É bom prestar atenção: foi nos idos de 1963 a última vez em que a maioria parlamentar rebelou-se contra o Executivo, rejeitando sistematicamente seus projetos de reformas de base. O então presidente João Goulart exasperou-se e decidiu estabelecer as mudanças por decreto. Deu no que deu.
De lá para cá, nos primeiros 21 anos, o Congresso viu-se prisioneiro da ditadura militar, sendo fechado, posto em recesso, tido seus integrantes cassados e, desde o começo, acomodado à truculência.
Com a Nova República, tendo perdido antes a prática da independência, deputados e senadores readquiriram aos poucos a coragem para afirmar-se. Foi quando o fisiologismo renasceu.
José Sarney trocou sua instável prevalência distribuindo concessões para emissoras de rádio e televisão. E outras. Fernando Collor ainda agora confessou haver desprezado o Legislativo e por isso acabou defenestrado.
Itamar Franco recompôs o diálogo através de um governo quase de união nacional sem ceder a imposições, e Fernando Henrique utilizou todos os métodos para comprar a opinião parlamentar, começando pela própria reeleição.
O Lula seguiu na mesma trilha, sufocando resistências por meio de benesses.
Dilma Rousseff não poderia ter começado de outra forma, ou seja, aceitou governar engessada pelas instruções e determinações do antecessor, mas, com o passar do tempo, verificou ser ela a maior prejudicada pelo condomínio partidário em que se transformou o seu governo.
Seis ministros foram exonerados por acusações de corrupção, um por rebeldia retórica, outros por incompetência. Disposta a mudar o relacionamento com o Congresso, apesar de haver cedido um sem-número de vezes ao modelo que herdou, a presidente imaginou chegada a hora do enfrentamento.
É o que acontece agora, ainda com resultados inconclusos. As chamadas bases de apoio governamental insurgem-se e criam problemas, empenhadas em manter e ampliar feudos na máquina administrativa federal.
Quem quiser que arrisque prognósticos, mas certeza, mesmo, só se tem uma: Dilma não pode repetir as experiências de João Goulart, nem de Fernando Collor. Mas não deve imitar José Sarney, Fernando Henrique e Lula. Resta-lhe seguir o exemplo de Itamar Franco.
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FALTA UM COORDENADOR POLÍTICO
Se não fosse o Código Florestal nem a Lei da Copa, seria outro pretexto, pois a rebelião dos partidos da base do governo, no Congresso, deve-se à frustração das bancadas e das lideranças de não estarem sendo contempladas como desejariam, no preenchimento de cargos e na distribuição de benesses na administração federal. Estivesse a presidente Dilma submissa aos interesses de seus aliados e nenhuma crise existiria.
É claro que em torno do Código Florestal agrupam-se os deputados e senadores ruralistas, fazendeiros e seus acólitos, não querendo perder situações que a lei até agora lhes garante.
Como em torno da Lei da Copa levanta-se a bancada evangélica, crítica não só da venda, mas da existência de bebidas alcoólicas.
O problema é que nem mesmo somados, evangélicos e ruralistas conseguiriam derrotar os projetos. A eles somaram-se os fisiológicos, os magoados com a pouca atenção recebida do palácio do Planalto e os frustrados pela pouca receptividade de suas indicações.
É claro que um pouco de carinho por parte da presidente Dilma romperia parte dessa muralha de papel, mas o fator principal em falta nas prateleiras do governo é um coordenador político de peso, alguém capaz de descobrir soluções de união. Experiência, força e modéstia seriam essenciais para o desempenho dessa função, mas quem?
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ATÉ TU, BRUTUS?
Não bastasse o clima de guerrilha entre Legislativo e Executivo, vem o Judiciário intrometer-se na questão. O Tribunal Superior Eleitoral acaba de manter a multa de 5 mil reais sobre a presidente Dilma, sob a acusação de propaganda eleitoral antecipada na campanha de 2010. O caso é banal: em Manaus, em junho daquele ano, o PT amazonense relacionou na televisão algumas obras do governo Lula superpostas à figura da então candidata Dilma, que na última cena agradecia dizendo ter orgulho de fazer parte da equipe responsável pelas realizações.
Por conta disso a presidente foi considerada culpada, sendo que apenas o ministro Dias Tofolli votou contra a manutenção da multa.
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CORTINA-DE-FUMAÇA
A crise entre o Congresso e o governo está servindo para o adiamento de decisões relativas às eleições municipais de outubro. Os candidatos a prefeito das capitais, em todos os estados, parecem haver refluído em suas pré-campanhas, aguardando definições nacionais de seus respectivos partidos. O que acontece em São Paulo não é fato isolado, pois repete-se em Belo Horizonte, Rio, Porto Alegre e outras cidades fundamentais para os partidos se posicionarem com vistas às eleições gerais de 2014. Depois, virão as lamentações.
23 de março de 2012
Carlos Chagas
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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