Romy Schneider, Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor
“Não sei nada sobre a vida, mas sei tudo de cinema”, escreveu Romy Schneider numa carta à amiga Simone Signoret pouco antes de morrer, com a assinatura “Sua triste Romy”. Na semana passada, visitei a mais completa exposição sobre sua vida e carreira, no Museu dos Anos 30, nos arredores de Paris. Ela lembra, magistralmente, os 30 anos da morte dessa lindíssima atriz austríaca, que marcou gerações ao interpretar três vezes a imperatriz Sissi nos românticos filmes de Ernst Marischka durante os anos 50. E Romy passou a vida toda tentando se livrar da imagem de Sissi. “Não sou legal nem doce”, avisou ao declinar do convite para estrelar o quarto filme da saga.
No desespero de exorcizar Sissi de uma vez por todas, Romy chocou o mundo ao participar do longa “Senhoritas de Uniforme”, que contava a história de um amor lésbico de uma aluna por uma professora. Mas, foi no mesmo ano de 1958, nos bastidores de “Christine”, que um encontro mudaria a vida de Romy completamente: com o belíssimo ator Alain Delon, que a apresentou à paixão avassaladora e ao diretor Luchino Visconti.
Luchino enxergou em Sissi a mulher extremamente sexy que ela era e a catapultou à fama internacional no excelente filme “Boccaccio 70”. Daí foi um pulo para a atriz trabalhar com Orson Welles, Costa−Gravas, Otto Preminger e Claude Sautet, os grandes do cinema europeu. Detalhe: por Visconti, Romy aceitou voltar ao papel de Sissi, no sombrio “Ludwig”, sobre a relação da imperatriz com seu primo, o louco rei Ludwig II da Baviera.
Era uma atriz talentosíssima, mas uma mulher insegura, eternamente infeliz na procura de um grande amor. Em 1965, ela pensou encontrá-lo na figura do diretor e cenógrafo alemão Harry Meyen, que lhe deu o primeiro filho, David. A união durou 10 anos, tempo em que Romy descobriu que não lhe adiantava buscar em homens de personalidade e temperamento fortes o príncipe consorte de sua vida — até o fim, ela se comportou como Sissi, independente, autoritária e voluntariosa. Não causou espanto, portanto, que seu segundo marido tenha sido um secretário particular, Daniel Biasini, pai de sua filha, Sarah, hoje também atriz.
O suicídio de Harry, a morte de David (aos 14 anos, perfurados pelas grades de um portão que ele tentou pular) e o divórcio de Daniel foram duros golpes para a atriz, que mergulhou na bebida e no isolamento. No dia 29 de maio de 1982, os amigos receberam, sem surpresa, a notícia fatídica: Romy morrera em seu apartamento em Paris, por conta de uma mistura de bebida e remédios para dormir. Todo mundo pensou em suicídio, mas um laudo atestou que a causa mortis foi um enfarto fulminante, possibilidade que não exclui a outra.
Ao mesmo tempo, um filme acaba de estrear nos Estados Unidos com outra personagem tão linda quanto frágil: Marilyn Monroe. “Minha Semana com Marilyn”, baseia-se no livro de Colin Clark, que passou uma semana com a atriz em 1956, enquanto ela filmava na Inglaterra a comédia romântica O Príncipe Encantado. Trata-se de um delicioso – e patético — relato da experiência de conviver com uma deusa, e de se apaixonar por ela, perigo dos perigos.
Marilyn era desarmada, delicada, hipersensível, disponível, quase um bibelô. Mas também exigente, tirana, desconhecia os limites entre as personagens voluptuosas que encarnava nos sets e a realidade.
Quando se casou, aos 16 anos, com o filho de um vizinho, Jim Dougherty, o amor não sobreviveu à explosão de sua famosa foto nua num calendário e à sedução de Hollywood, que cai aos seus pés. Em 1954, ela se casou com o ídolo-mor do esporte americano, o jogador de baseball Joe di Maggio, com quem só ficou por nove meses. Dois anos depois, seria a vez de Arthur Miller, uma união surpreendente, do intelectual com a vedete. Cinco anos durante os quais ela tentou ser uma boa esposa, mas foi vencida por abortos espontâneos, tentativas de suicídio e problemas existenciais. Miller, por fim, desistiu dela.
