É o capital privado que faz a roda da economia girar mais depressa ou mais devagar. O governo da presidente Dilma Rousseff chega muitas vezes a essa conclusão -mas nunca antes de esgotar e experimentar todas as outras opções.
A privatização de aeroportos, tal como cogitada em 2007, quando Dilma era ministra do governo Lula, acabou implantada parcialmente cinco anos depois, após idas e vindas. Mas a presidente não gostou do resultado, que entregou os terminais de Guarulhos, Brasília e Campinas a consórcios menores.
O processo para outros aeroportos foi adiado, a pretexto de buscar novo formato, com a estatal Infraero como sócia majoritária. Como ninguém no mercado quis pôr dinheiro na aventura, voltou-se atrás -todo um ano desperdiçado.
Eis apenas um exemplo na série de ações e reviravoltas da gestão Dilma, que se acumulam num mosaico incoerente de medidas para reanimar a economia. O que no início parecia disposição ao pragmatismo se reveste agora de falta de estratégia e baixa capacidade técnica da equipe econômica.
O governo federal acertou ao reduzir os juros e o custo do crédito no país. Caminhou também no sentido correto, embora tenha empregado meios estabanados, na intenção de baixar a conta de energia. Quando partiu para uma roleta-russa de incentivos setoriais e intervenções pontuais, Dilma também pareceu improvisar.
Além da cacofonia entre as medidas, o governo solapa a previsibilidade das regras do jogo, convencido de que do seu ativismo brotaria a retomada econômica. Qual será, nos próximos meses, o preço do combustível, o teor de etanol na gasolina, o imposto recolhido para trazer dólares ao país?
Ninguém sabe. O governo pode, sem aviso, alterar esses e outros parâmetros que interferem diretamente na tomada de decisões de longo prazo dos agentes privados. Quem vai investir num ambiente em contínua metamorfose?
Tal é o preço a pagar por uma gestão que minou e cooptou as agências reguladoras, entregues ao aparelhamento e à corrupção. Perdeu-se a noção de que é o conjunto das instituições nacionais, reformadas e atualizadas, o maior fiador da agilidade e da estabilidade nos negócios, bem como da confiança dos empreendedores.
Por falta de investimentos do setor privado, derivada do lapso de confiança no país, o Brasil cresce menos e se distancia da meta de tornar-se uma nação de renda alta em prazo palpável. A soberba intervencionista do Planalto só tem feito ampliar essa desconfiança.
16 de dezembro de 2012
Editorial da Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário