Cada vez que alguém discorre sobre a estratégia gramsciana, fica muito claro que é no campo da cultura, do comportamento, dos hábitos...enfim do próprio pensamento, que se trava a batalha pelo controle da sociedade. Pouco se aborda, ao meu ver, aqueles aspectos que dizem respeito ao mecanismo de persuasão utilizado.
Ninguém duvida da eficácia dos ataques contra a ideia de Deus, da família e da heterossexualidade... Todos sabemos do apelo fanático à defesa do meio ambiente, mas pergunte-se: Por que funcionam tão bem? Aí a resposta começa a ficar mais difícil... Nesse pequeno artigo vou sustentar que a natureza emocional do discurso, o apelo à modernidade, e o eterno medo nacional de uma espécie de dissincronia com o primeiro mundo são as bases psicológicas da Revolução Cultural no Brasil.
Talvez o que exista de mais importante a dizer no início seja o seguinte – toda natureza “moralista” do discurso revolucionário constitui em si mesma uma tremenda falsidade. Já sabemos que, segundo a teoria marxista clássica, a moral é simples resultado das relações de produção e é cômico assistir um comunista acusar um empresário de ser imoral nas suas atividades pois o tal “comunista” estaria empregando valores que ele mesmo busca destruir enquanto “burgueses”.
Nesse sentido, eu diria que esse tipo de contradição não existe em Gramsci – não podemos acusá-lo tão facilmente de contradizer-se da mesma forma que os marxistas ortodoxos. É no apelo à “educação” e a “liberdade” que sua pedagogia destrói qualquer valor clássico sem propor tão abertamente uma nova ordem política.
Suas palavras tocaram profundamente os corações e mentes de uma Itália rural cuja recente unificação não lhe conferia ainda unidade cultural alguma. Presa entre o latifúndio e o fascismo, desconfiada do comunismo bolchevique e distante do anarquismo espanhol a Itália, berço do Renascimento, foi o ambiente ideal para “revolução dentro da revolução”.
Depois de Gramsci, o comunismo nunca mais foi o mesmo e revestiu-se de uma sutileza, de um apelo intelectual tão elaborado, e de uma conexão tão forte com a pedagogia que não há, ao meu ver, em todo século XX, pensamento capaz de lhe oferecer resistência. Esse apelo à “integração com o mundo”, com uma “educação libertária” e com a a “democratização da cultura” funciona perfeitamente até hoje encantando os estudantes da área da Educação na Universidade Brasileira que depois vão integrar a rede pública de professores.
No Brasil, some-se a isso que escrevi acima, uma espécie de “distúrbio do estresse pós-traumático” coletivo, entidade que não existe, mas que invento aqui para justificar esse medo desesperado de “repetir 64”, de apresentar-se como conservador, reacionário e finalmente tornar-se perante si mesmo e as crianças das escolas brasileiras, um representante da Inquisição no nosso país.
Dia após dia, em nome da “modernidade”...da “não repressão ao estudante”...da “democracia na sala de aula” permite-se a destruição lenta, mas contínua, dos valores mais simples que uma família de brasileiros pobres ainda possa tentar transmitir a seus filhos. As crianças apreendem que rezar antes das aulas pode ofender “coleguinhas” que não são daquela religião, são forçadas a lidar com temas como o homossexualismo quando ainda sequer completaram a descoberta da própria sexualidade, e precisam esquecer rapidamente a ideia do Brasil como nação para que entendam a “raça humana”' como uma só.
Sem que lhes seja dito com toda franqueza, os alunos são expostos a uma quantidade de informações cuja quantidade e o número de temas impossibilitam qualquer reflexão e que tem como objetivo gerar esta sensação de “estar em sintonia com o mundo”...de não ter “ficado pra trás” ou de estar “preso àquilo que já passou”... Essa distorção da percepção do tempo faz com que sua importância seja subestimada e obriga o aluno a aceitar o mais novo como sinônimo do mais verdadeiro.
Faz-se uma tábula rasa da experiência prévia ao mesmo tempo (desculpem o trocadilho) em que não se tem tempo para uma experiência própria original. Incapaz de ser compartilhado, de ser “curtido”, ou enviado por e-mail nada daquilo que eu vi, que me contaram ou que aprendi sozinho pode ser verdade. Preso entre a “casa dos pais que quer (e precisa) deixar” e a escola que não lhe oferece coisa alguma, o adolescente brasileiro é um soldado sozinho – vai ser mais uma baixa na Batalha pela Cultura.
05 de agosto de 2013
Milton Simon Pires é Médico - CREMERS 20958.
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