O furacão então caiu de amores pelo presidente norte-americano John Kennedy. Para ele, um affair que supria a vaidade de um conquistador nato; para ela, possibilidade de acertar sua vida sentimental. Ela não parava de telefonar para a Casa Branca, se desesperava, se oferecia numa bandeja de prata; ele fugia. Até que, em maio de 1962, Marilyn resolveu escancarar para o mundo a paixão que a consumia, cantando “Happy Birthday, Mr. Presidente” naquele vestido quase desnudo, costurado em seu corpo. Quase três meses depois, a atriz foi encontrada morta, num cenário até “perfeito” demais para uma suicida.
Para completar esse triunvirato de mulheres impactantes do século XX revisitadas de maneiras diferentes, começa nesta semana em Nova York o leilão das joias, vestidos e objetos de arte de Elizabeth Taylor.
Tive a oportunidade de conferir a exposição das peças, que, a seu modo, contam um pouco da trajetória de desventuras amorosas da mulher que se casou oito vezes.
Cada pedra, cada peça de roupa, cada quadro, cada móvel espelham momentos de grandes alegrias e grandes frustrações da diva. Mas, ao contrário de Romy e Marylin, Liz era uma guerreira, uma fênix, que ressurgia das cinzas ao menor sinal de que o fim estava próximo.
Com o primeiro marido, o milionário Nicky Hilton, ficou casada nove meses, o tempo de verificar que ele nutria uma paixão maior do que ela, a bebida. Depois veio Michael Wilding, 20 anos mais velho e pai de seus dois filhos, Michael e Christopher. Em 57, Liz se casou com o produtor Michael Todd, pai de Liza, o primeiro a presenteá-la com joias significativas. A união prometia, mas ele morreu num acidente de avião. Seguiu-se Eddie Fischer, que ela roubou da melhor amiga, a atriz Debbie Reynolds, mas que deixou assim que se apaixonou pelo ator Richard Burton, no set de “Cleópatra”. Burton foi o grande amor de sua vida, um amor regado a bebida, diamantes e brigas homéricas. Eles se separaram em 74, mas se casaram de novo em 76, para depois Burton anunciar que estava apaixonado por outra mulher. Liz jamais se recobrou.
Para causar ciúmes em Burton, ela decide se casar com um homem completamente diferente dele, o caretésimo senador John Warner. A infelicidade do casal ficou patente na primeira internação da atriz na clínica de reabilitação Betty Ford, aliás, a primeira internação pública de uma celebridade.
Por fim, em 91, numa outra internação, Liz conhece o último marido, Larry Fortensky, com quem se casa no rancho do melhor amigo, Michael Jackson. Ela tinha quatro filhos, dez netos e quatro bisnetos quando morreu, em março deste ano. Parte do dinheiro arrecadado com o leilão irá para entidades de combate à Aids, uma causa que Liz abraçou com toda força.
Romy, Marilyn e Liz passaram a vida tentando encontrar o verdadeiro amor, a despeito da fama descomunal. Todas atravessaram processos dolorosos que as marcaram indelevelmente, mergulhando-as numa espécie de labirinto de decepções, que retroalimentavam a frustração de não estar à altura de um romance como o dos filmes que protagonizavam. Mas, ao contrário das primeiras, Liz não vivia de alimentar a nostalgia dos romances estraçalhados — ela se dedicava a encontrar o próximo.
E foi nos braços de homens e mulheres anônimos, marginalizados pela sociedade, vítimas de uma doença tão cruel como incompreendida, que Elizabeth Taylor transformou o mito em que se aprisionou num bem coletivo. O que teria sido dos pacientes de HIV nos anos 80 se Liz não tivesse usado sua imensa popularidade para combater o preconceito?
“Quando um homem me deseja, me sinto segura”, disse Marylin certa vez. Sentirmo-nos desejados, de fato, nos mantém vivos e pulsantes, mas não há nada tão fugaz ou tão indomável quanto o desejo.
Nas tramas do coração, seja você celebridade ou não, a segurança é uma ilusão. O que talvez fique, nos encontros e nos desencontros do amor, não é a necessidade de que alguém nos faça felizes o tempo todo, mas o gesto contrário, a generosidade de se empenhar em fazer alguém feliz, um marido, um filho, um vizinho, um doente que sequer conhecemos.
E, para encerrar, fico com outra frase de Marilyn, numa carta encontrada depois de sua morte endereçada a Joe Di Maggio: “Caro Joe, se eu tivesse ao menos conseguido fazê-lo feliz, teria conseguido a coisa mais bonita e difícil do mundo: fazer uma pessoa feliz”.
BRUNO ASTUTO
11 de dezembro de 2011
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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