O uso abusivo de cartões corporativos por magistrados, para despesas elevadas que não têm a ver com a rotina do Judiciário, será o próximo escândalo a ser revelado em um dos maiores Tribunais de Justiça do Brasil. Se o caso vier mesmo à tona terá de ser investigado com o justo e perfeito rigor. O problema é: quem se beneficiou do esquema terá condições morais para julgá-lo com isenção?
O cenário ainda é imprevisível e instável. O escândalo tem tudo para ser mais um que acabará escondido debaixo da toga. O certo é que se torna urgente investigar a comprovação de denúncias de venda de sentenças e enriquecimento ilícito de magistrados. Embora seja remota a hipótese, podemos até assistir a um inédito corte forçado da própria carne no Judiciário. A pressão por Justiça de Verdade é crescente.
A Ordem dos Advogados do Brasil já pediu ao Tribunal Regional do Trabalho no Rio a identificação do servidor público que movimentou R$ 282 milhões no distante ano de 2002, quando a petralhada ainda não havia tomado o poder, na maior operação considerada atípica pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o órgão de inteligência do Ministério da Fazenda. Outra movimentação esquisita foi de R$ 116,5 milhões nos TJs de São Paulo e da Bahia, em 2008. No total, entre os anos 2000 e 2010, o COAF registrou R$ 855milhões em movimentações atípicas no Judiciário.
A OAB federal, no próximo dia 31 de janeiro, em Brasília, vai realizar um ato público em defesa dos poderes do Conselho Nacional de Justiça. O grande porta-voz desta defesa será o ex-ministro da Defesa do Brasil. Membro da elite do PMDB, o advogado Nelson Jobim voltará ao cenário político pegando carona na defesa do CNJ. Aproveitará para surfar na onda de que foi o único dos ministros que deixou o governo Dilma porque quis – e não porque foi atingido pelo tsunami de corrupção.
Jobim ensaia um voo mais alto. Se vão deixar ele decolar são outros quinhentos. Ele espera contar com o apoio dos militares. Aliás, na Defesa, Jobim até ensaiou uns ataques contra os adversários ideológicos das legiões. Defendeu a Lei de Anistia, na interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal, e fez algumas críticas veladas ao risco de a Comissão de Verdade cometer abusos contra a classe fardada. Jobim também foi o pai da questionável Estratégia Nacional de Defesa – a END – cujos fins dividem os militares.
Aliás, mesmo contrariando os regulamentos, sempre que pôde, Jobim vestiu a farda de “Genérico” para, simbolicamente, se identificar como o “chefe dos combatentes”. Jobim parece estar plantando ventos para colher algo de bom na hora da tempestade institucional que se avizinha. Como tem articulações no Judiciário, no meio militar e no mercado financeiro, Jobim já tenta se credenciar como candidato a qualquer coisa. Gosta de poder, quer o poder e conta até com apoio de fora do Brasil para avançar.
Enquanto o Judiciário arde em conflitos, que podem sobrar para os demais poderes, o governo Dilma tem duas preocupações imediatas. Internamente, a reforminha ministerial – na qual a turma de Lula e Dirceu deseja manter seu espaço, enquanto Dilma espera emplacar nomes mais tecnoburocratas em seu sonho de independência. Externamente,todas as atenções se voltam para a crise da economia européia que pode afetar o Brasil caso os problemas também sobrem para os lados da China e dos Estados Unidos.
Por trás da crise econômica se esconde a realidade percebida por poucos. O Brasil é a jóia da coroa. Investimentos em nosso País podem ser a saída mais rápida e segura para os problemas globalitários. Por isso, ao Poder Real Mundial interessa um modelo de gestão para o Brasil bem diferente do atual – dominado pelo crime organizado. Esta parece ser a fonte verdadeira de tantas denúncias que atingem o âmago dos três poderes. Fabrica-se um vácuo institucional para um rearranjo urgente. O plano vai dar certo? Quem puder esperar vai saber...
Voltando aos azares infernais da conjuntura, sexta-feira 13 passada, o Senado suspendeu os trabalhos e dispensou os servidores para uma dedetização e desratização. As secretarias que passaram pelo tratamento ficam próximas à Presidência da Casa e às lideranças do PSDB e do PMDB. A caça aos roedores do Senado tornou-se urgente, depois que uma servidora da Secretaria-Geral da Mesa foi mordida no pé, por um rato, na quarta-feira passada. Agora, o que todo mundo quer saber é: as ratazanas do Senado estão mesmo com os dias contados? E, nos outros poderes, também haverá desratização?
Tudo é possível. O esquema de Poder Real Mundial, que prefere atuar no subterrâneo, também joga com simbologias. A imagem da presidenta Dilma Rousseff com a impressão de ter uma espada atravessada em seu corpo, durante cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras em Resende (RJ), rendeu um renomado prêmio internacional. O Repórter-fotográfico Wilton Junior, que trabalha na sucursal Rio do jornal O Estado de S.Paulo, venceu o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha, na categoria Fotografia.
Qual o significado de uma entidade ligada ao Poder Real Mundial premiar uma foto que conota a fragilidade de poder da Dilma? Será que a famosa Espada de Dâmocles vai entrar em operação no Brasil?
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
Jorge Serrão
ALERTA TOTAL
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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