"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A OPERAÇÃO HADDAD E A MENTIRA COMO MÉTODO.

Ou: Cadê as 1.95 creches, soberana?
Outro dia recebi um comentário mais ou menos assim: “Reinaldo, você é o ultimo oposicionista do Brasil!” Numa reunião de jornalistas, contam-me, alguém se referiu à oposição, e um desses jornalistas isentos, engajados no governismo, ironizou: “Que oposição? O Reinaldo Azevedo?” e riu satisfeito. Os gracejos - um amistoso, outro hostil - são falsos de várias maneiras, mas refletem o espírito do tempo.

Não sou “de oposição” porque não faço política partidária. Já fui hostilizado por alguns tucanos, por alguns democratas e, obviamente e desde sempre, pelas esquerdas. E mantenho relações cordiais com pessoas de todas essas correntes. Mas, obviamente, não sou da turma do pudê. Meus valores não estão representados nesse governo - todo mundo que me lê sabe disso.

Tampouco sou o único, inclusive da imprensa, a ter um posicionamento crítico em relação ao petismo - na verdade, a governos. Há muito mais gente. “Sempre crítico, não importa o tema?” Não! Contra alguns parceiros liberais, com os quais costumo estar alinhado, defendi, por exemplo, a decisão de baixar os juros - e ainda os considero excessivamente elevados, a despeito de todos os motivos que explicam a taxa.
No caso daquela patuscada de Belo Monte, eu e os petistas de carteirinha estivemos do mesmo lado. Eu nunca me ocupo em saber antes o que os outros pensam para depois dizer o que eu penso. E nem tudo o que não é petismo me interessa. Como sempre digo tudo, lá vai mais uma vez: considero o marinismo mais obscurantista do que o petismo.

Mas acabei me alongando demais nos considerandos introdutórios, hehe - “Diga-me um de seus defeitos, Reinaldo…” E eu diria: “Escrever demais!” Sigamos. Confrontar o que se diz com os fatos não é “fazer oposição”, mas expressar apreço pela verdade.
No post anterior, vemos um Haddad todo ancho, a afirmar: “O governo federal não tinha programa para a educação infantil. Incluímos a creche e pré-escola no Fundeb [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica] e repassamos recursos para investimentos.”

Huuummm… Como é que se conta a verdade inteira? O PT FOI CONTRA A CRIAÇÃO DO FUNDEF, que antecedeu o Fundeb - na verdade, o “b” substituindo o “f” foi mais uma das patranhas petistas.

Resolveram botar marca nova no que já havia. Quem criou o Fundef foi o ministro Paulo Renato, este, sim, um grande ministro da Educação, a despeito da história recontada pela ligeireza de Sérgio Cabral. Grande e perseguido pela escória sindical.

O petismo fez com o Fundef o mesmo que fez com o “Bolsa Família”. O partido era contra as bolsas, chamava-as de “esmola”. Lula o disse LITERALMENTE. Mais: afirmou que pobre que recebia dinheiro do governo deixava de plantar macaxeira, sugerindo que se tornava um vagabundo. Em lugar do programa, inventou um troço que nunca chegou a existir: o “Fome Zero”. Algum tempo depois, dados o insucesso e as trapalhadas da iniciativa, reuniu, por decreto, todas as bolsas criadas pelo governo FHC numa bolsa só: a “Família”. E passou a cacarejar. Como Haddad cacareja agora.

FHC chegou ao poder, em 1995, e a taxa de matrícula no ensino fundamental era de 89%. Quando Lula assumiu, estava perto de 98% - o mesmo índice em que está agora.
No início do governo tucano, havia 33% dos brasileiros de 15 a 17 anos fora da escola; no fim, eram 18% - redução de 15 pontos percentuais (ou 45%). No governo Lula, caiu para 14,8% (redução de apenas 20%).


Uma coisa é assumir a Presidência sem dispor de um instrumento para intervir na educação, ter de criá-lo (enfrentando a oposição de petistas e de seus aliados sindicais) e operá-lo com eficiência, como fez Paulo Renato. Outra, distinta, é chegar com tudo pronto, com o fundo disponível, e poder trabalhar sem ter de enfrentar sabotadores - porque, afinal, os sabotadores passaram a ser poder…

Paulo Renato criou ainda o Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) - a portaria que o instituiu é de dezembro de 1994, mas só começou a existir, de verdade, no governo tucano - e o Exame Nacional de Cursos, depois rebatizado de Enade pelos petistas.

No post abaixo, a gente lê que Sérgio Cabral considera Haddad o melhor ministro da Educação da história do Brasil. Claro, claro… Quando se tem a determinação de puxar o saco de alguém, os fatos contam muito pouco. E eu trato de fatos.

Finalmente, no que diz respeito ao post abaixo, vemos Dilma e Haddad a fazer proselitismo na inauguração de uma creche. Não porque eu seja da oposição (não sou; até porque a oposição não parece ser de oposição, hehe); não porque eu esteja determinado a não reconhecer os méritos dos companheiros (a acusação é tola), mas porque, mais uma vez, estamos diante de fatos.

DILMA PROMETEU, NA CAMPANHA ELEITORAL, CONSTRUIR CINCO MIL CRECHES ATÉ 2014. As metas para 2011, aliás, eram estas:
- 3.288 quadras esportivas em escolas;
- 1.695 creches;
- 723 postos de policiamento comunitário;
- 2.174 Unidades Básicas de Saúde;
- 125 UPAs.


Quantas creches a soberana construiu até agora? Lembro, como arremate, que Lula prometeu erguer um milhão de casas, e Dilma, mais dois milhões. No ritmo de entrega, na conta que fiz em dezembro, a promessa será cumprida daqui a 22 anos…

Encerro
“Pô, Reinaldo, quem tem de dizer essas coisas é o Sérgio Guerra, é o Aécio, é a oposição…” Eu não tenho a menor pretensão de pautar que quer que seja.

Eu sei o que eu tenho a obrigação de dizer.

Por Reinaldo Azevedo

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