Expansão do principal programa de irrigação da região tem seu término previsto só para 2017
SALVADOR, MACEIÓ, RECIFE E TERESINA - A pior seca dos últimos 30 anos já atinge dez milhões de pessoas em 1.317 municípios brasileiros. Os estados mais atingidos pela estiagem são Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, mas há cidades em situação de emergência em todo o Nordeste, segundo o Ministério da Integração Nacional. E o panorama deve piorar. A expectativa é que só volte a chover na maior parte da região em janeiro. Dos cinco estados mais afetados, apenas a Bahia registrou chuvas em novembro.
Ainda assim, o drama da seca deve continuar. O principal programa de irrigação da região, por exemplo, só deve ter sua expansão concluída em 2017, segundo estimativa do diretor de produção do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Laucimar Loyola.
Este ano, emergencialmente, a União destinou R$ 232,6 milhões para bolsa-estiagem; R$ 15 milhões para recuperação de poços; e outros R$ 310 milhões para envio de carros-pipa a fim de atenuar os efeitos da estiagem, que já dura um ano em alguns lugares.
Lavouras perdidas
O Piauí é um dos estados mais atingidos. A seca castiga 200 dos 224 municípios do estado. Um terço da população — mais de um milhão de pessoas — sofre com as consequências da falta de chuvas. Segundo o secretário estadual de Defesa Civil, Ubiraci Carvalho, no semiárido não existe registro de chuva há um ano, e os agricultores perderam 100% das lavouras de feijão, arroz e milho:
— A população está sem água para os animais, e agora o governo teve que prolongar por mais dois meses o seguro-safra, que paga R$ 636, durante seis meses, aos agricultores que perderam toda a sua plantação.
Em Alagoas, a falta de água atinge até os mais ricos: os usineiros. De acordo com o Sindicato dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado (Sindaçúcar), o terceiro mês de safra acumula uma queda de 5% da produção. Levantamento do sindicato aponta redução na safra de cana-de-açúcar pelo terceiro mês consecutivo. As perdas são de 15%, em relação ao mesmo período do ano passado. Os prejuízos, nas contas do Sindaçúcar, estão entre R$ 480 milhões e R$ 600 milhões.
De setembro a outubro, foram produzidas pelas unidades produtoras alagoanas 470 mil toneladas de açúcar e 93.916 milhões de litros de etanol. Os números apresentados representam uma redução em comparação a safra 11/12 de, respectivamente, -17,54% e -31%, disse o sindicato, em nota.
De acordo com o professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Cícero Péricles, apesar de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontar que a seca do Nordeste é a pior dos últimos 50 anos, as obras hidráulicas estão impedindo dois cenários conhecidos: a migração de nordestinos e as frentes de trabalho, para escapar dos efeitos da estiagem:
— A agricultura do sertão nordestino tem uma particularidade. Mesmo em anos chuvosos, trabalha a maior parte do tempo em clima seco, o que determina a necessidade de tecnologias hidráulicas, principalmente, para atender essa população. Na agricultura familiar, temos a cisterna, sistemas de irrigação particulares e a oferta pública de água, como adutoras, canais, barragens subterrâneas. Isso faz com que, em secas como esta, os efeitos sejam minimizados.
Mais da metade das cidades baianas também está em situação de emergência, e quase três milhões de pessoas já foram afetadas. O setor da agropecuária é o que mais enfrenta prejuízos. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária (Faeb), culturas como milho, feijão e mamona tiveram perda total da safra, e 60% dos rebanhos de caprinos e ovinos morreram. Na região produtora do sisal, que envolve cidades como Barra do Choça e Araci, 15 mil postos de trabalho foram fechados.
O governo de Pernambuco classificou a seca como a pior dos últimos 40 anos. Segundo a Coordenadoria de Defesa Civil (Codecipe), 125 das 184 cidades pernambucanas decretaram situação de emergência, sendo 117 reconhecidas pelo governo federal.
— Esta época do ano, era para a gente estar pisando nos cajus — lamenta o produtor João Alves de Lima, que tem uma plantação de dez hectares no sertão pernambucano que, nas safras passadas, chegou a contabilizar duas toneladas da fruta. Este ano, ele não sabe se conseguirá colher dez quilos de caju.
