"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 22 de abril de 2012

OBRA PRIMA

CRÔNICA

Há dois anos um quadro de Picasso, “No Jardim” foi vendido por cinqüenta milhões de dólares. Agora foi a leilão “Busto de Mulher” nem sei por quanto foi vendido mas o lance mínimo estabelecido era de quatro milhões de dólares.

Fico sabendo que em ambos a musa inspiradora foi sua companheira Dora Maar, quando se uniram tinha somente 29 anos e ele já 65, na época Picasso era o oposto da figura que legou à história, apresentava-se como um senhor gordinho com o cabelo penteado para disfarçar a calvice e vestia-se com terno e gravata; nada a ver com octagenário careca usando uma camisa listada de marinheiro.



A idade nos traz algumas covardias, mas em compensação nos dá outras coragens, e dessas últimas a mais gratificante e a liberdade de dizer-se aquilo que se pensa e de que se não gosta.

Olhei durante décadas o quadro Guernica desse pintor em silêncio, sem ter coragem de dizer aquilo que achava, com o andar de minha idade comecei a dizer que não gostava e hoje tenho a coragem de dizer que o sinto como algo de segunda categoria.

Leio do mais sério crítico de arte italiano da atualidade Vittorio Sgarbi o seguinte: “Se existe uma obra que eu desejaria que jamais fosse executada esta é Guernica (1937) de Pablo Picasso. Todavia trata.-se de uma pintura, por todos reconhecida como uma obra prima, que não passa de um simples cartaz contra os horrores da guerra.”
Com esse estímulo ao meu pensamento sobre tal obra, me tomo de coragem para falar sobre esses quadros que ele pintou inspirando-se na sua jovem amante e concluo, que ele os fez para vingar-se de sua velhice em confronto com a juventude de Dora.
Talvez mais que isso, além da juventude, naquela época ela era economicamente indendente e seu trabalho de fotógrafa a fazia mais famosa que ele na Paris que viviam.

Com esses pensamentos saio de casa para minhas conversas matutinas, encontro um amigo num bar, que havia lido a matéria sobre a leilão do “Busto de Mulher”, conversamos bastante sobre Picasso, sobre as opiniões de Vittorio Sgarbi.

Sentada ao lado de Renzo, esse é o nome de meu amigo, está uma, que para nosso padrão, pode ser considerada jovem, observo que sua mulher está chegando, esta ao ver-nos dá meia volta e nem entra, o caso não lhe passou despercebido e ele diz:

- Tenho que ir.

Fui com ele até seu negócio, sua mulher estava cheia de ciúmes por tê-lo visto com a tal “jovem” e resolveu “lavar a roupa suja” lá mesmo. Renzo teve uma saída no mínimo original:

“Amor você acha que aquela mulher me enfraquece? Ele é mais feia que uma obra prima de Picasso”.

Giulio Sanmartini
22 de abril de 2012

(*) Fotomontagem: Busto de mulher, o quadro e a modelo Dora Maar.

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