Se é consenso que a educação brasileira está no cadafalso, a autora de livros didáticos com melhor avaliação do MEC demonstra o tamanho do problema.
A blogueira progressista Maria Fro publicou um texto de Idelber Avelar em seu blog, esquecendo-se de creditar-lhe a fonte. Idelber Avelar é uma espécie de blogueiro progressista solo, um progressista que não faz parte da Grande Turminha do Dinheiro Público. Avelar não gostou, respondeu em público e a quizumba começou.
Nós adoramos ver dois progressistas, esse novo nome para a velha roupagem comunista, brigando por direito de propriedade. Melhor do que isso, só feminista defendendo Mano Brown e Netinho de Paula.
A discussão que se seguiu foi meio chata e sem emoções. Foi um pouco como a revanche de Chael Sonnen contra Anderson Silva: muita falação por fora, e bocejativa dentro do octógono.
Nós já zoamos os dois por aqui. Maria Fro é aquela blogueira que acha que não dar dinheiro público para ela defender o governo é “censura” por “asfixia financeira”.É da blogosfera flanelinha. Idelber Avelar já é o blogueiro que tem até umas críticas lá a Mahmoud Ahmadinejad, mas considera que quem não gosta dele é a “República Morumbi-Leblon com seus gritinhos histéricos”. Tutti buona gente.
Mas o que chamou a atenção foi que Maria Fro, no afã de explicar que não fez nada errado por motivos de: “Não sei o que ocorreu, mas no recorta e cola não foi a assinatura do Idelber e eu não percebi isso, mas…” (sic), e lembrando que “E ele sabe que não sou plagiadora, portanto, ele faz isso de má-fé”, resolveu falar “a linguagem que Idelber Avelar entende”, presenteando a humanidade com o seguinte parágrafo:
QUESTÃO DO ENEM: Coloque o texto acima nos conformes da gramática normativa nazi-fascista do PSDB.
Vamos abrir o Boteco da Gramática Normativa e analisar o que a professora auto-gabante de seu trabalho tem a dizer.
“Sou a única autora de livros didáticos que teve avaliação ÓTIMA (GUIA PNLD2008) em todos os critérios de avaliação do MEC desde quando o MEC avalia coleções didáticas.” (grifos do original) Fro, foram os livros ou foi você que o MEC avaliou? Os livros, né? Então, os livros não tiveram avaliação “ÓTIMA” (assim, em caixa alta e negrito), e sim “ótimo”, né? O avaliador não disse que o livro é “ÓTIMA”, e sim que é “ótimo”. Poderia dizer “ótima avaliação”, mas aí seria apenas um adjetivo, e não uma nota, colocada como substantivo. Ou quando a nota da prova é 2, a nota por extenso é “duas”?!
Mas peraí, você foi autora de livros, né? Isso aí se chama “plural”. Então, você é única autora de livros didáticos que tiveram avaliação ÓTIMO (ou BOM, REGULAR, MEIA BOCA, DÁ PRA USAR COMO SEDA, MUITO RUIM, PÉSSIMO) em todos os critérios.
Isso para não falar em figuras de estilo bem pouco recomendáveis, como “avaliação do MEC desde quando o MEC avalia“.
Convenhamos, é quase tão feio quanto eu acordando.
O arrazoado prossegue com “Tenho dois prêmios jabuti e até 2008 (não cheguei nos anos seguintes era a única autora do seguimento a acumulá-los na área) Portanto”, o que nos permite afirmar:
1) que nome próprio tem inicial maiúscula, para não correr o risco de a moça ganhar um prêmio nobel alguma hora;
2) que não sabemos o que essa conjunção aditiva “e” está fazendo antes de 2008 (o que ela adicionou, se não teve novos “prêmios” depois?);
3) que esse parêntese inteiro não faz o menor sentido;
4) que a palavra “segmento” se escreve com g mudo (Fro, sério, presta atenção, sério, “seguimento” assim é uma parada do verbo “seguir”, não do verbo “segmentar”);
5) que se a referência é a um tempo anterior a 2008, seria muito mais sensato, abusando um pouco do eufemismo, usar o tempo passado composto, já que pretérito-mais-que-perfeito está fora de moda (“tê-los acumulado”);
6) que frases terminam com um ponto final, antes de meter uma inicial maiúscula na próxima frase;
7) que não deu pra entender nada e, last but not least,
8) que, Fro, sério, esse texto está tão ruim que se colocarem minha assinatura embaixo vão acreditar que é meu.
O massacre prossegue com “não preciso plagiar nada de ninguém, mas se não tivesse nada que abonasse meu trabalho fora da blogosfera, tenho duas décadas de internet”, fazendo de Maria Fro a única pessoa no Brasil a ter internet desde 1993, mostrando que a internet é uma longa vida fora da “blogosfera”. E nossa mãe mandando a gente desligar o computador e viver um pouco.
E, cara Fro, reparou como ficaria “melhor”, ou seja, mais entendível por uns mongos como eu, seguir aquelas regrinhas chatas, fascistas, elitistas, excludentes e neoliberais que nos mandam autoritariamente a separar com víruglas os apostos das orações?
Olha só: “tenho colegas de escrita que acompanho e me acompanham há mais de 16 anos na rede VÍRGULA como Alexandre Inagaki ou Nálu Nogueira VÍRGULA com os quais até hoje temos trocas frequentes VÍRGULA, mas também recomendaríamos uma escolha menos poética de palavras para o que você acabou de falar que são testemunhas do tempo que ando pela rede produzindo conteúdo sem precisar plagiar ninguém.” Ficou da hora, fala a verdade.
Isso tudo em 01 parágrafo, minha gente. Um único parágrafo!
Poderíamos acreditar que é apenas algo feito nas coxas, o que qualquer um faz e publica cheio de erros na internet (ninguém está mais acostumado com isso do que nós, para usar um plural majestático bem disfarçador de responsabilidades).
Mas, vamos ser honestos, este aí é o texto de uma autora de livros de “avaliação ÓTIMA” pelo MEC? Será que é tão difícil assim entender por que nossa Educação está no estado em que está?
Será que não seria mais um motivo de vergonha do que de júbilo usar esses argumentos, ainda mais não para fazer a ensinança das crianças, ainda mais no seguimento (sic) da internet, onde tu te tornas eternamente responsável pelas porcarias que escreves?
Poderíamos até pagar o tributo de nossa malevolência e atribuir os pequenos erros de Maria Fro à pressa que sentimentos ao obtemperar alguém que nos acusa de algo que não cometemos, ou cometemos por engano, porque o Ctrl C + Ctrl V sumiu com a assinatura do autor do texto (quem nunca?). Mas será que é mesmo um caso isolado, e não um modus operandi que parece até ter alguma explicação para inventar essas teses insanas de “preconceito lingüístico” para justificar o quanto exige do leitor em entendimento do inentendível, dificultando sua compreensão ao exigir que ele compreenda tanto a mensagem quanto decifre na tentativa-e-erro um código específico a cada nova mensagem cifrada?
Fiquemos apenas com essas imagens à guisa de tentativa de esclarecimento.
Ah, falando em propriedade intelectual, esta divertidíssima compilação foi-nos gentilmente cedida pelo hilário Tumblr Gênios Petistas. Só falta alguém avisar os caras disso.
06 de maio de 2013
implicante
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