Enquanto um vídeo com paisagens naturais, com música instrumental ao fundo, era exibido no retroprojetor de uma sala do diretório municipal do PT de São Paulo, padres católicos, pastores evangélicos, espíritas e um muçulmano realizavam, na noite de segunda-feira, a primeira reunião do "núcleo setorial inter-religioso" do partido, com um objetivo: traçar a estratégia para ajudar a campanha do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) à prefeitura da capital paulista.
"Não adianta trabalhar só nos sindicatos e nas ruas. Tem que fazer a discussão nos locais onde as pessoas têm envolvimento diário, e as igrejas e templo são ideais para isso", discursou o coordenador do setorial inter-religioso estadual, Marcos Cordeiro, que diz articular há 20 anos a criação do núcleo. "Os centros religiosos são já células prontas, minicomitês, que a gente tem que politizar", afirmou.
Sentada em círculo, a plateia, de 13 líderes religiosos filiados do PT concordou. "O Serra conseguiu apoio de setores católicos conservadores, como a Opus Dei e a TFP [Tradição, Família e Propriedade]. Precisamos identificar quem são as lideranças que defendem a justiça social e buscar o apoio delas", defendeu um pré-candidato a vereador e líder espírita da região sul da cidade.
O ex-governador José Serra, pré-candidato do PSDB à prefeitura, foi bastante criticado por, segundo os petistas, tentar reeditar na eleição municipal a "tática reacionária" de instigar o voto religioso contra o PT - em 2010, setores evangélicos conservadores pregaram o voto contra a presidente Dilma Rousseff (PT) com a alegação de que ela iria liberar o aborto e fechar igrejas.
Serra tenta fazer o mesmo nesta eleição com Haddad, avaliaram os petistas na reunião. O candidato é criticado principalmente por evangélicos por causa de um projeto de combate à homofobia feito na época em que foi ministro da Educação. O "kit gay" foi atacado pela bancada evangélica, que obstruiu votações no Congresso e ameaçou convocar ministros para falar de irregularidades. Acuado, o governo desistiu da proposta.
Líder do PT na Câmara Municipal, o vereador Chico Macena afirmou ontem que tem acompanhado as críticas religiosas, mas que não preocupam. "É algo que pode crescer, mas que por enquanto está muito localizado em setores ligados à Record [e a Igreja Universal do Reino de Deus, proprietária da emissora], e a militância do PSDB", analisou. Macena disse que o partido realmente irá procurar líderes religiosos, mas sem querer discutir crenças. "Em todas as campanhas montamos um comitê religioso, mas para debater com eles os problemas e soluções da cidade", afirmou
Na reunião do núcleo inter-religiosos, as lideranças decidiram realizar um ato com pastores evangélicos no dia 9 de junho para apoiar o candidato. "O intuito do kit era muito bom, de não ter preconceito nem segregação. A função do setorial será explicar isso para as igrejas evangélicas", explicou Marcos Cordeiro.
Para Cordeiro, o PT deve retomar as origens nas comunidades eclesiais de base da Igreja Católica. "Temos que politizar os centros religiosos. O [Leonel] Brizola fez isso no seu primeiro mandato no governo do Rio de Janeiro [1983 a 1986] com os CIEPs [Centros Integrados de Educação Pública], que hoje o país inteiro copia. O PT, infelizmente, erra ao não reconhecer a inspiração dos CEUs", discursou, em referência ao Centro Educacional Unificado, vitrine da gestão petista na Prefeitura de São Paulo. (Do Valor Econômico)
coroneLeaks
08 maio de 2012
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