"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de setembro de 2011

A PRESIDENTE-TAMPÃO


Em 2014, Luiz Inácio Lula da Silva será candidato à Presidência da República e ponto. O plano foi e é esse desde que a idéia de tri-eleição naufragou.

De tão evidentes, as provas disso não deixam lacunas para tergiversar. Da invenção de Dilma Rousseff à governança paralela que Lula insiste em manter. Da arrumação dos palanques municipais para as eleições do próximo ano às extemporâneas declarações do próprio Lula e de seus escudeiros, como as do ministro Gilberto Carvalho, de que Dilma disputará um segundo mandato.

Não há hipótese. Será Lula. E sempre foi.

Se a economia e o embate político não são de todo previsíveis, o raciocínio etário é cartesiano. Nas eleições de 2014, Lula terá 69 anos. Se vencer, poderá ser reeleito aos 73 anos. Se deixar Dilma disputar em 2014, terá maior dificuldade para emplacar dois mandatos consecutivos, já que em 2022 estará com 77 anos.

Não que a idade impeça uma eleição. Mas impõe desvantagens, especialmente quando há lideranças jovens e ambiciosas, a exemplo do governador do Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), nascido em 1965, ou Aécio Neves (PSDB-MG), de 1960, só para falar de nomes que já estão na roda. A idade também tem sido usada entre os adeptos do tucano José Serra, que, em 2014, terá 72 anos. Seria a sua última chance, argumentam.

Em dezembro de 2007, quando o Senado derrubou a CPMF, desobedecendo ao presidente para obedecer aos reclames do país, Lula enterrou de vez o sonho do terceiro mandato contínuo. A derrota ali deixou claro que ele não conseguiria obter 3/5 do Congresso para aprovar a re-reeleição.

Esconjurou os senadores, desatinou ainda mais em cada palanque e moldou a candidata ideal, que jamais lhe faria sombra.

Sua afilhada foi e continua sendo a perfeição. Nem mesmo o vai e vem no que pensa e diz atrapalham o figurino que Lula imaginou para ela. Afinal, é alguém que não pode ser inodora, muito menos cheirosa. Não pode ser medíocre, muito menos brilhante.

Dilma é exatamente isso. Pode ser brava, mas não é nem cheirosa, nem inodora, nem medíocre, nem brilhante.

Portanto, não há por que se espantar com suas idas e vindas. Ora ela fará – e verá que avançou demais, como na marqueteira “faxina ética” -, ora deixará de fazer. Ora defenderá ajuste nas contas, ora mandará gastar, como mostrou na peça orçamentária enviada ao Congresso dois dias depois de anunciar aperto nos cintos. É assim que Dilma foi desenhada para ser. Ela sempre soube como seria. Quando foi candidata, e agora, na Presidência.

Já Lula, esse é um caso único de quem prepara a rentrée sem jamais ter saído.



Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa,

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