"DISPOIS" DA PRESIDENTA ELÉTRICA/PATÉTICA E CARA DE PAU TE ENGANAR COM O$ 16% MENOS, UM POUCO DE BRASIL REAL : Consumidor assustado
Nos supermercados, qualquer consumidor tem praticamente o mesmo comentário: "Está tudo caro".
Para trabalhadores com mais de 40 anos, uma simples ida às compras traz à memória um tempo que gostariam de esquecer, mas que ainda os deixa sempre alertas.
Eles temem que o descontrole de preços volte a dominar e com ele cenas impensáveis para gerações mais novas, como fila para comprar carne.
Os especialistas garantem que o Brasil mudou e que a temida hiperinflação foi vencida.
As famílias, contudo, desconfiam e estão inseguras.
As gôndolas são onde estão os principais alvos das reclamações do público, sobretudo em relação à disparada recente dos preços dos alimentos no varejo. A aposentada Maria Dolorídes, 57, teve de descartar um dos dois carrinhos de compras que costumava levar para casa.
Antes, pagava R$ 400 pelos dois, agora, o montante só dá para cobrir um.
"Não dá mais para bancar a lista completa, senão o salário fica todo no caixa do supermercado", reclama.Suco de frutas em caixa e o pacote de cinco quilos de feijão são, segundo Maria, os maiores vilões da atualidade para o seu bolso.
O litro da bebida pulou R$ 2,50 para R$ 4,30
e o do feijão dobrou de R$ 3 para R$ 6.
"Pensei até em levar, mas quando vi as placas desisti. Esse preço é um absurdo", critica.
Sem desconto
Einalda Siqueira reclama da alta de 60% no gasto com salão de beleza
O aposentado Ademar Seixas, 60 anos, reclama do valor cobrado pela mão de obra na troca do filtro de óleo seu carro. Em oficinas de Brasília, o serviço não sai por menos de R$ 220, muito além dos R$ 180 de poucos meses antes."Procuro pechinchar e pesquisar antes de comprar qualquer coisa", revela.Mas conta ainda que o dono da loja negou qualquer desconto. "Tive que pagar porque sem substituir a peça não posso dirigir com segurança, sem contar a perda bem maior que pode vir lá na frente.
"A nova tabela derrubou o movimento na oficina do mecânico Wilson Soares.Pelos seus cálculos, dos 30 clientes que atendia mensalmente, só 10 continuaram.O valor dos itens usados na manutenção dos veículos subiu e foi inevitável que o público pagasse essa conta, lamenta.
"Se não repassar, fico no prejuízo", explica. Para não perder ainda mais clientela, Soares chega a abrir mão de 10% em alguns casos.
"É melhor perder um pouco a ficar sem nada.
"A dona de casa Einalda Siqueira, 64, conta que gastava em média R$ 50 por semana para cuidar dos cabelos e das unhas. Hoje, precisa desembolsar R$ 80."Pode parecer diferença mínima, mas fica enorme na ponta do lápis", observa.
O dono do salão frequentado por Einalda, José Dible Gonçalves, avisa que vai reajustar de novo em outubro os preços para corte de cabelo e alisamento capilar.
O principal argumento do cabelereiro está no custo para manter o estabelecimento de portas abertas. Só o aluguel passou de R$ 2,7 mil para R$ 3 mil no mês passado. Além disso, o peso dos produtos usados tiveram acréscimo de até 30%
."Não há outra solução senão repassar", esclarece.
Para garantir a limpeza do carro, o empresário César Vieira, 42, gasta R$ 30 por vez, o dobro do semestre passado.
"Tenho que fazer mágica para arcar com todas as despesas", brinca. Ele conta que às vezes opta até por uma lavagem mais simples para não apertar tanto o orçamento."Tem ficado cada vez mais complicado enfrentar a alta dos preços", protesta.O gerente do posto onde César costuma lavar o automóvel, Luiz Gomes, não sabe o motivo dos novos valores cobrados."Apenas nos mandaram aumentar o preço", informa.Custo na veia
Os novos custos impostos pela alta da inflação estão assustando até quem ganham a vida como vendedores ambulantes. É o caso do botijão de gás de cinco quilos usado pelos amigos Felipe Lopes, 20, e Ricardo Mendes, 32, para encher os coloridos balões que vendem aos fins de semana.
