Na próxima vez que "Casablanca", o filme, surgir na sua tela às duas da manhã, fique atento às peripécias de Rick Blaine (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman). Você deve se lembrar. Eles se amaram em Paris. A guerra os separou, mas o destino os reuniu, dois anos depois, em Casablanca -ele, à frente do Rick's, um boteco de luxo; ela, de braço com Victor Laszlo, militante antinazista e, na verdade, seu marido, que ela julgava morto quando namorou Rick.
E, como você também deve se lembrar, é Rick que, no fim do filme, põe Ilsa e Laszlo no avião e lhes permite escapar para os EUA -quando podia ter ido com ela, deixando o marido bolha para trás, entregue aos alemães. Nem todos se conformaram com o altruísmo de Rick -há anos, aqui no Rio, o jornalista João Luiz de Albuquerque produziu um vídeo em que remontou a sequência final, "corrigindo" a história.
Bem, agora, os americanos ameaçam rodar uma continuação de "Casablanca". E, segundo esta, Ilsa não apenas transou com Rick em troca das "cartas de trânsito" para fugir de Casablanca com Laszlo, como viajou grávida dele, Rick! No elegantís-simo filme original, de 1942, a insinuação da transa está num farol fálico que pisca quando os dois se beijam, na véspera da fuga. Nesta refilmagem, Hollywood poderá mostrar os dois pelados na cama, talvez praticando acrobacias.
Sempre se especulou sobre o que teria acontecido a eles no futuro. Em seu livro "Suspeitos" (1985), David Thomson sugere que, em Nova York, Ilsa chutou Laszlo e se tornou modelo do pintor Edward Hopper.
E, para outros, Rick abriu mão de Ilsa porque, no fundo, estava a fim do capitão Louis Renault (Claude Rains). Na última cena, assim que o avião decola, os dois se afastam na bruma do aeroporto, e Rick diz: "Louis, acho que esse é o começo de uma bela amizade".
17 de novembro de 2012
Ruy Castro
Folha de São Paulo
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