão de Manoel Dias significa, na prática, a reabilitação de Carlos Luppi, afastado do ministério por evidentes “malfeitos”.
E Moreira Franco, resgatado da inexpressiva pasta de Assuntos Estratégicos a pedido do PMDB do vice-presidente Michel Temer. Não há, está claro, qualquer preocupação com o aperfeiçoamento da administração pública. Nem com a ética. O que move as alterações ministeriais é apenas a preocupação eleitoral.
Também evidente na criação de mais uma ministério, o da Secretaria da Pequena e Média Empresa, o 39º do governo Dilma, nível de recorde mundial. Tancredo Neves herdaria um Brasil marcado por duas décadas de regime de força, e estava à frente de ampla coligação, incluindo a parte dissidente do governo militar. Precisava de um ministério robusto para acolher aliados. Pois projetou 21 pastas, 18 a menos que Dilma.
O desvario é tamanho que o empresário Jorge Gerdau, chamado por Dilma para coordenar um grupo estratégico a fim de melhorar a qualidade da gestão do Executivo, tachou a proliferação de ministérios, em entrevista à “Folha de S.Paulo”, de “burrice”, “loucura” e “irresponsabilidade”. A esperança dele é que se tenha chegado a um limite, depois do qual viria um “saneamento”.
Não se deve apostar. Afinal, quando coalizão partidária se baseia apenas em projeto de eternização no poder, e não de governo, todos os meios passam a ser justificáveis. Foi assim no mensalão. Se for preciso criar 40 ministérios, mesmo que a presidente não possa despachar com a frequência desejada com cada ministro, que assim seja.
19 de março de 2013
Editorial d' O Globo
Os tucanos de Fernando Henrique Cardoso se aproximaram da chamada direita (PFL) — antes do PT e legendas ditas de esquerda —, a fim de viabilizar as reformas para dar sustentação ao Plano Real.
Foi imprescindível, também, como tem sido desde o fim da ditadura, o apoio do PMDB, especialista em estar no condomínio do poder, mas sem pagar o ônus de governar.
O enviesamento do que o governo Dilma entende por coalizão fica exposto quando se considera quem ela deu posse: os novos ministros da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB); do Trabalho, Manoel Dias (PDT), e da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco (PMDB). Andrade assumiu o posto por ser de Minas, colégio eleitoral em que o Planalto quer colocar um cunha, devido ao adversário em 2014 Aécio Neves, e um outro, em potencial, Eduardo Campos. A ascensão de Manoel Dias significa, na prática, a reabilitação de Carlos Luppi, afastado do ministério por evidentes “malfeitos”.
E Moreira Franco, resgatado da inexpressiva pasta de Assuntos Estratégicos a pedido do PMDB do vice-presidente Michel Temer. Não há, está claro, qualquer preocupação com o aperfeiçoamento da administração pública. Nem com a ética. O que move as alterações ministeriais é apenas a preocupação eleitoral.
Também evidente na criação de mais uma ministério, o da Secretaria da Pequena e Média Empresa, o 39º do governo Dilma, nível de recorde mundial. Tancredo Neves herdaria um Brasil marcado por duas décadas de regime de força, e estava à frente de ampla coligação, incluindo a parte dissidente do governo militar. Precisava de um ministério robusto para acolher aliados. Pois projetou 21 pastas, 18 a menos que Dilma.
O desvario é tamanho que o empresário Jorge Gerdau, chamado por Dilma para coordenar um grupo estratégico a fim de melhorar a qualidade da gestão do Executivo, tachou a proliferação de ministérios, em entrevista à “Folha de S.Paulo”, de “burrice”, “loucura” e “irresponsabilidade”. A esperança dele é que se tenha chegado a um limite, depois do qual viria um “saneamento”.
Não se deve apostar. Afinal, quando coalizão partidária se baseia apenas em projeto de eternização no poder, e não de governo, todos os meios passam a ser justificáveis. Foi assim no mensalão. Se for preciso criar 40 ministérios, mesmo que a presidente não possa despachar com a frequência desejada com cada ministro, que assim seja.
19 de março de 2013
Editorial d' O Globo
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