"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 12 de agosto de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

O CABO JOSÉ JOÃO DO PT

Osvaldo Trigueiro, solteiro, governador da Paraíba de 47 a 51, pela UDN (procurador-geral da República depois do golpe de 64 e ministro do Supremo Tribunal de 65 a 75), tinha um ajudante-de-ordens discreto, calado, semianalfabeto, cabo Zé João, que toda manhã lhe levava os jornais.
Era a primeira pessoa que conversava com ele, mal ele acordava. Um dia, o desembargador Braz Baracuí, amigo de infância, o procurou:

- Oswaldo, você precisa tomar uma providência urgente. Há gente importante, muito importante, de dentro de seu gabinete, vendendo promoções, negociando favores, fazendo todo tipo de negócios. Uma hora dessas, a oposição cai em cima de você. É preciso apurar, e logo.

O governador caiu em campo e descobriu. Era o calado, discreto e semianalfabeto cabo Zé João que, toda manhã, entregava os jornais e ia direto às casas dos secretários levar as recomendações reservadas do governador. Cada recomendação virava ato no “Diário Oficial”. E o cabo Zé João faturando.

Waldomiro Diniz era o cabo Zé João do Palácio do Planalto, a bala perdida, que atirava para todo lado.

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PT SAUDAÇÕES

Eleito governador do Ceará pela UDN, o saudoso Virgílio Távora recebeu logo a visita de um chefe político udenista do sertão:
- Governador, como agora estamos no poder, venho reivindicar que a coletoria de Crato permaneça com os meus correligionários. Sempre foi assim.
- Vosmicê me perdoe, mas não pode ser. O secretário da Fazenda, ontem nomeado, é quem manda lá. Ponto final. PT.
Pediu a transferência de professores adversários. Virgílio negou de novo:
- Vosmicê me perdoe novamente. Mas não pode ser. O secretário da Educação é do PSD e onde é que vosmicê já viu Virgílio Távora meter a mão em cumbuca do PSD? Ponto final. PT.
- Escute, governador, que negócio é esse de PT?
- PT quer dizer ponto final, assunto encerrado.
- Pois para mim PT quer dizer PTB, para onde me transfiro agora.

12 de agosto de 2012
Sebastião Nery

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