17 de novembro de 2012
Carol Aquino*, Especial para O GLOBO
*Colaboraram Efrem Ribeiro, Gabriela López e Odilon Rios
SALVADOR, MACEIÓ, RECIFE E TERESINA - A pior seca dos últimos 30 anos já atinge dez milhões de pessoas em 1.317 municípios brasileiros. Os estados mais atingidos pela estiagem são Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, mas há cidades em situação de emergência em todo o Nordeste, segundo o Ministério da Integração Nacional. E o panorama deve piorar. A expectativa é que só volte a chover na maior parte da região em janeiro. Dos cinco estados mais afetados, apenas a Bahia registrou chuvas em novembro.
Ainda assim, o drama da seca deve continuar. O principal programa de irrigação da região, por exemplo, só deve ter sua expansão concluída em 2017, segundo estimativa do diretor de produção do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Laucimar Loyola.
Este ano, emergencialmente, a União destinou R$ 232,6 milhões para bolsa-estiagem; R$ 15 milhões para recuperação de poços; e outros R$ 310 milhões para envio de carros-pipa a fim de atenuar os efeitos da estiagem, que já dura um ano em alguns lugares.
Lavouras perdidas
O Piauí é um dos estados mais atingidos. A seca castiga 200 dos 224 municípios do estado. Um terço da população — mais de um milhão de pessoas — sofre com as consequências da falta de chuvas. Segundo o secretário estadual de Defesa Civil, Ubiraci Carvalho, no semiárido não existe registro de chuva há um ano, e os agricultores perderam 100% das lavouras de feijão, arroz e milho:
— A população está sem água para os animais, e agora o governo teve que prolongar por mais dois meses o seguro-safra, que paga R$ 636, durante seis meses, aos agricultores que perderam toda a sua plantação.
Em Alagoas, a falta de água atinge até os mais ricos: os usineiros. De acordo com o Sindicato dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado (Sindaçúcar), o terceiro mês de safra acumula uma queda de 5% da produção. Levantamento do sindicato aponta redução na safra de cana-de-açúcar pelo terceiro mês consecutivo. As perdas são de 15%, em relação ao mesmo período do ano passado. Os prejuízos, nas contas do Sindaçúcar, estão entre R$ 480 milhões e R$ 600 milhões.
De setembro a outubro, foram produzidas pelas unidades produtoras alagoanas 470 mil toneladas de açúcar e 93.916 milhões de litros de etanol. Os números apresentados representam uma redução em comparação a safra 11/12 de, respectivamente, -17,54% e -31%, disse o sindicato, em nota.
De acordo com o professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Cícero Péricles, apesar de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontar que a seca do Nordeste é a pior dos últimos 50 anos, as obras hidráulicas estão impedindo dois cenários conhecidos: a migração de nordestinos e as frentes de trabalho, para escapar dos efeitos da estiagem:
— A agricultura do sertão nordestino tem uma particularidade. Mesmo em anos chuvosos, trabalha a maior parte do tempo em clima seco, o que determina a necessidade de tecnologias hidráulicas, principalmente, para atender essa população. Na agricultura familiar, temos a cisterna, sistemas de irrigação particulares e a oferta pública de água, como adutoras, canais, barragens subterrâneas. Isso faz com que, em secas como esta, os efeitos sejam minimizados.
Mais da metade das cidades baianas também está em situação de emergência, e quase três milhões de pessoas já foram afetadas. O setor da agropecuária é o que mais enfrenta prejuízos. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária (Faeb), culturas como milho, feijão e mamona tiveram perda total da safra, e 60% dos rebanhos de caprinos e ovinos morreram. Na região produtora do sisal, que envolve cidades como Barra do Choça e Araci, 15 mil postos de trabalho foram fechados.
O governo de Pernambuco classificou a seca como a pior dos últimos 40 anos. Segundo a Coordenadoria de Defesa Civil (Codecipe), 125 das 184 cidades pernambucanas decretaram situação de emergência, sendo 117 reconhecidas pelo governo federal.
— Esta época do ano, era para a gente estar pisando nos cajus — lamenta o produtor João Alves de Lima, que tem uma plantação de dez hectares no sertão pernambucano que, nas safras passadas, chegou a contabilizar duas toneladas da fruta. Este ano, ele não sabe se conseguirá colher dez quilos de caju.
17 de novembro de 2012
Carol Aquino*, Especial para O GLOBO
*Colaboraram Efrem Ribeiro, Gabriela López e Odilon Rios
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