"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ANOTAÇÕES DO JORNALISTA CARLOS CHAGAS

Sobre a expulsão de Miracapilo e Volcke

Para os naturais, nos tempos do Brasil Colônia, chamava-se degredo. Depois, no recente período militar, virou banimento, justificativa para definir os presos políticos mandados para o exterior em troca da vida de seqüestrados. Hoje, acabou. Cidadão brasileiro não pode mais ser mandado embora do país. Para os estrangeiros, porém, continua valendo a expulsão, com a ressalva de que se casados com brasileiras, tendo filhos brasileiros, não podem ser expulsos.

Ignora-se o estado civil de Jerome Volcke, mas é certo de não ser casado com brasileira. Situa-se, assim, no rol dos estrangeiros que vivendo no Brasil, ou por aqui passando, devem ser expulsos por violar nossas leis ou adotar atitudes inconvenientes. Faz pouco voltou da Itália o padre Vito Miracapilo, expulso nos idos da ditadura castrense por se ter recusado a rezar missa de ação de graças pela passagem de mais um 31 de março.

Isso significa que, se for expulso agora, quem sabe Volcke retornará daqui a 40 anos? Não menos, porque entre ele e Miracapilo a distância é imensa. Um sofreu a discriminação do obscurantismo, outro precisa ser mandado embora porque, além de discriminar o Brasil, está se mostrando o mais obscuro dos nossos visitantes.

O assessor principal da Fifa precisa ser expulso o mais breve possível, apesar de ontem ainda se encontrar entre Brasília, Fortaleza e Salvador, recebido com todas as honras e mordomias. Por quê? Porque na presença do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, fez imposições ao Congresso Nacional e ao governo da República, exigindo que se vote imediatamente a Lei da Copa, de acordo com os interesses da entidade que representa. Usou expressões duvidosas, como “estar na hora de parirmos a lei” ou de que “o bebê tem que nascer imediatamente”.

Suas exigências são inaceitáveis, em especial quando ameaça com o cancelamento da realização da Copa do Mundo de 2014 em nosso território, caso governo e Congresso brasileiros não se curvem às suas determinações. Quais? Violar a lei, acabando com a meia-entrada para estudantes e idosos. Vender bebidas alcoólicas nos estádios, desde que seja a cerveja patrocinadora da Fifa. Estabelecer que nas avenidas e ruas que demandam os estádios se proíba expor e comercializar produtos variados que não os autorizados por sua entidade. Assumir nosso país os ônus e as indenizações de erros praticados pela Fifa durante a realização do certame.

Uma tropa de ocupação não faria melhor do que esse pretenso interventor, se quisesse sufocar nossa soberania e humilhar-nos perante o mundo. Volcke deve ser expulso imediatamente, como jamais deveria ter sido o padre Vito Miracapilo.

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O SEGUNDO A SABER?

Ignora-se o conteúdo da conversa entre o vice-presidente Michel Temer e a presidente Dilma Rousseff, ontem. As indicações são de que ela participou a seu substituto as linhas gerais da reforma ministerial a se verificar nos próximos dias. Pode ser que sim, pode ser que não, mas se Temer já detiver o segredo das mudanças na equipe de governo, será a segunda pessoa. A primeira certamente foi o ex-presidente Lula, em encontro da semana passada.

Os pobres ministros à beira de um ataque de nervos aguardam a palavra do vice-presidente, quem sabe um gesto ou uma expressão facial, ainda que exista a hipótese dele saber tanto eles, ou seja, nada além da substituição de Fernando Haddad por Aloísio Mercadante.

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FALTAM ARTIGOS NO DECRETO

Louve-se o decreto assinado segunda-feira pela presidente Dilma, mudando o rito de licitação de outorgas para rádio e televisão, com mais exigências financeiras e técnicas. A partir de agora ficará mais difícil a políticos, deputados, senadores e seus laranjas obterem emissoras em troca do seu voto e do apoio ao governo no Congresso. Só participarão de licitações caso comprovem capacidade financeira e origem de seus recursos.

Trata-se de um bom começo, mas falta muita coisa. Por exemplo: a obrigação dos pretendentes às concessões em mãos de empresas falidas serem obrigadas a saldar suas dívidas, em especial as trabalhistas. Sem um plano de normalização dos débitos, nem poderiam candidatar-se. E se descumprissem o acordado, perderiam imediatamente a concessão. Numa palavra: são sucessores nos bônus e nos ônus, sem filigranas jurídicos…

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FOGO AMIGO MAS NEM TANTO

Queixou-se o renascido ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, de ter sido alvo de fogo amigo, nas últimas semanas, por conta das denúncias de irregularidades em seu ministério. Não deixa de ser singular esse diagnóstico, já que os amigos, em Pernambuco, parecem estar no Partido Socialista. Quem teria interesse nesse suposto bombardeio que só faria prejudicar os planos do governador Eduardo Campos? Ou está para acontecer o inevitável, ou seja, a declaração de guerra entre o PSB e o PT?

Carlos Chagas
18 de janeiro de 2012

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