Dias atrás o José Eustáquio Diniz Alves publicou em sua coluna Demografia do portal O Pensador Selvagem, uma resenha do livro do economista indiano Arvind Subramanian, que aponta para um eclipse do poder do Ocidente e o domínio econômico da China. Este domínio é diagnosticado pelo economista com base em três aspectos: tamanho do PIB, tamanho do comércio (importações e exportações) e tamanho das reservas.
Eclipse: o Ocidente na sombra da dominação econômica da China
Segundo o economista, na resenha acima, a China já se consolidou como poder dominante, repetindo o mesmo fenômeno que aconteceu no início do século XX, quando houve uma transição do domínio britânico para o domínio norte-americano.
Eu discordo bastante deste diagnóstico, e acho que o caso é mais parecido com a ascenção do Japão nos anos 1970. Chegaram a prever os EUA de joelhos diante da economia japonesa, que mostrava aparente vigor.
As diferenças entre a ascenção chinesa de agora e a norte-americana do início do século XX são enormes, e medir o poder de um país por PIB, comércio e reservas está próximo daquilo que o Luis Nassif chama apropriadamente de “cabeças de planilha” – para ridicularizar os economistas que não enxergam além dos dados econômicos brutos.
Só para pontuar algumas diferenças, visto que eu não teria tempo nem cacife para desenvolver mais o assunto:
A Inglaterra se consolidou como potência a partir da Revolução Industrial, e se tornou o que Hobsbawm chamou de “usina do mundo”. No início do século XIX a produção industrial inglesa superava a soma de todos os demais países do globo, o que diz muito sobre o tamanho da diferença tecnológica que surgia.
Os ingleses construíram um império global, do qual costumava se dizer que sobre ele o sol nunca se punha. Incluía possessões na América, África, Ásia e Oceania, sem falar na Irlanda, ali do lado.
Os EUA superaram a Inglaterra por muitos motivos.
Primeiro, se aproveitaram de conflitos religiosos europeus, e atraíram um grande volume de imigrantes de vários matizes culturais e religiosos. Isso garantiu uma composição populacional diversificada e dinâmica, que se tornou a grande riqueza dos EUA.
Depois houve uma disputa interna em que saíram vitoriosos os protecionistas, que achavam que os EUA deveriam privilegiar sua indústria e seu mercado interno, e não continuar como meros exportadores de algodão para tecelões ingleses. Eles tiveram inclusive uma Guerra Civil por causa disso.
Quando os EUA já eram uma potência industrial, especialmente por ter inventado o tal mercado de consumo de massas, eles ainda contaram com o conflito entre as potências européias, que se destruíram e arrasaram mutuamente no período 1914-1945.
A liderança industrial dos EUA pode ser demonstrada em três produtos seus que dominaram o mundo do século XX: o automóvel, que Ford transformou num objeto de consumo massivo, o cinema de Holywood, pelo qual os pobres podiam pagar em centavos, e a música popular vendida em disco, transmitida pelo rádio ou compondo o som dos filmes cinematográficos.
Para resumir a história, os EUA construíram sua liderança à medida em que todos querem ser americanos: vestir blue jeans e T-sheart, comer fast food, ouvir rock ou pop, e assistir cinema holiudiano.
Pergunte por aí quantos estão sonhando em se vestir ou pensar como chineses, ou emigrar para a China, e teremos uma medida de quão chinês poderá ser o mundo do século XXI.
Outra coisa interessante é que os chineses não têm a vitalidade política que fez a liderança dos EUA. De modo que os EUA continuam liderando em quesitos como gestão, criatividade e mercado de consumo. É certo que politicamente não é uma coisa simples, mas não é impossível que os EUA decidam parar de terceirizar sua indústria para os chineses. Caso isso ocorresse, ficaria evidente que a liderança econômica da China é um castelo de papel.
by andreegg. 04/10/2011
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A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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