"Paguei R$ 200 por esse aqui. Desembolsava, há um ano, R$ 120 (um aumento de 66,6%). Por outro lado, o preço de minha mercadoria passou de R$ 7 para R$ 10 (alta de 42,8%). Ou seja: não acompanhou o preço do gás", compara o mais velho."Garanto que boa parte do preço que a gente paga é imposto", lamenta o vendedor mais novo enquanto observa, do outro lado da praça, o carreteiro Luiz Armaneli Filho, de 71. O ramo em que ele trabalha é um dos grandes prejudicados pela inflação.
"O diesel, hoje, está até R$ 2,20. Há um ano, R$ 1,70.Olhe como aumentou. Já o preço do frete não subiu isso tudo. Está cada vez mais defasado e não posso repassar para os clientes. Do contrário, perco a corrida."
Luiz, que na época do lançamento do Plano Real tinha 53 anos, recebe R$ 700 de aposentadoria.
"Mas ela não dá para nada. Preciso continuar trabalhando. Os dias de hoje, sem dúvidas, são melhores do que os da época da inflação (galopante), mas os preços, nos últimos meses, também estão subindo muito", avaliou o homem, amigo do caminhoneiro João de Souza Ferraz, de 62, que ontem estava reclamando do preço das operadoras de telefone."Minha conta veio cara: R$ 214. O preço do serviço é absurdo", criticou o homem, que comprou seu telefone fixo logo depois da privatização do sistema, em 1998.
Ele acredita que a desestatização do serviço beneficiou a população, mas cobra maior empenho do governo na redução dos tributos do setor
."O preço das ligações não param de subir."
Renda limitada pelas dívidas
Além da inflação, o consumo das famílias está sendo muito pressionado pelo avanço rápido do comprometimento da renda dos cidadãos para pagar dívidas, atingindo o maior patamar da história do país.
O percentual dos salários das pessoas físicas e da receita das empresas destinada ao pagamento de empréstimos já se aproxima ao de países em grave crise financeira, como a Itália e a Espanha.
Estudo recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) mostra que 19,9% da renda no Brasil vai para as dívidas, acima até o nível nos Estados Unidos (19,8%).
No fim de 2005, o grau de comprometimento dos passivos sobre os ganhos era aqui de 10,8%, crescendo depois todo ano. A instituição teme que esse percentual possa ser ainda maior, no caso de um processo de elevação da taxa básica de juros no país, atualmente no seu piso histórico de 7,5% ao ano.
ANA CAROLINA DINARDO/PAULO HENRIQUE LOBATO
Correio Braziliense
Para trabalhadores com mais de 40 anos, uma simples ida às compras traz à memória um tempo que gostariam de esquecer, mas que ainda os deixa sempre alertas.
Eles temem que o descontrole de preços volte a dominar e com ele cenas impensáveis para gerações mais novas, como fila para comprar carne.
Os especialistas garantem que o Brasil mudou e que a temida hiperinflação foi vencida.
As famílias, contudo, desconfiam e estão inseguras.
As gôndolas são onde estão os principais alvos das reclamações do público, sobretudo em relação à disparada recente dos preços dos alimentos no varejo. A aposentada Maria Dolorídes, 57, teve de descartar um dos dois carrinhos de compras que costumava levar para casa.
Antes, pagava R$ 400 pelos dois, agora, o montante só dá para cobrir um.
"Não dá mais para bancar a lista completa, senão o salário fica todo no caixa do supermercado", reclama.Suco de frutas em caixa e o pacote de cinco quilos de feijão são, segundo Maria, os maiores vilões da atualidade para o seu bolso.
O litro da bebida pulou R$ 2,50 para R$ 4,30
e o do feijão dobrou de R$ 3 para R$ 6.
"Pensei até em levar, mas quando vi as placas desisti. Esse preço é um absurdo", critica.
Sem desconto
Einalda Siqueira reclama da alta de 60% no gasto com salão de beleza
O aposentado Ademar Seixas, 60 anos, reclama do valor cobrado pela mão de obra na troca do filtro de óleo seu carro. Em oficinas de Brasília, o serviço não sai por menos de R$ 220, muito além dos R$ 180 de poucos meses antes."Procuro pechinchar e pesquisar antes de comprar qualquer coisa", revela.Mas conta ainda que o dono da loja negou qualquer desconto. "Tive que pagar porque sem substituir a peça não posso dirigir com segurança, sem contar a perda bem maior que pode vir lá na frente.
"A nova tabela derrubou o movimento na oficina do mecânico Wilson Soares.Pelos seus cálculos, dos 30 clientes que atendia mensalmente, só 10 continuaram.O valor dos itens usados na manutenção dos veículos subiu e foi inevitável que o público pagasse essa conta, lamenta.
