"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

DILMA ROUSSEFF E SUA VASSOURA: OS GUISOS FALSOS DA ALEGRIA?

Não falo por mim,porque minhas expectativas eram mesmo baixas. Mas confesso que fiquei impressionado, nestes primeiros 8 meses de governo, ao ver tanta gente passando de uma atitude indiferente para outra bem positiva.

E não sem razão, porque algumas indicações benfazejas de fato começaram a surgir.

A primeira, se me lembro bem, foi uma entrevista ao Washington Post. Ali, dizendo umas verdades ao governo do Irã, ela passou a impressão de estar começando uma guinada na política externa. Era bom demais para ser verdade, mas eu lhe dei o benefício da dúvida. Imaginei que a entrevista trazia embutido um aviso para outros governos contumazes em violar os direitos humanos. Cuba, por exemplo, deveria botar as barbas no molho.

Conversa vai, conversa vem, ela começou a construir uma representação de si mesma muito melhor que aquela oferecida ao distinto público no período eleitoral do ano passado. Uma proporção elevada dos cidadãos percebeu o que estava acontecendo e começou a simpatizar com a nova imagem. Por razões variadas, é claro. Alguns apreciam o fato de ela falar pouco, ou seja, seu jeito “sóbrio”. Outros acreditam que ela diz ou faz certas coisas de caso pensado para manter o Lula à distância – e gostam disso.

Mas o grande hit – aqui eu vou chover um pouco no molhado - foi evidentemente o combate à corrupção, que ela parecia estar assumindo como quem assume uma missão, ou como quem parte para uma cruzada. Neste aspecto é que a super-Dilma começou a se configurar. “Gerontona”? Quem falou em gerontona? Gerontona lembra beque de roça, jogador especializado em caneladas.

Não, a figura que começou a se delinear foi a de um jogador, não direi completo, muito menos um craque, mas um atleta promissor, talvez até já credor de certo reconhecimento. Uma presidente com sensibilidade para os reclamos éticos do país, por um lado, e capaz de imaginar o Estado como uma entidade impessoal, por outro. Uma coisa pública, indisponível para apropriação privada.
Dito assim pode parecer pouco, mas isto aqui é o Brasil, não nos esqueçamos.

Eu fiquei um pouco cabreiro, me permitam dizê-lo, por duas razões. Primeiro, a presidente obviamente não refletiu sobre a corrupção. Nada sugere que ela tenha pensado no assunto com a devida antecedência, que tenha se debruçado sobre ele e bolado uma estratégia de combate. O que ela fez foi reagir a situações que foram se apresentando. A imprensa publicava que alguma coisa esquisita estaria se passando no ministério tal ou qual. Ela pedia explicações; o indigitado tentava explicar e se enrolava totalmente; ela, como não podia deixar de ser, indicava-lhe o caminho da rua. Melhor isto do que nada, mas meu ponto é outro. O que estou dizendo é que ela se comportou de modo reativo, não em razão de uma atitude amadurecida, ou de um plano de ação.

Minha outra razão: quando começaram a falar em “faxina”, eu logo me dei conta de que essa metáfora tinha precedente em nossa vida política: “varre, varre, vassourinha…”: lembram-se?

Ele mesmo: o homem da vassoura. Eleito com uma votação recorde, o Dr. Jânio Quadros assumiu a presidência com uma estranha obsessão. Entre todas as matérias que aguardavam providências, ele parecia selecionar aquelas que fatalmente o levariam a uma situação de isolamento político. Encasquetou de se meter em todos os vespeiros da república.

Dessa doença, a Dra. Dilma não parece padecer. Seus últimos gestos foram calculados para acalmar – acho que este verbo cai bem aqui – o PT e o PMDB. Quer dizer, louca, ela até pode parecer, mas rasgar dinheiro ela não rasga.

Bolívar Lamounier

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