"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 27 de março de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

Os cínicos explícitos

Eles amavam os Beatles e adoravam Fidel Castro. Como toda a nossa geração. Os Beatles eram prova de que se podia fazer uma música bela, refinada e popular. Fidel, exemplo de que era possível derrubar uma feroz ditadura e construir uma democracia que desse ao povo justiça social e liberdade, e ao país, independência e desenvolvimento.

Arquiteto mineiro, Leo de Judá Barbosa trabalhava na Petrobras. Demitido e cassado pelo golpe militar de 1964, veio para Londrina, casou-se com Maria Lucia Victor Barbosa, professora de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina.

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FIDEL

Anistiados, continuaram com os mesmos sonhos da juventude e por isso ajudaram Lula a construir o PT. Agora, eles já não chamam mais Fidel de Fidel. São os irmãos Castro. E não chamam Lula de Lula. É Luiz Inácio. Nem Fidel é o mesmo nem Lula é o mesmo. Fidel é um ditador esclerosado. Lula, uma vulgar impostura.

Na Gazeta do Povo, de Curitiba, li em 2010 um indignado, sofrido, valente, verdadeiro e primoroso artigo (“Cinismo explícito”) da socióloga Maria Lucia Barbosa que, como todos nós, um dia amou os Beatles, adorou Fidel e ajudou Lula a fundar o PT.

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LULA

1. “Justamente em 23 de fevereiro de 2010, quando Luiz Inácio aportava eufórico nos braços dos queridíssimos irmãos Castro, um cubano negro, operário, ‘preso de consciência’, de nome Orlando Zapata Tamayo, teve o mau gosto de morrer depois de ter sido torturado nas masmorras cubanas e enfrentado uma greve de fome como meio de pedir condições humanas para os demais encarcerados e liberdade para seu país”.

2. “O martírio de mais um cubano nem de longe poderia incomodar os irmãos Castro, acostumados a esse tipo de morte, para eles insignificante e rotineira. Entretanto, um grupo de dissidentes cubanos que esperavam que Luiz Inácio intercedesse por eles, tendo enviado uma carta nesse sentido ao governo brasileiro, deve ter se desiludido com a indiferença do ‘Cara’, suas esquivas, suas palavras sem nexo. E mais decepcionados ainda devem ter ficado se puderam ver a foto de Luiz Inácio junto aos Castro”.

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MARCO AURÉLIO

3. “A cena, para quem tem um mínimo de sensibilidade e capacidade de indignação, era algo vil, torpe, nauseante. Um show explícito de cinismo do déspota de Cuba irmanado ao salvador da pátria brasileiro. Aviso sinistro para os ingênuos que acreditarem no seletivo Programa de Direitos Humanos elaborado pelo PT, a ser posto em prática pela comissária (Dilma) de Luiz Inácio”.

4. “Luiz Inácio culpou Zapata Tamayo por sua morte. Marco Aurélio Garcia comentou com ares de enfado que violações de direitos humanos há em toda parte. E Raúl Castro, depois de pôr culpa nos Estados Unidos, afirmou: ‘Em meio século não assassinamos ninguém, aqui ninguém foi torturado’”.

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CUBA

5. “Desde 1959, mais de 100 mil cubanos foram presos. Entre 15 mil e 17 mil pessoas foram fuziladas. A Unidade Militar de Apoio à Produção (Umap) funcionou entre 1964 e 1967. Produziu verdadeiros campos de concentração para onde foram levados religiosos católicos (como o arcebispo de Havana, monsenhor Jaime Ortega), protestantes, homossexuais e quaisquer indivíduos considerados ‘potencialmente perigosos para a sociedade’. Maus-tratos, isolamento, subalimentação era o regime dos campos da Umap”.

6. “No violentíssimo regime penitenciário cubano, inclusive, são exploradas as fobias dos detidos. À tortura física se junta a tortura psíquica. As celas não costumam ter água nem eletricidade e o preso que se pretende despersonalizar é mantido em completo isolamento”.

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CABANA

7. “Entre as mais tenebrosas prisões cubanas pode ser citada a de Cabana. Em 1982, cerca de cem prisioneiros foram ali fuzilados. A ‘especialidade’ de Cabana eram as masmorras de dimensões reduzidas chamadas de ‘ratoneras’ (buracos de ratos). Cabana foi desativada em 1985, mas as torturas e execuções prosseguiram em Boniato, prisão de alta segurança onde reina violência sem limites.”

8. “No universo carcerário de Cuba a situação das mulheres não é menos dramática. Mais de 1.100 mulheres foram condenadas por motivos políticos desde 1959. As presas, entregues ao sadismo dos guardas, passam por sessões de espancamento e humilhações de todos os tipos”.

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BANDIDOS

9. “Entrevistado pela Associated Press sobre a existência de mais dissidentes cubanos em greve de fome, sua excelência saiu-se com essa: ‘Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo fizessem greve de fome e pedissem a liberdade’”.

10. “Luiz Inácio concorda com os irmãos Castro no sentido de que presos políticos cubanos são bandidos de alta periculosidade para a sociedade e não defensores da liberdade.”

27 de março de 2012
Sebastião Nery

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