"Se não repassar, fico no prejuízo", explica. Para não perder ainda mais clientela, Soares chega a abrir mão de 10% em alguns casos.
"É melhor perder um pouco a ficar sem nada.
"A dona de casa Einalda Siqueira, 64, conta que gastava em média R$ 50 por semana para cuidar dos cabelos e das unhas. Hoje, precisa desembolsar R$ 80."Pode parecer diferença mínima, mas fica enorme na ponta do lápis", observa.
O dono do salão frequentado por Einalda, José Dible Gonçalves, avisa que vai reajustar de novo em outubro os preços para corte de cabelo e alisamento capilar.
O principal argumento do cabelereiro está no custo para manter o estabelecimento de portas abertas. Só o aluguel passou de R$ 2,7 mil para R$ 3 mil no mês passado. Além disso, o peso dos produtos usados tiveram acréscimo de até 30%
."Não há outra solução senão repassar", esclarece.
Para garantir a limpeza do carro, o empresário César Vieira, 42, gasta R$ 30 por vez, o dobro do semestre passado.
"Tenho que fazer mágica para arcar com todas as despesas", brinca. Ele conta que às vezes opta até por uma lavagem mais simples para não apertar tanto o orçamento."Tem ficado cada vez mais complicado enfrentar a alta dos preços", protesta.O gerente do posto onde César costuma lavar o automóvel, Luiz Gomes, não sabe o motivo dos novos valores cobrados."Apenas nos mandaram aumentar o preço", informa.Custo na veia
Os novos custos impostos pela alta da inflação estão assustando até quem ganham a vida como vendedores ambulantes. É o caso do botijão de gás de cinco quilos usado pelos amigos Felipe Lopes, 20, e Ricardo Mendes, 32, para encher os coloridos balões que vendem aos fins de semana.
"Paguei R$ 200 por esse aqui. Desembolsava, há um ano, R$ 120 (um aumento de 66,6%). Por outro lado, o preço de minha mercadoria passou de R$ 7 para R$ 10 (alta de 42,8%). Ou seja: não acompanhou o preço do gás", compara o mais velho."Garanto que boa parte do preço que a gente paga é imposto", lamenta o vendedor mais novo enquanto observa, do outro lado da praça, o carreteiro Luiz Armaneli Filho, de 71. O ramo em que ele trabalha é um dos grandes prejudicados pela inflação.
"O diesel, hoje, está até R$ 2,20. Há um ano, R$ 1,70.Olhe como aumentou. Já o preço do frete não subiu isso tudo. Está cada vez mais defasado e não posso repassar para os clientes. Do contrário, perco a corrida."
Luiz, que na época do lançamento do Plano Real tinha 53 anos, recebe R$ 700 de aposentadoria.
"Mas ela não dá para nada. Preciso continuar trabalhando. Os dias de hoje, sem dúvidas, são melhores do que os da época da inflação (galopante), mas os preços, nos últimos meses, também estão subindo muito", avaliou o homem, amigo do caminhoneiro João de Souza Ferraz, de 62, que ontem estava reclamando do preço das operadoras de telefone."Minha conta veio cara: R$ 214. O preço do serviço é absurdo", criticou o homem, que comprou seu telefone fixo logo depois da privatização do sistema, em 1998.
Ele acredita que a desestatização do serviço beneficiou a população, mas cobra maior empenho do governo na redução dos tributos do setor
."O preço das ligações não param de subir."
Renda limitada pelas dívidas
Além da inflação, o consumo das famílias está sendo muito pressionado pelo avanço rápido do comprometimento da renda dos cidadãos para pagar dívidas, atingindo o maior patamar da história do país.
O percentual dos salários das pessoas físicas e da receita das empresas destinada ao pagamento de empréstimos já se aproxima ao de países em grave crise financeira, como a Itália e a Espanha.
Estudo recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) mostra que 19,9% da renda no Brasil vai para as dívidas, acima até o nível nos Estados Unidos (19,8%).
No fim de 2005, o grau de comprometimento dos passivos sobre os ganhos era aqui de 10,8%, crescendo depois todo ano. A instituição teme que esse percentual possa ser ainda maior, no caso de um processo de elevação da taxa básica de juros no país, atualmente no seu piso histórico de 7,5% ao ano.
ANA CAROLINA DINARDO/PAULO HENRIQUE LOBATO
Correio Braziliense
09 de setembro de 2012
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