"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 15 de janeiro de 2012

REPÚBLICA DE CALAMARES

'Pai' da Cracolândia tenta botar ordem no caos.

Com experiência de quem viveu 20 anos sob o rígido código dos presidiários, Ronaldo avocou para si a missão de tentar disciplinar a Cracolândia

Foto: Francio Holanda

'Pai' da Cracolândia tenta botar ordem no caos. Com experiência de quem viveu 20 anos sob o rígido código dos presidiários, Ronaldo avocou para si a missão de tentar disciplinar a Cracolândia

'Pai' da Cracolândia tenta botar ordem no caosCom experiência de quem viveu 20 anos sob o rígido código dos presidiários, Ronaldo avocou para si a missão de tentar disciplinar a Cracolândia

PAI DA CRACOLÂNDIA

Isso aqui é um lugar tão esquecido que nem o PCC vem para cá”, disse o pernambucano Ronaldo da Silva, 53 anos, enquanto lançava um olhar abrangente sobre a esquina das ruas Helvétia e Barão de Piracicaba, na Cracolândia. “Aqui eu sou a disciplina”.

Mestre de obras aposentado, ex-presidiário sobrevivente do massacre do Carandiru, Ronaldo é conhecido pelo nome de batismo por pouca gente. Na Cracolândia, ele é chamado de Pai.

“Pai, quer comprar?”, ofereceu um rapaz der aproximadamente 20 anos, mostrando várias pedras de crack na mão. “Pai, tem pedra?”, perguntou outro. “Pai, desculpa por aquele dia. Eu tinha tomado muita cachaça”, explica uma moça.

Com experiência de quem viveu 20 anos sob o rígido código moral dos presidiários, Ronaldo avocou para si a missão de tentar estabelecer um mínimo de ordem no caos da Cracolândia.


Do alto da autoridade e respeito conquistados ao longo de quatro anos ele distribuiu afagos e reprimendas, arbitra disputas por drogas ou dinheiro, aconselha em casos de desavenças conjugais, orienta os demais usuários sobre direitos frente à truculência policial e também sobre os riscos do roubo e do tráfico, estimula a solidariedade, exerce a política da boa vizinhança com moradores e comerciantes, encaminha pedidos de empregos e internações.

“Já tirei um monte de gente deste lugar. Tem uns meninos e meninas que não tem nada a ver com a droga e acabam aqui por equívoco ou por brigas familiares”, explicou. “Agora, se neguinho folgar, meto a mão na cara de qualquer um”.

“Ele é o nosso pai. É o único que debate. É um conselheiro”, resumiu Jailton Mota Santos, companheiro de Ronaldo desde os primórdios da Cracolândia.
RODAPÉ - Se a primeira-mulher-presidenta da República quisesse mesmo acabar com o crack, e cumprir a promessa feita em palanque antes de pegar o lugar de Luiz Erário da Silva no Palácio do Planalto, bastaria trocar Ideli Salvatti por Ronaldo da Silva. Ninguém melhor do que ele - ainda mais que é da família Silva - para ministro das Relações Institucionais do governo Dilma. O diabo é que sua nomeação pode ser impugnada por nepotismo. Mas aí, o Sarney se junta com Bezerra Coelho e dá um jeito.

A reportagem é de Ricardo Galhardo, do portal iG, São Paulo. O rodapé é aqui do Sanatório da Notícia.

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