Em Vancouver, em Pender St, passando a Abbot St., começa China Town. No meio do primeiro quarteirão, fica um pequeno restaurante chinês especializado em Dim-Sum. Lugar simples, quase imperceptível, escondido entre lojas para turistas. Local improvável para conversas sérias.
Mas foi ali que, faz alguns anos, um dia me convidaram para almoçar. Foi naquele lugar improvável, entre um prato e outro de comida chinesa, que me explicaram a relação entre internet e direitos humanos.
Hoje em dia, a internet é considerada um serviço universal. Ou seja, um serviço ao qual todos têm direito a acessar livremente, com qualidade razoável e preço acessível. Sem a internet, não é possível existir na sociedade moderna. Sem internet, a gente não é.
A internet transformou a maneira como as pessoas buscam informações, obtém noticias, conduzem negócios, socializam, e interagem com entidades públicas e privadas. Na internet, é possível manifestar opiniões, trocar ideias e acessar informações.
Com um simples clique, abre-se uma janela para o mundo. Ou, melhor dizendo, abrem-se janelas infinitas para mundos ilimitados. A internet é hoje o grande instrumento de exercício dos direitos de livre expressão e acesso à informação. Por isto, as políticas públicas no mundo têm se preocupado cada vez mais em garantir acesso à internet, liberdade de expressão e disponibilidade de informação.
Por isto também, é comum a tentativa de manipular informações na rede de maneira a interferir com a capacidade de informação do cidadão.
Segundo relatório da Freedom House, uma das formas mais adotadas de manipulação das informações envolve a utilização de exércitos virtuais cujo objetivo é o ataque aos opositores. É o cangaço digital.
O cangaço digital desinforma e confunde. Ataca e desacredita. Baixa a qualidade do debate. Torna menos eficiente o acesso à informação. Exige do cidadão o julgamento criterioso de cada pedaço de informação que encontra.
Em tempos de cangaço digital, agir criticamente é condição necessária (mas não única) para a cidadania.
Afinal, as informações e manifestações dos cangaceiros digitais têm o mesmo valor, mas infelizmente sem as mesmas qualidades nutritivas, das mensagens dos biscoitos da sorte chineses.
07 de janeiro de 2013
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).
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